"O futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres."
(D. H. Lawrence [1885 – 1930], escritor inglês)
Neste ano, a postagem
alusiva ao Dia Internacional da Mulher
espalha um texto composto de trechos selecionados de um livro da feminista e
escritora nigeriana Chimamanda
Ngozi Adichie (1977) intitulado Sejamos
todos feministas. Feita por mim, a seleção considera o tamanho máximo que
imagino ser suportável pela maioria das pessoas nestes tempos em que qualquer
escrito que excede 140 caracteres passou a ser considerado um textão. A quantidade
de pessoas que têm pouco fôlego para leitura é algo impressionante!
Segundo a autora, "O livro apresenta uma versão modificada de uma palestra que deu em dezembro de
2012 no TEDxEuston, conferência anual com foco na África."
Sejamos todos feministas
A questão de
gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a
planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens
mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim
que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente.
Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente.
O modo como
criamos nossos filhos homens é nocivo: nossa definição de masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade
que existe nos meninos, enclausurando-os numa jaula pequena e resistente.
Ensinamos que eles não podem ter medo, não podem ser fracos ou se mostrar
vulneráveis, precisam esconder quem realmente são – porque eles têm que ser,
como se diz na Nigéria, homens duros.
Mas o pior é que,
quando os pressionamos a agir como durões, nós os deixamos com o ego muito
frágil. Quanto mais duro um homem acha que deve ser, mais fraco será seu ego. E
criamos as meninas de uma maneira bastante perniciosa, porque as ensinamos a
cuidar do ego frágil do sexo masculino. Ensinamos as meninas a se encolher, a
se diminuir, dizendo-lhes: "Você pode ter ambição, mas não muita. Deve almejar
o sucesso, mas não muito. Senão você ameaça o homem. Se você é a provedora da
família, finja que não é, sobretudo em público. Senão você estará emasculando o
homem". Por que, então,
não questionar essa premissa? Por que o sucesso da mulher ameaça o homem?
Bastaria descartar a palavra – e não sei se existe outra palavra em inglês de
que eu desgoste tanto – "emasculação".
Não é fácil
conversar sobre a questão de gênero. As pessoas se sentem desconfortáveis, às
vezes até irritadas. Nem homens nem mulheres gostam de falar sobre o assunto,
contornam rapidamente o problema. Porque a ideia de mudar o status quo é sempre penosa.
Algumas pessoas me
perguntam: "Por que usar a
palavra 'feminista'? Por que não dizer que você
acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?". Porque seria desonesto. O
feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral – mas
escolher uma expressão vaga como "direitos humanos" é negar a especificidade e
particularidade do problema de gênero. Seria uma maneira de fingir que as
mulheres não foram excluídas ao longo dos séculos. Seria negar que a questão de
gênero tem como alvo as mulheres. Que o problema não é ser humano, mas especificamente
um ser humano do sexo feminino. Por séculos, os seres humanos eram divididos em
dois grupos, um dos quais excluía e oprimia o outro. É no mínimo justo que a
solução para esse problema esteja no reconhecimento desse fato.
Alguns homens se
sentem ameaçados pela ideia do feminismo. Acredito que essa ameaça tenha origem
na insegurança que eles sentem. Como foram criados de um determinado modo,
quando não estiverem “naturalmente’ dominando, como homens, a situação,
sentirão a autoestima diminuída. Outros talvez enfrentem a palavra "feminismo" da seguinte maneira: "Tudo bem, isso é interessante,
mas não é meu modo de pensar. Aliás, eu nem sequer penso na questão de gênero". Talvez não pensem mesmo. E
isso é parte do problema: os homens não pensam na questão do gênero, nem notam
que ela existe. Muitos não fazem nada para mudar a situação das coisas.
