"Eu nasci assim, eu cresci assim,
eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim… Gabriela... sempre Gabriela", diz um trecho da música escrita por
Dorival Caymmi e interpretada por Gal Costa que fez sucesso na TV na década de
1970, quando foi tema da personagem central da telenovela Gabriela — uma adaptação
da obra do escritor brasileiro Jorge Amado – apresentada de abril a outubro de
1975.
O que enxergo nas palavras que Dorival Caymmi associou à personagem de
Jorge Amado? Um desejo de fugir da imprescindibilidade de esforçar-se para
mudar a si mesmo. Um desejo equivocado se considerarmos as seguintes palavras
do extraordinário escritor uruguaio Eduardo Galeano: "Somos o que somos e ao mesmo tempo o que fazemos para mudar
o que somos.".
E "o que fazemos para mudar
o que somos" tem tudo a ver com o que aprendemos, pois como diz Eduardo
Marinho, "Aprender não é
opcional. Opcional é o jeito como se aprende. Afinal, a maior função da vida é
aprender. Aprender por bem ou por mal; pelo bem ou pela dor."
E ao
falar da obrigatoriedade de aprender, me vem à mente algo dito por Otto von
Bismarck, o Chanceler de Ferro, em 1888. "Os povos inteligentes aprendem
da experiência alheia; os medíocres aprendem por sua própria experiência; os
ineptos simplesmente não aprendem.". Troque-se "Os povos" por
"Os indivíduos" e a afirmação permanece válida, digo eu, em 2019.
Feito
esse preâmbulo, segue um texto intitulado Aprendi. Obtido na internet, onde sob o
título Aprendi existem vários textos contendo
diferentes "aprendizados", embora seja muitas vezes atribuído a
William Shakespeare ou a Charles Chaplin, o texto é de autoria desconhecida e
inclui trechos do livro "The Complete Live and Learn and Pass It On"
de H. Jackson Brown Jr (1940 - ....), um escritor norte-americano conhecido por
seu livro "Life's Little Instruction Book".
Independentemente
de quem seja o autor, enxergo nas reflexões sobre o que é dito em Aprendi uma excelente oportunidade para
colocar em prática a primeira das três partes da afirmação de Bismarck:
aprender da experiência alheia, uma característica dos inteligentes. Afinal,
somos ou não a espécie inteligente do universo.
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Aprendi
Aprendi
que não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que
gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.
Aprendi
que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente
que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.
Aprendi
que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns
segundos. Que posso usar meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso
saber do que estou falando.
Eu
aprendi... Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o
resto da vida. Que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua
tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.
Aprendi...
Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter
paciência. Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio
coloquei.
Aprendi
que preciso escolher entre controlar os meus pensamentos ou ser controlado por
eles. Que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele
momento, independentemente do medo que sentem.
Aprendi
que perdoar exige muita prática. Que há muita gente que gosta de mim, mas não
consegue expressar isso.
Aprendi...
Que nos momentos mais difíceis a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu
achava que iria tentar piorar as coisas.
Aprendi
que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito
de ser cruel. Que jamais posso dizer a uma criança que os seus sonhos são
impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la
disso.
Eu
aprendi... que o meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando, que eu
tenho que me acostumar com isso. Que não é o bastante ser perdoado pelos
outros, eu preciso me perdoar primeiro.
Aprendi
que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar
por causa disso.
Eu
aprendi... Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu
sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.
Aprendi
que numa briga eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não quero me
envolver. Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem;
e quando duas pessoas não discutem não significa que elas se amem.
Aprendi
que por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu
também. Isso faz parte da vida.
Aprendi
que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de
gente que eu nunca vi antes.
Aprendi
também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.
Aprendi
que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério. E que
amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são
amigos.
Aprendi
que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que
desejemos retê-las para sempre.
Aprendi,
afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas,
e saber lutar pelas coisas em que acredito.
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Conseguiram
enxergar em Aprendi algum aprendizado
que considerem válido? Espero que sim.
2 comentários:
Linda reflexão, é atribuída a vários autores, mas a sua autoria é de Veronica Shoffstall, feita aos 19 anos... Algo incrível num mundo cheio de 'medíocres', afinal sabedoria não está relacionado aos anos vividos e sim com o que foi aprendido pela suas experiências e de outros.
O que me assusta tbm é ver cada vez menos pessoas curiosas e com sede do mundo das ideias... Refletir a vida passou ser tarefa para formadores de opinião... O ócio filosófico tão importante para o autoconhecimento e para o exercício da mente e da gênese das ideias foi trocado por alienação em frente a voraz industria do entretenimento. Fomos feitos meros expectadores da vida?
Onde chegaremos?
Parabéns pelo blog!
Obrigado pela informação sobre a verdadeira autora da linda reflexão.
Agradeço-lhe os parabéns pelo blog e peço-lhe desculpas pela demora em responder seu interessante comentário.
O que lhe assusta também me assusta, pois concordo plenamente com tudo o que você diz em seu comentário.
Quanto à sua pergunta - Onde chegaremos? – minha resposta fundamenta-se na afirmação mais significativa que vi nesta vida: "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana", disse o teólogo, filósofo e paleontólogo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955).
Concordando com tal afirmação e que, consequentemente, a finalidade precípua da existência humana chama-se evolução, creio que, embora escolhendo os piores caminhos, algum dia (ainda extremamente distante), nós chegaremos a algo que faça jus ao temo civilização.
E ao falar em civilização, cito aqui uma afirmação que classifico como a segunda mais significativa que vi, até hoje: "A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim o do homem.", disse (Alexis Carrel (1873 - 1944). cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo francês que, em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia e, em 1935, publicou um livro intitulado O Homem, Esse Desconhecido que foi traduzido e reeditado transformando-se num grande êxito mundial até a década de 1950.
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