quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Reflexões provocadas por "Quem é o seu Deus?"

"Ore como se tudo dependesse de Deus. Trabalhe como se tudo dependesse de você."
(Autoria atribuída a Santo Inácio de Loyola e a Santo Agostinho?!)
"Bem lá no fundo, na parte mais recôndita do nosso coração, algo nos chama eternamente além do presente, acima do mundano."
A afirmação feita acima é a primeira frase do magistral texto de Joan Chittister. O problema é que, em vez de buscarmos o que está bem lá no fundo, passamos a maior parte desse percurso que a gente chama de vida buscando apenas o que está bem lá na superfície.
"Quanto mais temos, mais queremos. [...] Por mais que possamos estar de posse de todas as bugigangas da vida, sempre ainda haverá um desejo por outra coisa. E então surge a percepção: mesmo que tenhamos conquistado tudo que vale a pena ter na vida, nenhuma dessas coisas jamais irá satisfazer o vazio interior."
"Considerando que a verdadeira satisfação de uma falta é algo impossível de ser feito por meio do provimento de qualquer coisa diferente daquela que falta, e que, em outras palavras, satisfazer um vazio é satisfazer faltas, como diz Joan Chittister, "mesmo que tenhamos conquistado tudo que vale a pena ter na vida, nenhuma dessas coisas jamais irá satisfazer o vazio interior."
"Os Padres do Deserto não vendiam amuletos ou modelos de orações, devoções secretas ou ascetismos que transformam vidas. Eles não nos encaminham para o guru espiritual da atualidade. Eles não nos vendem o mantra mais recente. Eles olham apenas para o nosso compromisso pessoal de encontrar o Deus da Vida. Os Padres do Deserto ensinavam apenas o que significava viver na presença de Deus.", diz Joan Chittister.
Ou seja, os Padres do Deserto não vendiam coisas costumeiramente vendidas por indivíduos que em vez de enxergar a religião como um "modo de vida" enxergam-na como um "meio de vida". Sobre "modo de vida" e religião, minha insuspeita opinião recomenda a leitura da postagem intitulada "O que é religião?", publicada em 08 de abril de 2011.
"Não estamos aqui para escaparmos dos desafios da vida por meio da oração. Estamos aqui para crescer por meio de cada uma deles até atingirmos a maturidade espiritual."
E ao fazer a afirmação acima, o que Joan Chittister faz é, no meu entender, uma advertência. Uma advertência quanto à inversão feita em uma conhecida recomendação atribuída a Jesus, eu explico. Diferentemente das operações de adição e de multiplicação, nas quais a ordem dos fatores não altera o resultado, na recomendação "vigiai e orai" a inversão para "orai e vigiai" é desastrosa, pois o que acontece é que em vez de vigiar o que fazemos para não prosseguir cometendo os mesmos erros indefinidamente, o que fazemos é ficar orando a Deus para que ele faça por nós coisas que nós é que deveríamos fazer, e, como diz Joan Chittister, tentarmos "escapar dos desafios da vida por meio da oração". O resultado: passamos a vida orando e pouco ou nada vigiando o que estamos fazendo. Aliás, pensando melhor, acho até que o que ocorre nem é a troca do "vigiai e orai" pelo "orai e vigiai", e sim o abandono do vigiai, para dedicação exclusiva ao orai. O parágrafo abaixo reproduz um trecho do livro intitulado "CAI O MITO – A Realidade Humana", de autoria de Newton Orsini.
"Até quando o ser humano entrará em templos para cultuar deuses, deixando na porta mendigos, aleijados e crianças desnutridas, e até quando sairá desses templos com a consciência apaziguada por preces? A maioria dos homens encontra abrigo em deuses, e através de orações julga garantir vida eterna para a 'alma', com felicidade e amor."
"Sair de templos com a consciência apaziguada por preces.". Será que isso é, realmente, possível? Tenho minhas dúvidas! Há 23 anos, quando minha filha tinha 23 anos fui com ela ao cinema assistir um filme protagonizado por um dos ídolos femininos daquela época. Quem era o ídolo? Leonardo DiCaprio. Qual era o filme? A Praia. O que esse fato tem a ver com esta postagem? Há no filme uma frase que a primeira frase deste parágrafo me traz à mente. Qual é a frase? "É fácil dar as costas, mas não é tão fácil esquecer." Será que é, realmente, possível apaziguar a consciência apenas com a fácil atitude de dar as costas a mendigos, aleijados e crianças desnutridas, sem conseguir realizar a não tão fácil atitude de esquecer? Sei não! Tenho muitas dúvidas quanto a isso!
Dúvidas que levam-me a parafrasear a primeira frase do instigante texto de Joan Chittister: "Bem lá no fundo, na parte mais recôndita do nosso coração, algo nos chama eternamente além" da fácil atitude de dar as costas à criaturas cuja situação lamentável dificulta bastante nossa tendência à pratica da não tão fácil atitude de esquecer; esquecer que tais criaturas existem. Sim, "É fácil dar as costas, mas não é tão fácil esquecer."
"São Sisoé exige uma resposta de cada um de nós: quem é o seu Deus? Uma cornucópia de coisas boas para os filhos espirituais ou um cocriador da vida que espera que vejamos o mundo como Deus o vê e depois façamos nossa parte para torná-lo sagrado?"
"Uma cornucópia de coisas boas para os filhos espirituais, sem que eles nada façam para merecer tais coisas ou um cocriador da vida, que espera que façamos nossa parte para tornar sagrado o mundo que ele nos concedeu para que pudéssemos torná-lo sagrado por meio de um processo de construção coletivo em que cada um precisa fazer a sua parte em conformidade com os talentos que possui. Sobre a participação em conformidade com os talentos que possui, minha insuspeita opinião recomenda a leitura da postagem intitulada "O Programa do Senhor", publicada em 13 de julho de 2011. Não, uma boa sociedade nunca será uma dádiva concedida pelo Senhor e sim o resultado de um processo de construção coletivo em conformidade com o programa por Ele estabelecido.
São Sisoé pergunta - Quem é o seu Deus? - e lhe dá duas opções. Você já conseguir decidir com qual delas ficará? Se ainda estiver indeciso (a), há neste blog duas postagens que talvez possam ajudar-lhe a decidir. Acreditar ou não na existência de Deus, publicada em 14 de março de 2019 e Entrevista com Deus, publicada em 01 de março de 2019.

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