quinta-feira, 14 de março de 2019

Acreditar ou não na existência de Deus

"Quanto a acreditar ou não em Sua existência, isso é assunto para a postagem que sucederá a que será publicada no Dia Internacional da Mulher.", eis as palavras finais da postagem Entrevista com Deus. Por que resolvi publicar uma postagem focalizando tal assunto? Porque, embora sempre tenham existido indivíduos que declarando-se ateus tornaram-se verdadeiros benfeitores da humanidade, é fato que acreditar (verdadeiramente) na existência de Deus tende a tornar melhor o indivíduo que acredita, e consequentemente a melhorar a comunidade da qual ele é integrante. Dito isto, seguem dois contos e algumas afirmações que considero capazes de ajudar-nos a refletir sobre tal assunto.
*************
Um homem foi cortar o cabelo e a barba. Como sempre acontece, ele e o barbeiro ficaram conversando sobre várias coisas, até que – por causa de uma notícia de jornal sobre meninos abandonados – o barbeiro afirmou:
- Como o senhor pode ver, esta tragédia mostra que Deus não existe.
- Como? – indagou o cliente.
- O senhor não lê jornais? Temos tanta gente sofrendo, crianças abandonadas, crimes de todo tipo. Se Deus existisse, não haveria sofrimento.
O cliente ficou pensando, mas o corte estava quase no final, e ele resolveu não prosseguir com aquele assunto. Retornaram a temas mais amenos, o serviço foi terminado, o cliente pagou, e saiu. Entretanto, ao sair, a primeira coisa que viu foi um mendigo, com barba de muitos dias, e longos cabelos desgrenhados. Imediatamente, voltou à barbearia, e falou para o barbeiro que o atendera:
- Sabe de uma coisa? Os barbeiros não existem.
- Como não existem? Eu estou aqui, e sou barbeiro.
- Não existem! - insistiu o homem. - Porque se existissem, não haveria pessoas com barba tão grande, e cabelo tão desgrenhado como a que acabo de ver.
- Posso garantir que os barbeiros existem. O que acontece é que muitas pessoas não os procuram, e isso é uma opção delas - respondeu o barbeiro.
- Exatamente! Então, contestando sua afirmação, isso mostra que Deus existe. O que acontece é que as pessoas não vão até Ele, pois ir até Ele é uma opção delas. Se O buscassem, seriam mais solidárias, e não haveria tanta dor, miséria e sofrimento no mundo – afirmou o cliente.
*************
Sim, ir até Deus é uma opção de cada um, como pode-se deduzir, a partir das palavras finais da Entrevista com Deus.
Sentei por um tempo, saboreando o momento. Agradeci a Ele pelo tempo dispensado e por tudo que Ele me proporcionou. E Ele respondeu:
- Estou aqui, 24 horas por dia.
*************
Conta-se que decepcionado com a vida agitada dos grandes centros urbanos que, embora proporcione grandes facilidades em razão de velozes meios de transporte, eficientes equipamentos de comunicação e aparatos tecnológicos cada vez mais sofisticados, paradoxalmente, está deixando o homem isolado, estressado e distante de Deus, certa vez um famoso sábio da academia resolveu fazer uma excursão ao campo, em busca da alegada sabedoria cabocla.
Chegando ao campo ele logo vislumbrou um camponês vestido a caráter, com roupas rústicas, chapéu de abas largas e sugando o indefectível cigarro de palha. Em um dia claro de verão, sob sol a pino ele lavrava a terra pacientemente. Então, aproximando-se do camponês, o sábio da academia cumprimentou o roceiro que, após responder-lhe com um monossílabo, continuou capinando. O grande sábio então perguntou-lhe, de chofre: "Será que o senhor poderia me dizer onde está Deus?"
"O caboclo parou de capinar, levantou a aba do chapéu, passeou vagarosamente o olhar em todas as direções, e finalmente respondeu: "Olha meu senhor, onde está Deus eu não sei. Mas será que o senhor poderia me dizer onde é que Deus não está?"
Não obstante a sua aparência simplória e pueril, este conto serve como uma luva para o propósito de tentar demonstrar que a filosofia não é propriedade exclusiva da academia, porque, como visto, muitas vezes pode fluir dos lábios de um simples caboclo. E que a sabedoria é uma conquista interior, fruto de contínua observação, de reflexões íntimas, de um estado de alma enfim.
*************
O fato de muitas vezes ser mais fácil para um caboclo do que para um sábio da academia acreditar na existência de Deus faz-me lembrar as seguintes palavras de Gibran Khalil Gibran extraídas de seu extraordinário livro O Profeta.
"E se quereis conhecer a Deus, não procureis transformar-vos em decifradores de enigmas. Olhai, antes, à vossa volta e encontrá-Lo-eis a brincar com vossos filhos.
E erguei os olhos para o espaço e vê-Lo-eis caminhando nas nuvens, estendendo Seus braços no relâmpago e descendo na chuva. E o vereis sorrindo nas flores e agitando as mãos nas árvores."
Sim, para conhecer Deus não é necessário transformar-se em decifrador de enigmas, pois, como afirma Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, "Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa." Afirmação feita em acréscimo à resposta dada a seguinte pergunta: "Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?". Pergunta respondida assim:
"Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá."
"E ao dizer "Erguei os olhos para o espaço e vê-Lo-eis ...", Gibran faz-me lembrar as seguintes palavras de Abraham Lincoln: "Eu entendo que um homem possa olhar para baixo, para a terra, e ser um ateu; mas não posso conceber que ele olhe para os céus e diga que não existe um Deus."
"E de lembrança em lembrança, o método das recordações sucessivas traz-me à mente as seguintes palavras de Isaac Newton: "Posso pegar meu telescópio e ver milhões de quilômetros de distância no espaço; mas também posso pôr meu telescópio de lado, ir para o meu quarto, fechar a porta e, em oração fervorosa, ver mais do céu e me aproximar mais de Deus do que quando estou equipado com todos os telescópios e instrumentos do mundo."
Há um antigo ditado que diz: "É preciso ver para crer"? Mas há controvérsias sobre ele, pois há quem diga que a versão correta do ditado seja: "É preciso crer para ver". Fico com esta versão.
Que a decisão sobre em que acreditar cabe a cada um não tenho a menor dúvida. Mas outra coisa sobre a qual não tenho a menor dúvida é uma afirmação feita pelo personagem de Nicolas Cage no filme Cidade dos Anjos, e reproduzida na imagem apresentada abaixo.
Com a intenção de validar a afirmação acima, segue o seguinte exemplo. Independentemente de acreditar ou não na existência da lei da gravitação, qualquer um (a) que ultrapassar o peitoril de sustentação de uma janela, dela cairá. Portanto, considerando que não faz sentido não acreditar na existência da lei da gravitação, será que faz sentido não acreditar na existência do que criou não só essa lei, mas todo o conjunto de leis imutáveis, insubornáveis e irrevogáveis que regem o universo?
"É absolutamente necessário persuadir-se da existência de Deus; mas não é necessário demonstrar que Deus existe.", disse Immanuel Kant em uma afirmação que, no meu entender, compõe muito bem com algo dito por Albert Einstein: "Sem Deus, o universo não é explicável satisfatoriamente.".

Nenhum comentário: