Desde que comecei a publicar mensagens
alusivas ao Dia Internacional da Mulher,
há quinze anos, já o fiz sob diferentes enfoques. E entre os que mais gosto
está o que é usado nesta postagem: a conscientização da imprescindibilidade da
luta ininterrupta e interminável sem a qual não se conseguirá jamais obter o
que se almeja nem manter o que se tenha conseguido obter. Como já afirmei em
outras postagens, creio que a obtenção de qualquer coisa que preste só é possível
por meio de um processo interminável, e nunca por meio de algum evento.
A mensagem do ano passado teve esse enfoque e, coincidentemente, a deste ano
também terá, e eu explico a coincidência.
Por ter sempre em
mente a afirmação de D. H. Lawrence de que - "O futuro da
humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações
entre homens e mulheres" -, qualquer coisa que eu encontre sobre o assunto
igualdade de direitos entre homens e mulheres é algo que me interessa. E aqui
entra algo que descobri com o tempo: interesse e coincidências são coisas
complementares, ou seja, interesse é algo que leva a coincidências. Não poucas
vezes, ouvi de alguns amigos a seguinte indagação: "Como é que você
descobre essas coisas, Guedes?". Será que – Interessando-me por elas – é uma boa resposta?
E foi assim - por meio
de uma coincidência – que, em uma de minhas idas a livrarias, encontrei na
livraria Leonardo da Vinci um livro intitulado As origens e a comemoração do Dia Internacional das Mulheres. Traduzido
do original em espanhol publicado em 1999, o livro de Ana Isabel Álvarez
González foi publicado no Brasil pela editora Expressão Popular em 2010, ou
seja, cem anos após a Segunda Conferência de Mulheres Socialistas ocorrida em
Copenhague em 1910 e na qual foi aprovada a proposta de um dia de luta pela
libertação das mulheres.
Um livro do qual tomei
conhecimento há pouco tempo e para o qual, no meu entender, é imprescindível
buscar tempo para ler, pois como disse o filósofo,
teólogo, poeta e crítico social Søren
Kierkegaard (1813 – 1855) - "A
vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida
olhando-se para frente". Olhar
para trás para poder compreender como chegamos à situação em que estamos e usar
tal compreensão para poder viver melhor daqui para frente, eis a minha
interpretação para a afirmação de Kierkgaard.
Olhar para trás para
compreender As origens e a comemoração do
Dia Internacional das Mulheres, eis algo que nos possibilita o livro de Ana
Isabel Álvarez Gonzáles. Compreensão que espero que leve-nos ao engajamento na
interminável luta que homens e mulheres terão que enfrentar juntos se,
verdadeiramente, almejarem uma vida melhor daqui pra frente.
Aliando-se às
coincidências, o livro de Ana Isabel trouxe-me outra coisa interessantíssima: a
contribuição com três parágrafos nesta postagem. De autoria de Nalu Faria,
Coordenadora da Sof – Sempreviva
Organização Feminista, os três parágrafos apresentados a seguir foram
extraídos da Apresentação por ela
redigida para o referido livro. Parágrafos nos quais enxergo algumas coincidências
entre o que neles é dito com coisas ditas por mim em postagens alusivas ao Dia Internacional da Mulher.
"Em especial após os anos 1980, os meios de comunicação, diversas instituições e empresas vêm tentando absorver o Dia Internacional das Mulheres e transformá-lo em mais um evento do mercado, um dia de flores, de homenagens, de presentes... e de reforço da feminilidade tradicional. Nos últimos anos esse tem sido, até mesmo, um momento de investida antifeminista: jornais e revistas publicam artigos questionando se o feminismo ainda existe ou se ainda é necessário buscar a igualdade. Uma vez que 'as mulheres já conquistaram tudo', tratar-se-ia agora de combater os exageros feministas para que a mulher não perca a feminilidade."
