"Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana."
(Teilhard
de Chardin [1881 - 1955], teólogo, filósofo e paleontólogo francês)
Discordar da afirmação de Teilhard de Chardin e "achar"
que "somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual", eis, no
meu entender, uma forte candidata a ser considerada a ilusão primária da
pretensa espécie inteligente do universo. Dito isto, passemos a algumas
reflexões provocadas pelo excelente texto de Clemice Petter.
"Gostamos de pensar que somos grandes e que sabemos. É a vaidade que nos cega; em vez de começar com o primeiro passo pensamos que podemos saltar até o último; em vez de começar a caminhar, pensamos que podemos começar com a chegada. Mas não existem atalhos ou milagres que possam nos fazer entender o mecanismo do nosso criador de ilusões, dessa máquina de pensar chamada mente. Isso pode parecer possível – afinal, a mente é perita em enganar.", diz Clemice Petter.
E ao "pensar que sabemos" jogamos fora a
oportunidade de aprendermos. A postagem publicada em 29 de agosto de 2012 (faz
tempo, hein!) tem um título bastante instigante: A importância de buscar: não saber é formidável (I). Sim,
a mente é perita em enganar, e, curiosamente,
a postagem que antecede Transcendendo as ilusões é intitulada Será que a vida é uma enganação?
"A mente é uma ferramenta cega destinada a ser usada pela inteligência. O problema é que os seres humanos transformaram uma ferramenta cega no rei supremo – um rei cego, adorado por ignorância. A ilusão de que existe inteligência na mente é criada pela falsa impressão de que, pelo fato de termos desenvolvido muita tecnologia, somos inteligentes. Mas tecnologia é basicamente o conhecimento do processo mecânico das coisas, enquanto a inteligência está muito além do mecânico.", diz Clemice Petter.
"A falsa
impressão de que, pelo fato de termos desenvolvido muita tecnologia, somos
inteligentes.", diz Clemice Petter. Ah... essa tal de tecnologia! Na mais
recente (e não na última) segunda-feira, quando esta postagem já estava delineada,
eis que deparo com algo que levou-me não só a alterá-la tremendamente, mas
também a torná-la apenas uma parte de uma maior quantidade de reflexões. Ao
assistir a edição do programa Papo de Segunda
em que a participante convidada é a atriz Vitória Strada, ouvi algumas coisas
que, no meu entender, não deveriam deixar de ser citadas em uma postagem que
toca no tema tecnologia. As palavras reproduzidas nos dois próximos parágrafos
são de Francisco Bosco, 45 anos, filósofo, ensaísta e escritor brasileiro.
"A Vitória falou coisas que me trazem a seguinte pergunta: Será que a gente deve considerar que a emergência de qualquer fenômeno novo, qualquer nova tecnologia deve ser acatada por nós? Será que você recusar alguma nova possibilidade tecnológica é sinal de velhice? Não pode ser sinal de crítica; não pode ser sinal de opção existencial?""Eu acho Fábio, que tem muitos mundos no mundo, e que a tecnologia é o registro que dominou a vida contemporânea... já faz um certo tempo. E a tecnologia é muito arrogante porque justamente ela não permite a opção de você não participar daquilo, sem que você... não se sinta um velho. A tecnologia faz parecer que o único jogo possível é o jogo que ela joga!"
