Continuação de segunda-feira
A chave da prisão
Não existe saída desta prisão autoimposta na qual os
seres humanos vivem. O autoconhecimento é a chave, e isso foi esclarecido por
Blavatsky no prefácio de A Voz do
Silêncio: "O Livro dos Preceitos Áureos – alguns dos quais são
pré-budistas, ao passo que outros pertencem a uma época posterior – contém uns
noventa pequenos tratados distintos. Destes aprendi de cor, há muitos anos,
trinta e nove. Para traduzir os outros, teria que recorrer a apontamentos dispersos
entre um número de papéis e notas, acumulados em vinte anos e nunca postos em
ordem, demasiado grande para que a tarefa fosse fácil. Nem poderiam eles ser,
todos, traduzidos e dados a um mundo demasiadamente egoísta e aprisionado aos
objetos dos sentidos, para que pudesse estar preparado a receber, com a devida
atitude do espírito, uma moral tão elevada. Porque,
a não ser que um homem se entregue perseverante ao cultivo do autoconhecimento,
ele jamais dará, de bom grado, ouvidos a conselhos de tal natureza." [itálico acrescentado]
Aqueles que estão estudando A Voz do Silêncio entendem que o autoconhecimento é o início, é o
primeiro passo. Sem ele a pessoa é cega e surda em questões espirituais.
Portanto, é totalmente inútil continuar lendo livros se não queremos assumir
uma jornada interior que revelará as ilusões projetadas pela mente.
Muitos dizem que ir além da ilusão é apenas para poucos,
que não é para todos; seria melhor dizer que é para aqueles que são sérios,
para aqueles interessados na verdade, não importa o que aconteça. É para
aqueles que não mais estão encantados com a doce canção das ilusões despertadas
pelo desejo de conforto, seja físico ou psicológico. Assim, a verdadeira
dificuldade nesta questão é de quanto a pessoa está disposta a abrir mão, o
quanto está disposta a considerar, a penetrar dentro de si mesma. Os
Instrutores disseram que o "eu" é a ilusão primária. Intelectualmente
sabemos disso, mas não conseguimos entender ou ver. Não conseguimos entender
que esse "eu" seja criação da mente, e, enquanto não entendermos os
modos e meios da mente, não conseguiremos ver as ilusões que são os seus
subprodutos.
A mente é uma ferramenta cega destinada a ser usada pela
inteligência. O problema é que os seres humanos transformaram uma ferramenta
cega no rei supremo – um rei cego, adorado por ignorância. A ilusão de que
existe inteligência na mente é criada pela falsa impressão de que, pelo fato de
termos desenvolvido muita tecnologia, somos inteligentes. Mas tecnologia é
basicamente o conhecimento do processo mecânico das coisas, enquanto a
inteligência está muito além do mecânico.
Para a inteligência se concretizar é preciso desenvolver
a mente e o coração; inteligência significa amor, compaixão e responsabilidade.
Responsabilidade no sentido de poder responder – e para isso precisamos
primeiramente ser capazes de ouvir. Para ouvir precisamos ser sensíveis;
portanto, para a inteligência se concretizar, precisamos trabalhar muito. Não é
uma tarefa fácil para uma mente preguiçosa, uma mente que foi colocada para
dormir pelas crenças. A mente mecânica, sem a luz da inteligência, está
propensa a criar cada vez mais miséria, como atualmente está acontecendo no
mundo.
A ilusão da separatividade, que nos dividiu em eu e você,
meus país e seu país, é o que está destruindo a casa em que vivemos – a Terra.
O poder dessa ilusão é tal que nos torna incapazes de ver que estamos
destruindo o próprio ambiente no qual estamos nos desenvolvendo. Nos últimos
cinquenta anos, em nome do que orgulhosamente chamamos de progresso, destruímos
o meio ambiente com uma velocidade inacreditável. Pensamos que somos
inteligentes e civilizados, mas a realidade mostra o contrário; somos bárbaros,
como éramos há dois mil anos ou mais. Temos que mudar agora, não no futuro,
porque o comportamento humano tornou-se uma ameaça à vida no planeta.
"A ilusão da
separatividade, que nos dividiu em eu e você, meus país e seu país, é o que
está destruindo a casa em que vivemos – a Terra. O poder dessa ilusão é tal que
nos torna incapazes de ver que estamos destruindo o próprio ambiente no qual
estamos nos desenvolvendo."
Para transformar a sociedade, precisamos transformar a
nós mesmos; isso é muito óbvio. Não podemos ter uma sociedade diferente com o
mesmo tipo de mentalidade que criou essa desordem. Para trazer ordem ao mundo
precisamos trazê-la a nós mesmos. Pensar que podemos ajudar a humanidade a se
livrar dos pensamentos, sentimentos e comportamentos desordenados e
conflitantes é a mesma coisa que pensar que podemos limpar uma casa com um pano
sujo e uma água suja.
Ir além da ilusão é por fim ao "eu", o local de
origem de toda a miséria e degeneração humana.
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Nossa! Que texto provocador de reflexões!
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