"A força das ideias feministas, mesmo que não com esse nome – isto é, a força da luta pela igualdade entre mulheres e homens – se construiu através de amplas lutas sociais, em consonância com uma proposta de mudança anticapitalista. Lutas em que as mulheres trabalhadoras tiveram e têm um papel fundamental, na maior parte das vezes tensionadas pela cobrança que contrapõe nossa fidelidade à classe trabalhadora à nossa rebeldia contra a opressão das mulheres. É nosso desafio romper com essa dicotomia. Um novo mundo só nos corresponderá se for de igualdade também para as mulheres. Assim, a construção de uma prática e uma consciência feminista pode ser sintetizada na palavra de ordem: para mudar a vida das mulheres temos que mudar o mundo e, portanto, todas as lutas por mudanças são também lutas das mulheres."
"Ao se completar um século desde que as mulheres socialistas reunidas em Copenhague aprovaram a proposta do Dia Internacional das Mulheres, a recuperação histórica do significado dessa data é uma contribuição importante para a reflexão sobre o que é constitutivo da luta feminista: a afirmação, cada vez mais, da autonomia e soberania das mulheres e de que a igualdade entre os sexos tem que ser parte fundamental de todos os processos de transformação. Esse é o lugar do 8 de Março na longa jornada das mulheres: reafirmar que sem socialismo não há feminismo, sem feminismo não há socialismo."
A leitura do primeiro
dos três parágrafos imediatamente acima, traz-me à mente a história do Cavalo de Tróia, e eu explico. Não,
não é ao vírus de computador que me refiro, e sim ao ardil usado pelos gregos
para fazer os troianos acreditarem que não era mais necessário lutar, pois a
guerra fora vencida por eles, e, sendo assim, o que lhes restava era abandonar
a luta, relaxar e festejar a vitória. Abandonando a luta, relaxando e
festejando a vitória, eis como os troianos foram derrotados pelos gregos ao
caírem "em sua conversa". Por que cito essa história nesta postagem?
Porque enxergo nas palavras de Nalu Faria reproduzidas a seguir a descrição do
mesmo ardil usado pelos gregos contra os troianos.
"Nos últimos anos esse tem sido, até mesmo, um momento de investida antifeminista: jornais e revistas publicam artigos questionando se (...) ainda é necessário buscar a igualdade. Uma vez que 'as mulheres já conquistaram tudo', (...) Em especial após os anos 1980, os meios de comunicação, diversas instituições e empresas vêm tentando absorver o Dia Internacional das Mulheres e transformá-lo em mais um evento do mercado, um dia de flores, de homenagens, de presentes..."
Será que o que é dito no parágrafo anterior configura o ardil usado pelos
gregos: induzir ao abandono da luta, ao relaxamento e aos festejos de uma suposta
vitória? Será que faz sentido a comparação enxergada por mim? Lembrando que a
aprovação da proposta de um dia de luta pela libertação das mulheres é algo que
aconteceu na Segunda Conferência de Mulheres Socialistas ocorrida em Copenhague
há 109 anos, creio que uma boa forma de encerrar esta postagem alusiva ao Dia Internacional da Mulher seja com o parágrafo
- composto por trechos das palavras finais de Nalu Faria na Apresentação por ela redigida para o livro
de Ana Isabel Álvares Gonzáles – apresentado a seguir.
"A força das ideias feministas, mesmo que não com esse nome – isto
é, a força da luta pela igualdade entre mulheres e homens – se construiu
através de amplas lutas sociais, em consonância com uma proposta de mudança
anticapitalista. (...) Assim, a construção de uma prática e uma consciência
feminista pode ser sintetizada na palavra de ordem: para mudar a vida das
mulheres temos que mudar o mundo e, portanto, todas as lutas por mudanças são
também lutas das mulheres. (...) A recuperação histórica do significado dessa
data é uma contribuição importante para a reflexão sobre o que é constitutivo
da luta feminista: (...) a afirmação de que a igualdade entre os sexos tem que
ser parte fundamental de todos os processos de transformação. Esse é o lugar do
8 de Março na longa jornada das mulheres: reafirmar que sem socialismo não há
feminismo, sem feminismo não há socialismo."
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