Os dois próximos parágrafos reproduzem as palavras da
jovem atriz (25 anos) que provocaram as de Francisco Bosco. Após definir metaverso como "aquele universo
virtual em que você põe uns óculos e se reúne com os avatares de outras pessoas"
e exibir um vídeo em que Martha Gabriel (futurista, escritora e palestrante em
6 TEDx [sic]) faz a propaganda do metaverso,
Fábio Porchat (condutor do programa) faz a Vitória Strada a seguinte
pergunta: "Te passa essa sensação também de que o mundo está caminhando
mais rápido do que você consegue alcançar?". Pergunta que Vitória Strada
responde assim:
"Eu acho que o mundo está indo pra um lugar... mais doentio. Eu acho que eu nasci... na década errada. Porque eu fico pensando a quantidade de gente com ansiedade que já tem hoje em dia. Quando eu vejo esses anúncios assim eu já fico mais apavorada ainda, porque isso gera uma ansiedade bizarra. A gente estava falando da necessidade que a gente tem de estar on line, de estar postando. Daqui a pouco a gente vai ter que estar com a necessidade de não só ir ao evento presencial como ir ao evento on line, no metaverso; estar presente com os amigos, com a família, no metaverso. E isso já me gera, só de estar falando aqui, eu já estou aqui, oh! E aqui que eu não estou dando conta... da minha terapia, vou ter que dar conta de todos esses eventos, de todas essas versões de mim mesma que eu tenho que estar presente. Isso é... exaustivo.""Eu sinto uma coisa. Parece que eu estou sempre tentando alcançar uma coisa que eu não consigo que é... o mundo está me fazendo estar presente em muitos lugares quando eu estou no momento... tentando me conhecer que é uma coisa eu comigo mesma, aqui agora. Quanto mais a gente vai pra esses universos paralelos a gente perde a oportunidade de se conhecer e estar em contato com a gente mesmo, e com as pessoas que estão aqui. A gente perde o simples... o básico. A gente perde cada vez mais o que é real. E eu me sinto uma louca. E estou eu aqui: - O que é real? Vamos ter o real!"
"Quanto mais a gente vai pra esses universos
paralelos a gente perde a oportunidade de se conhecer e estar em contato com a
gente mesmo, e com as pessoas que estão aqui. A gente perde o simples... o
básico. A gente perde cada vez mais o que é real.", diz a jovem e interessante
atriz, levantando a bola para Francisco Bosco cortar e os dois "bagunçarem"
inteiramente a postagem que eu delineara.
"Eu acho Fábio, que tem muitos mundos no mundo. A tecnologia faz parecer que o único jogo possível é o jogo que ela joga!",
diz Francisco Bosco, após fazer as seguintes indagações: "Será que a gente
deve considerar que a emergência de qualquer fenômeno novo, qualquer nova
tecnologia deve ser acatada por nós? Será que você recusar alguma nova
possibilidade tecnológica é sinal de velhice? Não pode ser sinal de crítica;
não pode ser sinal de opção existencial?"
Será que
"acatar (com nenhum questionamento) qualquer nova tecnologia" pode
ser considerada uma ilusão? Ilusão de que, algum dia, a tecnologia (que segundo
Clemice Petter, "é basicamente o conhecimento do processo mecânico das
coisas") será capaz de solucionar nossas intrincadas questões
existenciais? E ao falar em "algum dia e em tecnologia" me vem à
cabeça a seguinte afirmação de Albert Einstein: "Temo o dia em que a
tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o mundo terá uma geração de
idiotas".
Considerando
o que dizem Clemice Petter, Vitória Strada, Francisco Bosco e Einstein, será
que faz sentido refletir sobre os "será" extraídos da linda canção da
Legião Urbana e reproduzidos a
seguir?
"Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer? Será que vamos ter que responder pelos erros a mais, eu e você?"
Será que
faz sentido refletir também sobre as afirmações feitas na referida canção e reproduzidas
no próximo parágrafo?
"Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação. Serão noites inteiras talvez por medo da escuridão. Ficaremos acordados imaginando alguma solução pra que essa nossa tecnologia não destrua o nosso planetão.
Não, a última afirmação do
parágrafo imediatamente acima não foi obtida diretamente na canção da Legião Urbana, e sim usando o método mutatis mutandis na seguinte afirmação: "Ficaremos
acordados imaginando alguma solução pra que esse nosso egoísmo não destrua o
nosso coração."
Nossa! Uma postagem que se
propõe a espalhar reflexões provocadas por "Transcendendo as ilusões"
inteiramente tomada pelo tema tecnologia! Será que, além de outros, a próxima ainda
tocará nesse tema? Será que conseguirei publicá-la na próxima quinta-feira?
Afinal, de hoje até lá mais um Papo de Segunda
deverá acontecer, e não sei quem dele participará. A intenção era ter publicado esta no dia de ontem.
Continua na próxima quinta-feira
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