"Somos interdependentes. Não vivemos em paz sem construir a paz dos outros."
(André Luiz)
"O elemento
comum de tudo é a interdependência." - afirma Peter Senge em reportagem-entrevista
intitulada "Nossa sociedade da 'era industrial' é o problema",
publicada na edição de 19 de fevereiro de 2016 do jornal Valor. "Para curar o planeta é preciso compreender que o
bem-estar de todas as pessoas está interligado" - afirma Radha Burnier em um texto intitulado Como curar o planeta, publicado na
edição de MAI / JUN 2016 de Sophia, uma revista que focaliza Ciência,
Religião e Filosofia.
"A interdependência entre os diversos seres
sempre existiu, mas agora está mais visível. A velocidade
das coisas é nova, mas a felicidade de cada indivíduo depende do bem-estar da
população." afirma Cristiane Szynwelski (membro da Sociedade
Teosófica em Brasília, escritora, psicóloga e advogada) em um texto intitulado A lógica da interdependência, publicado
na edição de MAI / JUN 2020 da revista Sophia. Os grifos são meus.
"Em seu
livro 21 Lições para o Século 21, Yuval Harari destaca e discorre sobre a
interdependência humana, alertando-nos sobre a necessidade de entendermos que
precisamos uns dos outros.", diz um ex-colega de trabalho em comentário, enviado por
e-mail, sobre uma recente postagem.
"Alertar-nos sobre a necessidade de entendermos que precisamos uns dos outros",
eis algo que, há alguns milênios, vem sendo repetido por inumeráveis mestres em suas passagens por este planeta habitado por uma pretensa espécie
inteligente do universo que teima em não entender (ou seria atender?) seus
alertas. Teimosia da qual resulta algo que deve ser visto como uma nova forma de
alerta, como sugerem as seguintes palavras de Cristiane
Szynwelski: "Essa
pandemia é uma forma muito concreta de nos fazer constatar a velha verdade:
todos somos um." Feito este preâmbulo, segue a primeira
de duas partes do excelente texto de Cristiane
Szynwelski.
A
lógica da interdependência
'Essa pandemia é uma forma muito concreta de
nos fazer constatar a velha verdade: todos somos um. Pense nisso ao planejar
seu modo de viver, trabalhe para que todos sejam sábios e felizes'
Proponho a você um exercício: ao acordar,
pela manhã, antes de se movimentar, abra os olhos e preste atenção ao que você
vê. Um teto? Uma janela? Cortinas? Paredes? Armários? Lençóis? Então, em
seguida, pergunte-se: quem fez tudo isso? De onde isso veio? Não me refiro a
quem criou o mundo, se foi Deus ou o acaso.
Vamos ficar no primeiro item: um teto. Se
você mora em uma casa ou apartamento, por trás daquele teto existe algo chamado
construção civil. A construção civil se desenvolveu ao longo de milênios, desde
o tempo das cavernas até hoje. O que temos hoje dentro desse ramo agrega uma
grande diversidade de coisas: conhecimentos de engenharia, química, física,
biologia, cálculo, legislação, empresas, cada item desses desenvolvido ao longo
de gerações, com o esforço de incontáveis pessoas. Estamos falando apenas do
conhecimento necessário para a realização das construções, mas vamos pensar em
algo mais imediato: os materiais empregados e as pessoas que construíram o seu teto. Os engenheiros, os pedreiros, a loja de material de construção, os
caminhoneiros que transportaram os materiais, os fabricantes dos caminhões e os
construtores das rodovias.
Depois de traçar essa linha, vire a cabeça e
aplique o mesmo raciocínio à próxima coisa que enxergar. Então vá ao banheiro,
escolha alguns objetos e repita a operação. Para não repetir esse exercício
sobre cada pequena coisa que encontrar no seu dia, você pode projetar um
gráfico imaginário. Tente visualizar uma linha do tempo dividida em intervalos
de cinco minutos: quantas conexões e ramificações surgem, em um espaço de 24
horas, ligando cada momento do seu dia à história da humanidade e à
contribuição de bilhões de pessoas? Agora faça uma estimativa e multiplique o
gráfico de 24 horas pelo número de dias de sua vida até hoje.
Assim, chegamos à grande pergunta: você ainda
se considera uma pessoa independente? Ficando apenas nas evidências, podemos
constatar que a evolução dos meios de transporte e de comunicação torna as
ações dos seres humanos mais rápidas. No ano de 1.500, uma caravela levava mais
de um mês para atravessar o oceano Atlântico, transportando pessoas e cartas
para outro continente – isso quando chegava em segurança. Era possível levar
junto doenças infecciosas e muitos morriam nas viagens; mas as viagens eram
raras e lentas, o que tornava a contaminação dos habitantes de outros
continentes mais improvável do que hoje.
Atualmente nossas comunicações são quase
instantâneas e as pessoas atravessam o planeta em poucas horas, com razoável
segurança. Quando os fatos se sucedem de forma muito lenta, é mais difícil
enxergar a ligação entre os elos das cadeias de causas e efeitos, pois eles
ficam espaçados no tempo. Quando a concatenação de vários fatos se dá em tempo
mais curto, podemos ver as ligações entre eles com mais clareza. A
interdependência entre os diversos seres e coisas do planeta sempre existiu,
mas agora está mais visível. No momento, o mundo inteiro padece por causa de um
vírus que surgiu em determinado país, e que se propagou com muita rapidez.
A velocidade das coisas é nova, mas a
felicidade de cada indivíduo depende do bem-estar da população em geral. Isso
não é novidade; Aristóteles já ensinava este fato antes do ano 300 a.C. Ele
também dizia que a felicidade é conquistada com uma vida de ação conforme a
virtude, e que quanto mais os cidadãos forem virtuosos, mais acessível será a
felicidade para cada um. Se você não está contente no mundo em pandemia, é
capaz de entender isso. Imagine-se em um mundo sem doenças, povoado por pessoas
sábias, saudáveis, que respeitam normas sanitárias, respeitam a vida como um
todo, inclusive os animais. Você não se sentiria melhor?
Termina
na próxima sexta-feira
Nenhum comentário:
Postar um comentário