"O elemento comum de tudo é a
interdependência." - afirma Peter Senge na
reportagem-entrevista apresentada duas
postagens atrás. "Para curar o planeta é preciso compreender que o bem-estar
de todas as pessoas está interligado" - afirma Radha Burnier (1923 – 2013)
em um texto intitulado Como curar o
planeta, publicado na edição de Mai-Jun/ 2016 de Sophia, uma revista
que focaliza Ciência, Religião e Filosofia. Radha foi
escritora e presidente internacional da Sociedade Teosófica de 1980 até sua
morte em 2013.
No último parágrafo da postagem
anterior, eu disse
que raciocínio sistêmico, consciência sistêmica e visão
sistêmica são ideias que provocariam outras postagens neste blog, lembram?
Não, para mim, não é mais possível deixar de persistir na apologia da
imprescindibilidade de cada um de nós tornar-se um adepto do desenvolvimento da
consciência sistêmica, do raciocínio sistêmico, da visão sistêmica... Afinal, curar o
planeta em que se vive é função de todos os que nele vivem.
Como curar o planeta
Relatórios da Organização Mundial de Saúde
ressaltam o fato de que a pobreza, a subnutrição e a escassez absoluta de
alimento afligem uma grande parte da população mundial. A maioria dos países
africanos gasta quase toda a sua receita bruta para pagar dívidas com os países
ricos. Apenas o reembolso de juros representa um fardo tão pesado que eles não
têm meios de manter hospitais, prover água, esgotos e outras necessidades
básicas da população. As crianças morrem em grande número porque são
subnutridas, enquanto a maioria dos adultos vive no limite de um estado de
ansiedade e insegurança para o qual não existe remédio. Um diretor geral da OMS
escreveu que a pobreza é a doença mais mortífera do mundo, e para a maioria de
suas vítimas a única fuga é uma sepultura antecipada.
Frequentemente a mídia faz muito barulho sobre
os efeitos de um desastre natural, um terremoto ou um furacão. No entanto, aqueles
que sofrem e morrem por causa desses eventos são muito poucos em comparação com
aqueles que são vítimas das injustiças criadas pelo homem. A pobreza é perigosa
não apenas para os pobres, mas para o meio ambiente e para o mundo como um
todo. A parte faminta do planeta não pode ser culpada por destruir a vegetação
para alimentar o gado, nem por cortar árvores para obter combustível e cozinhar
suas refeições. Seus recursos consistem do que conseguem extrair do ambiente
dia após dia, aqui e ali.
Em contrapartida, há áreas do mundo onde o
desperdício é intrínseco ao estilo de vida da população, e há um excesso de
recursos sob a forma de investimentos, equipamentos e alimentos ricos. A
obesidade, mesmo em crianças, é comum. O abismo entre ricos e pobres certamente
terminará em mais fome, como o mundo testemunhou no Sudão, na Etiópia e na Coreia.
A pressão pode forçar a migração em larga escala e incitar guerras civis e
outros conflitos.
Controvérsias a respeito da imoralidade de
patentear produtos naturais, como a amargoseira e a açafroeira,
tradicionalmente usadas durante milênios na Ásia, para conquistar o mercado
mundial e empobrecer aqueles que herdaram o conhecimento ancestral da utilidade
desses produtos, é um exemplo de como os ricos tentam se tornar cada vez mais
ricos às custas de povos que já são miseravelmente pobres. O pavoroso
desperdício de se manter um exército e se preparar para a guerra é uma outra
forma de atividade condenável que, se terminasse,
poderia imediatamente ajudar a elevar muitos milhões de pessoas acima da linha
de pobreza.
Não há meios nem razões para evitar que
algumas pessoas alcancem mais resultados que outras – não apenas para inventar
ou criar, mas também para obter lucro ou utilizar recursos. O remédio está numa
cultura que promova um novo conceito, o de curadoria. Ele ainda não se
disseminou no mundo, embora tenha sido muitas vezes apresentado. Significa
limitar lucros e privilégios e usar todo o excesso para beneficiar os mais
necessitados. A riqueza não tem significado além de um certo ponto; a segurança
não depende de se possuir milhões ou bilhões, ou de se viver em mansões ou em
palácios.
É fácil dizer que a pobreza é resultado da
preguiça; é conveniente acreditar que o que se ganha é por merecimento, mesmo
quando o ganho excede enormemente as necessidades ou resulta da exploração dos
mais fracos. Mas o mundo pode entrar num período de inseguranças e tumultos
ainda maiores se não houver uma ampla preocupação em aliviar a pobreza e salvar
o meio ambiente, resultando numa cultura de curadoria. Todos aqueles que
possuem devem compartilhar com aqueles que não possuem, sem exceções nem
desculpas. Para curar o planeta é preciso compreender que o bem-estar de todas
as pessoas está interligado.
"Todos
aqueles que possuem devem compartilhar com aqueles que não possuem, sem
exceções nem desculpas. Para curar o planeta é preciso compreender que o
bem-estar de todas as pessoas está interligado"
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"Para curar o
planeta é preciso compreender que o bem-estar de todas as pessoas está
interligado"! E para alcançar a compreensão "recomendada" por Radha
Burnier, que tal refletir sobre tudo o que ela diz em seu excelente texto?
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