quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Uma Nova Pessoa (I)

"É promissor constatar que um número progressivo de indivíduos, das mais diversas origens, culturas e ocupações, está abrindo os olhos, despertando e conspirando pela renovação consciente de nossos horizontes. Não será um bom tempo para os insensíveis, sonolentos e pretensiosos proprietários das velhas certezas!"
E a velha prática das recordações sucessivas está de volta! A leitura do parágrafo acima em Holística, uma mutação de consciência, trouxe-me a recordação de um texto intitulado Um Novo Mundo – Uma Nova Pessoa. De autoria do famoso psicólogo norte-americano Carl Rogers (1902 – 1987), ele foi publicado em 1981, e incluído no livro Em Busca de Vida em 1983, onde é apresentado imediatamente após o prefácio. Sua publicação quando o autor tinha 79 anos, seis anos antes de sua desencarnação, leva-me a classificar Carl Rogers como imprescindível, segundo o "critério" expresso nas seguintes palavras de (Bertolt Brecht [1898 – 1956], dramaturgo, poeta e encenador alemão): "Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis."
Entendendo mutação de consciência como algo relativo a pessoas, do texto "Um Novo Mundo – Uma Nova Pessoa", selecionei toda a parte que se refere a Uma Nova Pessoa e da parte que se refere a Um Novo Mundo apenas cinco parágrafos: os dois primeiros e os três últimos. Outra coisa que está de volta nesta postagem é o velho método Jack: ir por partes. Considerando o tamanho do texto e o fôlego de grande parte dos leitores, o texto "Uma Nova Pessoa" será apresentado em duas partes.
Um Novo Mundo – Uma Nova Pessoa
Nosso mundo está em uma tumultuada agonia, agonia de parto. Isto bem pode ser a desintegração precedente à destruição de nossa cultura pelo suicídio de um holocausto nuclear. Não podemos dissipar a possibilidade de estarmos na agonia final de nossa morte. Se é este o caso, não há, parece-me, muito o que ser dito. Será uma tarefa para os arqueólogos de um futuro distante diagnosticar a nossa fatal doença.
Por outro lado, o atual caos, o terrorismo, a confusão, o desmoronamento de governos e de instituições, podem ser as dores de um mundo em trabalhos de parto. Existem muitas razões para acreditar que estamos envolvidos nas aflições do nascimento de uma nova era. Se assim for, estamos também envolvidos no processo de nascimento de um novo ser humano, capaz de viver nessa nova era, nesse mundo transformado. É esta possibilidade que eu gostaria de considerar.
(...)
E o próprio homem não pode mais ser visto como um grande computador, como um pacote mecânico de estímulo e resposta. Nosso conceito de pessoa está diante de uma drástica mudança. Esta pessoa tem, pelo que nos é dado a perceber, um potencial inimaginado. A inteligência não consciente desta pessoa tem capacidades enormes. Pode controlar muitas funções corporais, pode curar doenças, pode criar realidades novas. Pode penetrar no futuro, ver coisas à distância, transmitir pensamentos diretamente. Esta pessoa está ganhando tanto uma nova consciência de sua força e poder quanto o reconhecimento de que a única coisa constante na vida é o processo de mudança. Parece que precisamos ver o indivíduo primariamente como uma pessoa que está continuamente se transformando, uma pessoa transcendente.
Este é o novo mundo em direção ao qual estamos inevitavelmente nos movendo. É um mundo em que a realidade como a temos conhecido desapareceu; um mundo em que a ciência como a conhecemos se transforma em nada mais do que uma parte de um todo muito mais misterioso e místico em que o indivíduo, como uma compreensível máquina de músculos, nervos e cérebro não existe mais; ao invés disto, descobre-se um ser misterioso, incrivelmente capaz, sempre em processo.
Pouco é de se estranhar que estejamos confusos, alternadamente arrogantes e amedrontados, com nossos objetivos em estado caótico, em meio a mudanças sociais que parecem estar além do controle. Estamos enfrentando uma combinação de mudanças paradigmáticas que podem ser mais poderosas do que qualquer coisa que o mundo tenha visto antes. As possibilidades, tanto para a ruptura quanto para a vida criativa são enormes.
A Nova Pessoa
Quem será capaz de viver neste mundo completamente estranho e novo? Acredito que serão aqueles jovens na mente e no espírito – e, frequentemente, isto significa dizer aqueles que são igualmente jovens de corpo. Nossos jovens se tornarão pessoas novas, ao crescerem envolvidos pelos padrões de um mundo tais como os que tenho estado descrevendo – serão aptos para viverem no mundo do amanhã. A eles se juntarão pessoas mais velhas que absorveram os conceitos em transformação.
Não todos, naturalmente. Ouço falar que as pessoas jovens estão interessadas apenas em empregos e segurança, que são pessoas que não correm o risco de inovar, são apenas conservadores buscando ser o "número um." Talvez isto seja verdade. Com certeza não o é com relação às pessoas jovens com quem eu entro em contato. Estou certo, entretanto, de que muitos vão continuar a viver em nosso mundo atual e somente um número limitado viverá neste novo mundo de amanhã.
De onde virão? Observo que já estão nascendo. Onde os tenho encontrado? Entre executivos de companhias que abriram mão da degradante "vida do colarinho branco", da sedução por altos salários e opções de mercado para viver uma vida nova e mais simples.
Encontro-os entre jovens homens e mulheres de blue jeans que desdenham a maior parte dos valores da cultura de hoje para viver de novas formas. Entre padres, freiras e ministros que deixaram para trás os dogmas de suas instituições para viver de um modo mais pleno de significado. Entre mulheres que estão ascendendo vigorosamente acima das limitações que a sociedade colocou sobre suas personalidades. Entre negros, chicanos (Gíria norte-americana que designa imigrantes latinos nos EUA, principalmente mexicanos e porto-riquenhos.) e membros de outras minorias que estão se destacando de gerações de passividade para uma vida assertiva, positiva.
Encontro-os entre aqueles que experienciam grupos de encontro, que estão descobrindo um lugar para os sentimentos tanto quanto para o pensamento em suas vidas. Entre pessoas criativas que abandonaram a escola e estão se projetando a níveis mais altos que o que lhes permite a sua escolaridade estéril.
Encontro-os surgindo nos workshops (Esta palavra é frequentemente traduzida para o português como "laboratório". Uma outra expressão utilizada no sentido a que os autores deste livro se referem é "comunidade de aprendizagem".) internacionais e interculturais que têm sido uma importante parte de minha vida recente. Nestes, num clima centrado na pessoa, eles estão desenvolvendo um senso de comunidade baseado na confiança e no respeito, criando harmonia na diversidade, uma harmonia que se ajusta a este mundo novo.
Eles estão construindo redes interculturais de intercâmbio do tipo tão vividamente descrito por Marilyn Ferguson (1980). É verdadeiramente uma "Conspiração Aquariana", em que, por todo o mundo, multidões de pessoas que se identificam estão conspirando juntos, respirando juntos, descobrindo que vêem o mundo fundamentalmente desta nova forma.
Continua na próxima terça-feira

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