"Anular a resistência dos trabalhadores sempre foi outro de seus objetivos principais. O episódio mais triste do livro de Leonard é a crônica de uma negociação entre os diretores de uma fábrica de tratamento de papel dos Koch e os representantes sindicais. O sindicato está dizimado e desmoralizado porque tem cada vez menos membros. Os salários são tão baixos que os trabalhadores não podem se arriscar a uma greve, sequer a uma sanção. (...) A Koch Industries é uma empresa revolucionária: não querem vencer a negociação com o sindicato, querem destruí-lo. A produtividade aumentou mais de 70%, mas os salários continuam congelados e perdem valor há anos."
Extraído do texto de Antonio Muñoz Molina
(reproduzido em Os donos do mundo) e
submetido ao método das recordações sucessivas, o parágrafo acima provocou a
inclusão nestas reflexões de um trecho de um episódio da série televisiva Incertezas
Críticas. Apresentado em 2015, o episódio é protagonizado por Noam Chomsky (1928
- ....), linguista, filósofo, cientista cognitivo e comentarista político. Autor de vários livros, Chomsky é um
dos mais importantes intelectuais do mundo. Segue o referido trecho.
"Se você torna a massa trabalhadora insegura, tipo não saber se vão ter um emprego amanhã, ou comida na mesa, isso é muito saudável para a economia, porque aí eles não pedem por salários mais altos, não pedem por benefícios, os lucros aumentam, é uma maravilha!"
Quem é o canalha que pronunciou essas palavras? Alan Greenspan. Nascido em Nova York,
em 1926, e vivo até a publicação desta postagem (segundo a Wikipédia), Grenspan é um economista que supervisou a economia
americana de agosto de 1987 até janeiro de 2006, como presidente do Sistema de
Reserva Federal dos Estados Unidos. Quando ele as pronunciou? Segundo Noam
Chomsky, "Durante um depoimento ao Congresso. Um depoimento em que
ele explicava abertamente como atingia seus resultados incríveis. Foi um
depoimento público, com elogios, o 'gênio' foi elogiado e tudo o mais. Alan Greenspan foi altamente
elogiado pelos profissionais de Economia como um dos grandes gênios desta era."
Ou seja, as abomináveis práticas dos irmãos Koch não são
exclusividade deles, pois entre elas existem até práticas recomendadas, por um
dos grandes gênios desta era, como saudáveis para a economia. Os salários dos
trabalhadores ficam estagnados e os lucros dos que enriquecem à custa do suor
dos trabalhadores aumentam, o que, segundo esse grande gênio (do mal), é uma
maravilha! É ou não é um grande canalha?
"Nos anos oitenta a Koch Industries sofreu contratempos por burlar as leis. A estratégia dos Koch a partir de então foi assegurar-se de que nenhuma lei ficasse em seu caminho, e de comprar quantos políticos fossem necessários para consegui-lo."
Não mais burlar as leis, e sim passar a
fazê-las, eis a estratégia dos Koch, revelada por Jane Mayer no livro Kochland. Estratégia que, como mostra o imperdível
documentário intitulado "Park Avenue: Dinheiro, Poder e o Sonho
Americano - Por que Pobreza?", é mais uma coisa que não é exclusividade dos Koch, e sim uma
prática generalizada, embora, segundo Jane, "Os Koch sejam um caso ímpar. Eles influenciam a política
americana mais que qualquer outra pessoa.". Ainda segundo ela, após a tentativa fracassada de David
tornar-se vice-presidente concorrendo pelo Partido Libertário, em 1980, "os Koch concluíram que políticos são atores que
leem palavras de um roteiro e que o papel deles deveria ser o de escrever esse
roteiro.". Papel que David Koch desempenhou até 23 de agosto
de 2019, dia em que teve cancelada a sua permanência nesta dimensão. Até a publicação desta postagem o documentário era
encontrável em https://www.youtube.com/watch?v=Zzjdwi1dG_w.
Foi dele que extraí os quatro próximos parágrafos.
