Na
reportagem-entrevista apresentada na postagem anterior é citado o recente livro
do entrevistado (Peter Senge) em coautoria com Daniel Goleman. Intitulado "O Foco Triplo – Uma Nova Abordagem
para a Educação", ele contribui demais para estas reflexões, mas para
iniciá-las recorro à seguinte afirmação feita na reportagem-entrevista: "Ambos
(Senge e Goleman) defendem um modelo de ensino que estimule o desenvolvimento
de três habilidades nas crianças: a autoconsciência, a empatia e a capacidade de entender a interdependência
entre ações e consequências." Habilidades associadas, respectivamente, aos três
focos a que se refere o livro: interno, no outro e externo. (Os grifos são meus).
O primeiro foco – o interno – está associado ao
desenvolvimento da primeira habilidade: a
autoconsciência.
"A autoconsciência – dirigir a atenção para nosso mundo interior de pensamentos e sentimentos – abre caminho para termos o controle de nós mesmos. O foco interno nos permite compreender e lidar com nosso mundo interior, mesmo quando perturbado por sentimentos de inquietação." Autoconsciência! Eis a primeira das "três habilidades cruciais para se orientar em um mundo acelerado de distrações crescentes e envolvimento interpessoal ameaçado.".
O parágrafo acima é composto por palavras de
Daniel Goleman, no referido livro. O segundo foco – no outro – está associado ao
desenvolvimento da segunda habilidade: a empatia.
"Compreender como o outro se sente e seu modo de pensar acerca do mundo -, junto de habilidade social, cooperação e trabalho em equipe, eis a base da empatia". (...) "Não é suficiente apenas saber como as outras pessoas pensam ou se sentem; também precisamos mostrar preocupação com elas e estar prontos para ajudar. (...) Estar em sintonia com os problemas que as pessoas estão enfrentando e se mostrar disposto a fazer alguma coisa a respeito. (...) Acho que esta é uma habilidade crucial na vida, tanto para crianças como para adultos."
"Empatia que talvez enfrente hoje mais desafios do que nunca, em parte por causa da atração exercida pelos dispositivos eletrônicos. (...) Pelo fato das pessoas passarem muito tempo se relacionando com telas, não com outras pessoas."
Os dois parágrafos acima também são compostos
por palavras de Daniel Goleman, no referido livro. O terceiro foco – externo – está associado ao desenvolvimento da terceira
habilidade: a capacidade de
entender a interdependência entre ações e consequências, ou seja, a consciência sistêmica.
"Os sistemas operam por toda parte. A família é um sistema, a escola é um sistema, o parquinho é um sistema. Toda organização opera como um sistema, embora talvez não percebamos isso. (...) O elemento comum de tudo é a interdependência." (...) A interdependência não é uma característica da economia global de hoje. A natureza está continuamente em fluxo e é infinitamente interligada, como toda sociedade nativa e agrícola bem sabe. Nossa espécie evoluiu no âmbito desta interdependência. Desse modo, faz sentido pensar que dispomos de algumas capacidades inatas para compreender a interconectividade, e que culturas que perduraram por longos períodos de tempo compreendem isso.
"(...) Nossa inteligência sistêmica inata bem como nossas capacidades inatas de compreender o eu e o outro precisam ser cultivadas. (...) Ela está aparentemente presente desde a mais tenra idade e, se estimulada, pode evoluir em escopo e profundidade surpreendentes em alunos mais velhos. (...) Como toda inteligência, a inteligência sistêmica deve ser desenvolvida, senão se atrofia."
Os dois parágrafos acima são compostos por
palavras de Peter Senge, no referido livro, e os dois imediatamente abaixo
também. (Os grifos são meus).
"Quanto mais compreendemos o processo de desenvolver a inteligência sistêmica, mais enxergamos as ligações entre compreender o eu, compreender o outro e compreender os sistemas mais amplos aos quais pertencemos. (...) Mas nossa capacidade de se importar com o outro e nossa consciência sistêmica estão interligadas. Num sentido muito fundamental, toda ética está baseada na consciência das consequências de nossas ações. Se sou incapaz de perceber o efeito de minhas ações sobre o outro, não enxergo minhas escolhas éticas. (...) Em nossa experiência, o ponto cego no modo como abordamos a ética é a conscientização. Einstein expressou de forma magnífica essa relação entre se importar com o outro e cultivar a inteligência sistêmica:" (Os grifos são meus).
