terça-feira, 27 de agosto de 2019

Aprendi

"Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim… Gabriela... sempre Gabriela", diz um trecho da música escrita por Dorival Caymmi e interpretada por Gal Costa que fez sucesso na TV na década de 1970, quando foi tema da personagem central da telenovela Gabriela — uma adaptação da obra do escritor brasileiro Jorge Amado – apresentada de abril a outubro de 1975.
O que enxergo nas palavras que Dorival Caymmi associou à personagem de Jorge Amado? Um desejo de fugir da imprescindibilidade de esforçar-se para mudar a si mesmo. Um desejo equivocado se considerarmos as seguintes palavras do extraordinário escritor uruguaio Eduardo Galeano: "Somos o que somos e ao mesmo tempo o que fazemos para mudar o que somos.".
E "o que fazemos para mudar o que somos" tem tudo a ver com o que aprendemos, pois como diz Eduardo Marinho, "Aprender não é opcional. Opcional é o jeito como se aprende. Afinal, a maior função da vida é aprender. Aprender por bem ou por mal; pelo bem ou pela dor."
E ao falar da obrigatoriedade de aprender, me vem à mente algo dito por Otto von Bismarck, o Chanceler de Ferro, em 1888. "Os povos inteligentes aprendem da experiência alheia; os medíocres aprendem por sua própria experiência; os ineptos simplesmente não aprendem.". Troque-se "Os povos" por "Os indivíduos" e a afirmação permanece válida, digo eu, em 2019.
Feito esse preâmbulo, segue um texto intitulado Aprendi. Obtido na internet, onde sob o título Aprendi existem vários textos contendo diferentes "aprendizados", embora seja muitas vezes atribuído a William Shakespeare ou a Charles Chaplin, o texto é de autoria desconhecida e inclui trechos do livro "The Complete Live and Learn and Pass It On" de H. Jackson Brown Jr (1940 - ....), um escritor norte-americano conhecido por seu livro "Life's Little Instruction Book".
Independentemente de quem seja o autor, enxergo nas reflexões sobre o que é dito em Aprendi uma excelente oportunidade para colocar em prática a primeira das três partes da afirmação de Bismarck: aprender da experiência alheia, uma característica dos inteligentes. Afinal, somos ou não a espécie inteligente do universo.
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Aprendi
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.
Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.
Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos. Que posso usar meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.
Eu aprendi... Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida. Que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.
Aprendi... Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.
Aprendi que preciso escolher entre controlar os meus pensamentos ou ser controlado por eles. Que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem.
Aprendi que perdoar exige muita prática. Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.
Aprendi... Que nos momentos mais difíceis a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as coisas.
Aprendi que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel. Que jamais posso dizer a uma criança que os seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.
Eu aprendi... que o meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando, que eu tenho que me acostumar com isso. Que não é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me perdoar primeiro.
Aprendi que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.
Eu aprendi... Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.
Aprendi que numa briga eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não quero me envolver. Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não discutem não significa que elas se amem.
Aprendi que por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu também. Isso faz parte da vida.
Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.
Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.
Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério. E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.
Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.
Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.
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Conseguiram enxergar em Aprendi algum aprendizado que considerem válido? Espero que sim.

2 comentários:

lenondantas89@gmail.com disse...

Linda reflexão, é atribuída a vários autores, mas a sua autoria é de Veronica Shoffstall, feita aos 19 anos... Algo incrível num mundo cheio de 'medíocres', afinal sabedoria não está relacionado aos anos vividos e sim com o que foi aprendido pela suas experiências e de outros.
O que me assusta tbm é ver cada vez menos pessoas curiosas e com sede do mundo das ideias... Refletir a vida passou ser tarefa para formadores de opinião... O ócio filosófico tão importante para o autoconhecimento e para o exercício da mente e da gênese das ideias foi trocado por alienação em frente a voraz industria do entretenimento. Fomos feitos meros expectadores da vida?
Onde chegaremos?
Parabéns pelo blog!

Guedes disse...

Obrigado pela informação sobre a verdadeira autora da linda reflexão.

Agradeço-lhe os parabéns pelo blog e peço-lhe desculpas pela demora em responder seu interessante comentário.

O que lhe assusta também me assusta, pois concordo plenamente com tudo o que você diz em seu comentário.

Quanto à sua pergunta - Onde chegaremos? – minha resposta fundamenta-se na afirmação mais significativa que vi nesta vida: "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana", disse o teólogo, filósofo e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955).

Concordando com tal afirmação e que, consequentemente, a finalidade precípua da existência humana chama-se evolução, creio que, embora escolhendo os piores caminhos, algum dia (ainda extremamente distante), nós chegaremos a algo que faça jus ao temo civilização.

E ao falar em civilização, cito aqui uma afirmação que classifico como a segunda mais significativa que vi, até hoje: "A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim o do homem.", disse (Alexis Carrel (1873 - 1944). cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo francês que, em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia e, em 1935, publicou um livro intitulado O Homem, Esse Desconhecido que foi traduzido e reeditado transformando-se num grande êxito mundial até a década de 1950.