"O projeto de lei, raramente ou nunca, é redigido pelo congressista depois de ouvir um grupo diversificado de cidadãos. Ele e sua equipe são muito ocupados. Então, eles, muitas vezes no passado, e ainda hoje, usam os "serviços" dos lobistas para redigir os projetos de leis. Os lobistas apresentam o esboço exato que eles querem porque têm que garantir que é exatamente do que precisam. O lobista precisa ir a quem decide, ao congressista e sua equipe, e isso infelizmente envolve pagamento de dinheiro. Quando temos campanhas que custam milhões de dólares, as pessoas que detêm o dinheiro querem algo em troca. O dinheiro é usado para comprar resultados. Eu fazia assim. Eu sei o que eu fazia."
De quem
são tais palavras? Do ex-lobista Jack Abramoff, considerado o símbolo máximo da
corrupção, e que após 4 anos numa prisão federal por suborno de funcionários
públicos, viaja pelo país para promover reformas. Palavras ditas pelo próprio
no documentário. Mas o imperdível documentário traz mais depoimentos sinistros.
De Jeffrey Sachs, apresentado no documentário como Professor de Economia da
Universidade de Columbia, ele traz as seguintes palavras:
"Washington é praticamente operada pelo setor corporativo americano. Há tantos bilhões de dólares gastos com lobby, há tantos lobistas redigindo leis hoje em dia, há tanto financiamento de campanhas políticas, há tantos políticos comprados. (...) Os EUA se tornaram um lugar onde o dinheiro compra tudo."
Nascido em
5 de novembro de 1954, Jeffrey David Sachs é um economista americano,
acadêmico, analista de políticas públicas e ex-diretor do Instituto Terra na
Universidade de Columbia, onde detém o título de professor universitário. Ele é
conhecido como um dos maiores especialistas do mundo em desenvolvimento
econômico e combate à pobreza, diz a Wikipédia.
Voltando ao que é dito no excelente texto de Antonio Muñoz Molina, segue um trecho com informações
sobre os irmãos Koch por ele obtidas nos livros Dark Money e Kochland.
"Há décadas financiavam cadeiras universitárias, centros de estudo, campanhas políticas, toda uma máquina formidável dedicada a um único objetivo: o descrédito e a anulação da capacidade reguladora e de redistribuição do Estado, e de qualquer limite fiscal, social e ambiental à exploração dos recursos naturais e ao enriquecimento dos mais ricos. (...) Gastaram centenas de milhões em financiamentos de campanhas de candidatos extremistas hostis aos impostos, aos direitos sindicais."
Financiamentos e gastos que não se restringem aos Estados
Unidos. No tempo em que eu lia jornais e revistas (antes da pandemia), algumas
vezes encontrei referências a atuação dos irmãos Koch no Brasil. Todas elas
envolvendo o MBL - Movimento Brasil Livre. Livre de que, pergunto eu.
"Os
EUA se tornaram um lugar onde o dinheiro compra tudo.", diz Jeffrey Sachs,
no imperdível documentário intitulado
"Park
Avenue: Dinheiro, Poder e o Sonho Americano - Por que Pobreza?".
E pelo que é dito no parágrafo acima, compra tudo
não só nos EUA, mas também em outros países. Vocês já ouviram falar em empresas
multinacionais? Pois é!
"Política não é centralmente uma questão de ética. É, essencialmente, uma questão de interesses. (...) O que se disputa mesmo em política são interesses. E interesses sempre se apresentam de forma antagônica, mais ainda numa sociedade de classes, excludente, com extremas desigualdades econômicas (...) Enfim, todo ato de desmonte, de antigoverno, de desgoverno passa pela compreensão da disputa de interesses."
O parágrafo acima reproduz palavras de Elias
França extraídas de seu elucidativo texto espalhado pela postagem intitulada Desenhando o sentido de política para mau entendedor, publicada três postagens atrás. Uma das intenções ao publicar as
três postagens subsequentes – Os donos do
Mundo e as duas espalhando Reflexões
provocadas por "Os donos do mundo" é validar tais palavras. Alguém discorda de que elas
estejam validadas? Validadas multinacionalmente, entendo eu.
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