"Cada ser humano é parte de um todo a que chamamos Universo, uma parte limitada no tempo e no espaço. A pessoa vivencia o próprio eu, seus pensamentos e sentimentos, como algo separado do resto – uma espécie de ilusão de óptica da consciência [...]. Nossa tarefa deve ser nos libertar dessa prisão alargando nossos círculos de compaixão de modo a abranger todas as criaturas vivas e a totalidade da natureza em sua beleza."
Nossa sociedade da
"era industrial" é o problema, eis a afirmação feita por Peter Senge usada
como título para a reportagem-entrevista que provocou a postagem anterior que,
por sua vez, originou esta onde são apresentadas estas reflexões. Em que se fundamenta
a afirmação de Peter Senge? Na percepção de que "O sistema educacional é
baseado no modelo industrial, no qual tudo é pensado de forma fragmentada. O
modelo de divisão por séries funciona muito como uma linha de produção". Modelo
que leva Senge a fazer a seguinte afirmação no livro tão citado nesta postagem.
"Seria útil lembrar que no modelo fabril que herdamos da Era Industrial a escola jamais esteve ligada a estimular e cultivar esse potencial inato (citado cinco parágrafos acima). Jamais tratou de nos fazer crescer enquanto seres humanos – ele foi concebido para treinar operários fabris em massa".
Afirmação bem complementada por algo dito por
ele na entrevista que provocou a postagem anterior: "As pessoas vêm
percebendo que o desempenho acadêmico
não ajuda a desenvolver seres humanos – e podemos ver isso claramente nas empresas
e na política". (Os grifos são meus).
E do que é dito por Peter Senge no referido livro, selecionei duas
afirmações que, no meu entender, merecem por demais serem destacadas nesta
postagem. A primeira delas é: "Tecnologias sofisticadas não substituirão
essas habilidades (a autoconsciência, a
empatia e a consciência sistêmica), embora tenham o potencial de
aumentá-las se tivermos a sabedoria de moldá-las para tanto". Sim,
tecnologias sofisticadas podem aumentar habilidades que cabe a seres humanos
desenvolver, porém jamais poderão substituir essas habilidades. E ao falar em
necessidade de sabedoria para moldar tais tecnologias, Senge me faz lembrar o seguinte questionamento de T. S. Eliot, poeta, dramaturgo e
crítico literário (1888-1965), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1948.
"Onde está a vida que perdemos na existência?Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?Onde está o conhecimento que perdemos na informação?
Peter Senge fala em: se
tivermos a sabedoria de moldar as tecnologias fazendo com que elas potencializem
nossas habilidades. T. S. Eliot questiona onde está a sabedoria que perdemos no
conhecimento. Sabedoria que a cada dia parecemos perder mais "em um mundo
acelerado de distrações crescentes e envolvimento interpessoal ameaçado (usando
palavras de Daniel Goleman)". Ou seja, um de nossos grandes problemas
consiste em achar a sabedoria perdida.
A segunda afirmação que considero que merece
ser destacada é: "A compreensão imprescindível começa por reconhecer que a
mudança sistêmica é uma jornada pessoal". Sim, dispor-se a desenvolver "a consciência da interdependência entre ações e consequências" é uma jornada
que cabe a cada um dos seres pertencentes à autodenominada espécie inteligente
do universo.
Encerrando estas
reflexões, faço uma analogia entre "A Quinta Disciplina – Arte, teoria e prática da organização de aprendizagem"
e o "O Foco Triplo – Uma
Nova Abordagem para a Educação". Assim como o raciocínio sistêmico é a quinta disciplina, por ser a que integra
as outras quatro (domínio pessoal, modelos mentais, objetivo comum e aprendizado
em grupo) fundindo-as num conjunto coerente de teoria e prática, enxergo a consciência sistêmica como o terceiro
foco, por ser o que integra os outros dois (a
autoconsciência e a empatia)
fundindo-os num conjunto coerente de teoria e prática. Analogia que leva-me a
enxergar outro título para o livro tão citado nesta postagem: "O Terceiro Foco – Uma Nova Abordagem para a Educação".
Raciocínio sistêmico, consciência
sistêmica, visão sistêmica são
expressões que, na condição de disciplina ou de foco, no meu entender, designam
algo sem o qual essa dita (bendita ou maldita, dúvida que o tempo tirará)
espécie inteligente do universo jamais conseguirá tornar o mundo em que vive um lugar que preste para se viver. Sendo assim, várias postagens já foram
publicadas com a intenção de espalhar tais ideias e muitas outras ainda deverão
ser, enquanto eu permanecer nesta dimensão. Compreendido?
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