segunda-feira, 6 de junho de 2022

Será que a vida é uma enganação?

Talvez sugestionado pelo que é dito na parte final da postagem anterior, um ex-colega de trabalho e eterno amigo enviou-me, por e-mail, um comentário que começa com a seguinte questão: "Será que a vida é uma enganação ou um jogo de mentiras em que pessoas se enganam, enganando as outras?" E que prossegue com ele dizendo ter presenciado muitos casos de enganação e ter percebido a realidade da enganação, durante os longos anos em que viveu na labuta. O próximo parágrafo é composto de trechos de seu comentário.

"Nesses longos anos que vivi na labuta, presenciei muitos casos de enganações. Hoje, vivo num mundo diferente, mais traiçoeiro, porque resolvi fazer uns trabalhos de corretor de imóveis, porém percebo em pouco tempo de profissão nessa área de venda de imóveis a realidade da enganação, onde clientes são meros instrumentos e onde você não pode confiar no seu colega de profissão, porque num simples gesto de distração você é enganado e jogado pra escanteio. Colegas, parceiros que se dizem fiéis, na realidade são enganadores por excelência."
A questão proposta faz-me lembrar de um programa televisivo no qual em sua parte final é feita uma pergunta que sempre embaraça o entrevistado. Qual é a pergunta? O que é a vida? Os oito próximos parágrafos foram extraídos da entrevista e mostram a embaraçada reação de Bruno Mazzeo a tal pergunta.
- A velhice está lhe caindo muito bem, sabia Bruno?
- Ah, cara, eu não acho. Eu estou tendo grandes problemas.  
- Mas talvez você esteja pronto pra me responder uma coisa, então: - Bruno Mazzeo, o que é a vida?
- Pô, você também está vindo com umas perguntas!... O que é a vida?!... Caramba, cara!... Isso é uma pergunta padrão do programa ou isso é só pra mim?
- Isso é uma pergunta séria!
- Eu sei que é séria.
- O que é a vida?! - Bruno Mazzeo.
- O que é a vida?! Que difícil, cara! Uma eterna busca da felicidade, talvez? Do amor? Pode ser. A vida é... amor. Eu acho que..., é onde eu me sinto seguro. ... É onde..., onde eu me sinto seguro. E, se eu estou seguro..., eu consigo olhar pras coisas talvez com mais... clareza.
Sim, como diz Bruno Mazzeo, responder à pergunta - O que é a vida? -, é algo difícil. Até porque, por si só, a forma insana com que a imensa maioria dos integrantes deste planeta percorre esse percurso que a gente chama de vida já é algo suficiente para impedir o interesse em refletir sobre tal questão. E assim, a imensa maioria segue pela vida sem saber o que ela é, e apenas quando se chega à velhice o assunto passa a despertar algum interesse, como demonstra o trecho da entrevista reproduzido acima. Por reproduzir na postagem apenas um trecho do programa, cabe aqui a seguinte explicação. Embora tenha apenas 45 anos, foi Bruno Mazzeo quem introduziu o tema velhice na entrevista. Ele o fez quando se referiu a interação com seus filhos.
Porém, se considerarmos que as coisas são o que delas se faz, responder à pergunta – O que é a vida? - não deveria ser algo difícil, pois bastaria olhar para o que se faz e a pergunta estaria respondida. Então, o que explica a dificuldade para respondê-la? No meu entender, a explicação é a seguinte: a pergunta feita é uma, porém a ouvida é outra. Como assim? Ao ouvir a pergunta - O que é a vida? – algo dentro de nós a transforma em – O que deveria ser a vida? –, e essa sim é uma pergunta difícil de responder, pois implica em saber o que deveríamos fazer em vez de fazer o que estamos fazendo. Ou seja, a questão passa a ser saber o que deveríamos fazer com esse intervalo de tempo que nos foi concedido para atuar nesta dimensão. Como diz uma inesquecível frase da trilogia O Senhor dos Anéis, "A única coisa a fazer é decidir como usar o tempo que nos foi dado.".
O problema é que decidir como usar o tempo que nos foi dado depende de saber responder duas das maiores questões da vida: o que somos e o que viemos fazer aqui. Questões que, no meu entender, são respondidas por uma afirmação do teólogo, filósofo e paleontólogo francês Teilhard de Chardin [1881 – 1955] e por um provérbio aborígene. "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.", diz Teilhard de Chardin, na afirmação mais significativa que vi nesta vida. "Somos todos visitantes deste tempo, deste lugar. Estamos só de passagem. O nosso objetivo é observar, crescer, amar. E depois vamos para casa.", diz o provérbio aborígene.
"Observar, crescer, amar", eis, segundo o provérbio aborígene, o que deve ser "o objetivo de todos os visitantes deste tempo, deste lugar". "Ignorar, estagnar, odiar, enganar", eis, o objetivo que vigora "neste tempo, neste lugar". Objetivo que, no meu entender, leva a pretensa espécie inteligente do universo a comportar-se de forma a validar a questão que intitula esta postagem: Será que a vida é uma enganação? Sim, embasado pelo que vejo, eu sei que a vida é uma enganação. Enganação, inclusive, a nós mesmos. Porém, embasado pelo entendimento da afirmação de Teilhard de Chardin e do provérbio aborígene, eu entendo que não devia ser. E ao redigir as duas frases imediatamente anteriores, vem-me à mente a quarta postagem deste blog. Publicada em 10 de fevereiro de 2011 (faz tempo, hein!), ela é intitulada Eu sei, mas não devia.
Nossa! Que postagem difícil de elaborar! Provocada por um comentário de um ex-colega de trabalho e eterno amigo, ela levou-me a refletir muito para elaborá-la. Uma vez terminada, resta-me agora a esperança de que ela provoque naqueles (as) que a lerem a vontade de também refletirem sobre essa questão de interesse imprescindível à melhoria da vida "neste tempo, neste lugar": O que deveria ser a vida? Afinal, a primeira mensagem passada a quem visita este blog é a seguinte: 
Espalhando ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor

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