Como a questão de
gênero incomoda, as pessoas recorrem a vários argumentos para cortar a
conversa. Algumas lançam mão da biologia evolutiva dos macacos, lembrando como
as fêmeas, por exemplo, se curvam perante os machos. Mas a questão é a
seguinte: nós não somos macacos. Macacos vivem em árvores e comem minhocas.
Nós, não.
Tem gente que diz
que a mulher é subordinada ao homem porque isso faz parte da nossa cultura. Mas
a cultura está sempre em transformação. Para que serve a cultura? A cultura
funciona, afinal de contas, para preservar e dar continuidade a um povo. A
cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade
inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa
cultura.
Tenho a impressão
de que a palavra "feminista", como a própria ideia de
feminismo também é limitada por estereótipos.
Eu tinha catorze
anos. Um dia, na casa dele, discutíamos – metralhávamos opiniões imaturas sobre
livros que havíamos lido. Não lembro exatamente o teor da conversa. Mas eu
estava no meio de uma argumentação quando Okoloma olhou para mim e disse: "Sabe de uma coisa? Você é
feminista!". Não era um
elogio. Percebi pelo tom da voz dele – era como se dissesse: "Você apóia o terrorismo!"
Não sabia o que a
palavra "feminista" significava. E não queria que
Okoloma soubesse que eu não sabia. Então disfarcei e continuei argumentando. A
primeira coisa que faria ao chegar em casa seria procurar a palavra no
dicionário.
Penso com
frequência no meu amigo Okoloma. Ele tinha razão, anos atrás, ao me chamar de
feminista. Eu sou feminista. Naquele dia, quando cheguei em casa e procurei a
palavra no dicionário, foi este o significado que encontrei: "Feminista: uma pessoa que
acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos".
"Temos que parar de pensar no feminismo
como uma espécie de festinha exclusiva para a qual poucas pessoas são
convidadas. Nosso objetivo é a igualdade no mundo. Queremos chegar a um ponto
em que não vamos mais precisar do feminismo. Para isso acontecer, todo mundo
tem que se envolver. Portanto, precisamos de homens feministas para mudar outros
homens."
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"O futuro da humanidade não será decidido pelas relações
entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres.", eis a afirmação de D. H. Lawrence (1885 – 1930), escritor inglês, que
epigrafa esta postagem.
Futuro que só será algo que preste; algo que,
finalmente, faça jus ao termo civilização, se, nas relações entre homens e
mulheres, ambos encontrarem para a palavra feminista o mesmo significado
encontrado por Chimamanda Ngozi Adichie (1977): "Feminista: uma pessoa que
acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos", digo eu. Por que digo isso? Porque só assim
chegaremos a um ponto que Chimamanda diz que queremos
chegar. Que ponto é esse? É o descrito por suas palavras reproduzidas no
próximo parágrafo.
"Queremos chegar a um ponto em que não vamos mais precisar do feminismo. Para isso acontecer, todo mundo tem que se envolver. Portanto, precisamos de homens feministas para mudar outros homens."
"Todas
as pessoas grandes foram um dia crianças. Pena que sejam
poucas as que se lembram disso", diz Antoine de Saint-Exupéry. Fazendo uma
paráfrase: "Todos os homens grandes foram um dia
hóspedes do ventre de uma mulher. Pena que sejam poucos
os que se lembram disso".
Os que se
lembram dificilmente deixarão de atender ao chamado feito por Chimamanda. Para
os que não se lembram, fica aqui o apelo para refletirem sobre a paráfrase
feita no parágrafo anterior, com a esperança de que surjam reflexões que os
levem a entender que sem a permissão de uma mulher eles não teriam conseguido sequer
existir nesta dimensão.
Diante de
tudo que foi dito até aqui, embora seja uma postagem alusiva ao Dia Internacional da Mulher, suas
últimas palavras são direcionadas aos
homens. Com que intenção? Recomendar-lhes que reconsiderem, urgentemente, seus
equivocados conceitos e preconceitos em relação à questão de gênero.
Compreendido?
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