terça-feira, 8 de março de 2022

Sejamos todos feministas

"O futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres."

(D. H. Lawrence [1885 – 1930], escritor inglês)

Neste ano, a postagem alusiva ao Dia Internacional da Mulher espalha um texto composto de trechos selecionados de um livro da feminista e escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (1977) intitulado Sejamos todos feministas. Feita por mim, a seleção considera o tamanho máximo que imagino ser suportável pela maioria das pessoas nestes tempos em que qualquer escrito que excede 140 caracteres passou a ser considerado um textão. A quantidade de pessoas que têm pouco fôlego para leitura é algo impressionante!
Segundo a autora, "O livro apresenta uma versão modificada de uma palestra que deu em dezembro de 2012 no TEDxEuston, conferência anual com foco na África." 
Sejamos todos feministas
A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente.
O modo como criamos nossos filhos homens é nocivo: nossa definição de masculinidade é muito estreita. Abafamos a humanidade que existe nos meninos, enclausurando-os numa jaula pequena e resistente. Ensinamos que eles não podem ter medo, não podem ser fracos ou se mostrar vulneráveis, precisam esconder quem realmente são – porque eles têm que ser, como se diz na Nigéria, homens duros.
Mas o pior é que, quando os pressionamos a agir como durões, nós os deixamos com o ego muito frágil. Quanto mais duro um homem acha que deve ser, mais fraco será seu ego. E criamos as meninas de uma maneira bastante perniciosa, porque as ensinamos a cuidar do ego frágil do sexo masculino. Ensinamos as meninas a se encolher, a se diminuir, dizendo-lhes: "Você pode ter ambição, mas não muita. Deve almejar o sucesso, mas não muito. Senão você ameaça o homem. Se você é a provedora da família, finja que não é, sobretudo em público. Senão você estará emasculando o homem". Por que, então, não questionar essa premissa? Por que o sucesso da mulher ameaça o homem? Bastaria descartar a palavra – e não sei se existe outra palavra em inglês de que eu desgoste tanto – "emasculação".
Não é fácil conversar sobre a questão de gênero. As pessoas se sentem desconfortáveis, às vezes até irritadas. Nem homens nem mulheres gostam de falar sobre o assunto, contornam rapidamente o problema. Porque a ideia de mudar o status quo é sempre penosa. 
Algumas pessoas me perguntam: "Por que usar a palavra 'feminista'? Por que não dizer que você acredita nos direitos humanos, ou algo parecido?". Porque seria desonesto. O feminismo faz, obviamente, parte dos direitos humanos de uma forma geral – mas escolher uma expressão vaga como "direitos humanos" é negar a especificidade e particularidade do problema de gênero. Seria uma maneira de fingir que as mulheres não foram excluídas ao longo dos séculos. Seria negar que a questão de gênero tem como alvo as mulheres. Que o problema não é ser humano, mas especificamente um ser humano do sexo feminino. Por séculos, os seres humanos eram divididos em dois grupos, um dos quais excluía e oprimia o outro. É no mínimo justo que a solução para esse problema esteja no reconhecimento desse fato.
Alguns homens se sentem ameaçados pela ideia do feminismo. Acredito que essa ameaça tenha origem na insegurança que eles sentem. Como foram criados de um determinado modo, quando não estiverem “naturalmente’ dominando, como homens, a situação, sentirão a autoestima diminuída. Outros talvez enfrentem a palavra "feminismo" da seguinte maneira: "Tudo bem, isso é interessante, mas não é meu modo de pensar. Aliás, eu nem sequer penso na questão de gênero". Talvez não pensem mesmo. E isso é parte do problema: os homens não pensam na questão do gênero, nem notam que ela existe. Muitos não fazem nada para mudar a situação das coisas.
Como a questão de gênero incomoda, as pessoas recorrem a vários argumentos para cortar a conversa. Algumas lançam mão da biologia evolutiva dos macacos, lembrando como as fêmeas, por exemplo, se curvam perante os machos. Mas a questão é a seguinte: nós não somos macacos. Macacos vivem em árvores e comem minhocas. Nós, não.
Tem gente que diz que a mulher é subordinada ao homem porque isso faz parte da nossa cultura. Mas a cultura está sempre em transformação. Para que serve a cultura? A cultura funciona, afinal de contas, para preservar e dar continuidade a um povo. A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura.
Tenho a impressão de que a palavra "feminista", como a própria ideia de feminismo também é limitada por estereótipos.
Eu tinha catorze anos. Um dia, na casa dele, discutíamos – metralhávamos opiniões imaturas sobre livros que havíamos lido. Não lembro exatamente o teor da conversa. Mas eu estava no meio de uma argumentação quando Okoloma olhou para mim e disse: "Sabe de uma coisa? Você é feminista!". Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz dele – era como se dissesse: "Você apóia o terrorismo!"
Não sabia o que a palavra "feminista" significava. E não queria que Okoloma soubesse que eu não sabia. Então disfarcei e continuei argumentando. A primeira coisa que faria ao chegar em casa seria procurar a palavra no dicionário.
Penso com frequência no meu amigo Okoloma. Ele tinha razão, anos atrás, ao me chamar de feminista. Eu sou feminista. Naquele dia, quando cheguei em casa e procurei a palavra no dicionário, foi este o significado que encontrei: "Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos".
"Temos que parar de pensar no feminismo como uma espécie de festinha exclusiva para a qual poucas pessoas são convidadas. Nosso objetivo é a igualdade no mundo. Queremos chegar a um ponto em que não vamos mais precisar do feminismo. Para isso acontecer, todo mundo tem que se envolver. Portanto, precisamos de homens feministas para mudar outros homens."
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"O futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres.", eis a afirmação de D. H. Lawrence (1885 – 1930), escritor inglês, que epigrafa esta postagem.
Futuro que só será algo que preste; algo que, finalmente, faça jus ao termo civilização, se, nas relações entre homens e mulheres, ambos encontrarem para a palavra feminista o mesmo significado encontrado por Chimamanda Ngozi Adichie (1977): "Feminista: uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos", digo eu. Por que digo isso? Porque só assim chegaremos a um ponto que Chimamanda diz que queremos chegar. Que ponto é esse? É o descrito por suas palavras reproduzidas no próximo parágrafo.
"Queremos chegar a um ponto em que não vamos mais precisar do feminismo. Para isso acontecer, todo mundo tem que se envolver. Portanto, precisamos de homens feministas para mudar outros homens."
"Todas as pessoas grandes foram um dia crianças. Pena que sejam poucas as que se lembram disso", diz Antoine de Saint-Exupéry. Fazendo uma paráfrase: "Todos os homens grandes foram um dia hóspedes do ventre de uma mulher. Pena que sejam poucos os que se lembram disso".
Os que se lembram dificilmente deixarão de atender ao chamado feito por Chimamanda. Para os que não se lembram, fica aqui o apelo para refletirem sobre a paráfrase feita no parágrafo anterior, com a esperança de que surjam reflexões que os levem a entender que sem a permissão de uma mulher eles não teriam conseguido sequer existir nesta dimensão.
Diante de tudo que foi dito até aqui, embora seja uma postagem alusiva ao Dia Internacional da Mulher, suas últimas palavras são direcionadas aos homens. Com que intenção? Recomendar-lhes que reconsiderem, urgentemente, seus equivocados conceitos e preconceitos em relação à questão de gênero. Compreendido?

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