"Políticos são atores que leem palavras de um roteiro que cabe aos endinheirados deste planeta escrever."
(David Koch, que com seu irmão Charles chegou a estar na 8ª posição na lista dos mais ricos do planeta)
Em 10 de
fevereiro de 1898 nascia, na Alemanha, Bertolt Brecht, um dos maiores poetas e
dramaturgos do século XX. Com uma objetiva crítica política, Brecht expôs em seus
poemas e peças problemas que, sessenta e seis anos após sua morte, em 14 de
agosto de 1956, continuam atuais. Seu poema "O Analfabeto Político" (reproduzido
nesta postagem) continua fazendo enorme sentido. Para homenagear Brecht em seu "aniversário"
de 124 anos, esta postagem traz um recente texto do poeta e escritor Elias
França no qual, fazendo alusão aos "analfabetos políticos", ele "desenha
o sentido de política para mau entendedor". Até o momento da publicação
desta postagem, um vídeo com o referido texto era encontrável em https://www.youtube.com/watch?v=NqeS9QEi3t4.
Desenhando o sentido
de política para mau entendedor
A questão não é honestidade versus corrupção. Política
não é centralmente uma questão de ética. É, essencialmente, uma questão de
interesses. O projeto que venceu as últimas eleições foi o dos mineradores, dos
criadores de gado, dos vendedores de armas, do mercado da fé, do Banco Pactual,
das milícias cariocas.
E tudo o que está sendo feito ou desfeito, pois se trata
de um projeto de desconstrução, é em atendimento aos interesses dos vencedores.
Bolsonaro é mentiroso, é envolvido com a máfia das milícias, é mesquinho e
repugnante? Sim, é o que todo mundo está constatando. Mas uma coisa é certa.
Como candidato, Bolsonaro não fez promessas, não foi a debates apresentar
propostas. Sequer programa ou plano de governo tinha. Portanto, ele não enganou
a ninguém.
Esse discurso de que todo político é desonesto,
mentiroso, é subterfúgio de analfabetos políticos que sempre votam nos piores.
É desculpa esfarrapada para justificar o fanatismo, a idolatria aos piores
trastes, da parte de quem escolhe mal e quer igualar todos a seus ídolos
asquerosos.
Não é por desonestidade que Bolsonaro incentiva a
destruição da Amazônia, do Pantanal. É simplesmente porque seu compromisso com
criadores de gado e mineradores assim exige. Também a reforma administrativa,
trabalhista, previdenciária, o desmonte da educação pública não é uma questão
ética, é simplesmente uma questão de compromisso com o patronato, com os
bancos, com o setor privado.
Viver reduzindo política à dicotomia honestidade versus
corrupção é estratégia para enganar trouxas. Honestidade é importante? Sim. É
um valor universal, um princípio que deve nortear toda a prática humana. Mas
eleições não prendem ninguém, não apuram crimes, não indiciam malfeitores. O
que se disputa mesmo em política são interesses. E interesses sempre se
apresentam de forma antagônica, mais ainda numa sociedade de classes,
excludente, com extremas desigualdades econômicas como é o caso do Brasil.
Assim, para criar bois no pantanal tem que matar as onças
pintadas, os jacarés. Para extrair minério na Amazônia tem que queimar a mata,
desalojar os índios. Para os bancos venderem planos de previdência privada tem
que acabar com a aposentadoria pública. Para vender plano de saúde, para dar
lucro as escolas e as universidades privadas, para vender milagres, vender
armas, para quase todo negócio privado é preciso afastar o estado, o bem
público.
Enfim, todo ato de desmonte, de antigoverno, de
desgoverno que estamos tendo passa pela compreensão da disputa de interesses.
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"Política não é centralmente uma questão de ética.
É, essencialmente, uma questão de interesses. (...) O que se disputa mesmo em
política são interesses. E interesses sempre se apresentam de forma antagônica,
mais ainda numa sociedade de classes, excludente, com extremas desigualdades
econômicas (...) Enfim, todo ato de desmonte, de antigoverno, de desgoverno
passa pela compreensão da disputa de interesses.", diz Elias França em seu
elucidativo texto.
E
em um mundo em que o dinheiro compra tudo, na esmagadora maioria das
vezes, a vitória em uma disputa de interesses fica com os endinheirados.
Vitória conseguida por meio de uma atividade denominada lobby. Atividade
para a
qual encontrei no Dicionário de Palavras
& Expressões Estrangeiras, de Luís Augusto Fischer, o significado
reproduzido a seguir.
Lobby – Palavra inglesa que significa "vestíbulo", local de entrada em um prédio, uma casa (também se pode chamar com palavras não-portuguesas nossas conhecidas, como hall e foyer). Em se tratando de prédios públicos, o lobby é a "sala comum", de acesso franco, não restrito aos funcionários. Parece que vem do latim medieval lobia, "claustro de mosteiro". Mas o que importa é que, a partir da ideia do lobby como local de entrada do edifício público – imagine logo uma sala na Assembléia Legislativa, no Parlamento -, criou-se a ideia contida no verbo inglês to lobby, "fazer lobby", que significa "fazer pressão", fazer política, exercitar a conversa ao pé do ouvido do parlamentar, justamente a partir do tal lobby no sentido do local. O primeiro lobby assim chamado era o da Casa dos Comuns britânica, desde o começo do século 17. Há registro do verbo, em inglês norte-americano, desde o começo do século 19.
"'Fazer lobby', que significa 'fazer pressão',
exercitar a conversa ao pé do ouvido do parlamentar"! Será que essas
palavras de Luís Augusto Fischer vão ao encontro do que diz Elias França: "Política
não é centralmente uma questão de ética."? Feita essa indagação, passemos ao texto do "aniversariante" de
hoje.
O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos
políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do
peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões
políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa
o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce
a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o
político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo.
*************
Hoje, o analfabetismo político vai além do descrito por
Brecht, pois inclui também o analfabetismo político funcional. Analfabetismo
que caracteriza aqueles que embora ouçam, falem e imaginem participar dos
acontecimentos políticos, o fazem sem compreender o que, realmente, seja política,
como elucida Elias França.
"Enfim, todo ato de desmonte, de antigoverno, de
desgoverno passa pela compreensão da disputa de interesses.", diz Elias
França em seu elucidativo texto.
Enfim, não sabe o imbecil que, da sua ignorância
política, da incompreensão da política como disputa de interesses, nascem os donos
do mundo, essas sinistras criaturas que serão focalizadas na próxima postagem,
digo eu, encerrando esta, com palavras de Bertolt Brecht e de Elias França.
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