sexta-feira, 17 de junho de 2022

Transcendendo as ilusões (final)

Continuação de segunda-feira
A chave da prisão
Não existe saída desta prisão autoimposta na qual os seres humanos vivem. O autoconhecimento é a chave, e isso foi esclarecido por Blavatsky no prefácio de A Voz do Silêncio: "O Livro dos Preceitos Áureos – alguns dos quais são pré-budistas, ao passo que outros pertencem a uma época posterior – contém uns noventa pequenos tratados distintos. Destes aprendi de cor, há muitos anos, trinta e nove. Para traduzir os outros, teria que recorrer a apontamentos dispersos entre um número de papéis e notas, acumulados em vinte anos e nunca postos em ordem, demasiado grande para que a tarefa fosse fácil. Nem poderiam eles ser, todos, traduzidos e dados a um mundo demasiadamente egoísta e aprisionado aos objetos dos sentidos, para que pudesse estar preparado a receber, com a devida atitude do espírito, uma moral tão elevada. Porque, a não ser que um homem se entregue perseverante ao cultivo do autoconhecimento, ele jamais dará, de bom grado, ouvidos a conselhos de tal natureza." [itálico acrescentado]
Aqueles que estão estudando A Voz do Silêncio entendem que o autoconhecimento é o início, é o primeiro passo. Sem ele a pessoa é cega e surda em questões espirituais. Portanto, é totalmente inútil continuar lendo livros se não queremos assumir uma jornada interior que revelará as ilusões projetadas pela mente.
Muitos dizem que ir além da ilusão é apenas para poucos, que não é para todos; seria melhor dizer que é para aqueles que são sérios, para aqueles interessados na verdade, não importa o que aconteça. É para aqueles que não mais estão encantados com a doce canção das ilusões despertadas pelo desejo de conforto, seja físico ou psicológico. Assim, a verdadeira dificuldade nesta questão é de quanto a pessoa está disposta a abrir mão, o quanto está disposta a considerar, a penetrar dentro de si mesma. Os Instrutores disseram que o "eu" é a ilusão primária. Intelectualmente sabemos disso, mas não conseguimos entender ou ver. Não conseguimos entender que esse "eu" seja criação da mente, e, enquanto não entendermos os modos e meios da mente, não conseguiremos ver as ilusões que são os seus subprodutos.
A mente é uma ferramenta cega destinada a ser usada pela inteligência. O problema é que os seres humanos transformaram uma ferramenta cega no rei supremo – um rei cego, adorado por ignorância. A ilusão de que existe inteligência na mente é criada pela falsa impressão de que, pelo fato de termos desenvolvido muita tecnologia, somos inteligentes. Mas tecnologia é basicamente o conhecimento do processo mecânico das coisas, enquanto a inteligência está muito além do mecânico.
Para a inteligência se concretizar é preciso desenvolver a mente e o coração; inteligência significa amor, compaixão e responsabilidade. Responsabilidade no sentido de poder responder – e para isso precisamos primeiramente ser capazes de ouvir. Para ouvir precisamos ser sensíveis; portanto, para a inteligência se concretizar, precisamos trabalhar muito. Não é uma tarefa fácil para uma mente preguiçosa, uma mente que foi colocada para dormir pelas crenças. A mente mecânica, sem a luz da inteligência, está propensa a criar cada vez mais miséria, como atualmente está acontecendo no mundo.
A ilusão da separatividade, que nos dividiu em eu e você, meus país e seu país, é o que está destruindo a casa em que vivemos – a Terra. O poder dessa ilusão é tal que nos torna incapazes de ver que estamos destruindo o próprio ambiente no qual estamos nos desenvolvendo. Nos últimos cinquenta anos, em nome do que orgulhosamente chamamos de progresso, destruímos o meio ambiente com uma velocidade inacreditável. Pensamos que somos inteligentes e civilizados, mas a realidade mostra o contrário; somos bárbaros, como éramos há dois mil anos ou mais. Temos que mudar agora, não no futuro, porque o comportamento humano tornou-se uma ameaça à vida no planeta.
"A ilusão da separatividade, que nos dividiu em eu e você, meus país e seu país, é o que está destruindo a casa em que vivemos – a Terra. O poder dessa ilusão é tal que nos torna incapazes de ver que estamos destruindo o próprio ambiente no qual estamos nos desenvolvendo."
Para transformar a sociedade, precisamos transformar a nós mesmos; isso é muito óbvio. Não podemos ter uma sociedade diferente com o mesmo tipo de mentalidade que criou essa desordem. Para trazer ordem ao mundo precisamos trazê-la a nós mesmos. Pensar que podemos ajudar a humanidade a se livrar dos pensamentos, sentimentos e comportamentos desordenados e conflitantes é a mesma coisa que pensar que podemos limpar uma casa com um pano sujo e uma água suja.
Ir além da ilusão é por fim ao "eu", o local de origem de toda a miséria e degeneração humana.
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Nossa! Que texto provocador de reflexões!

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