É impressionante a quantidade de trechos
do texto A doença da ganância que
chamam minha atenção. Trechos que em sua maioria levam-me a associações com
coisas que li, e jamais esqueci. Considerando que associar ideias é uma das
melhores maneiras de absorvê-las, compartilho com vocês algumas das associações
que fiz a partir do elucidativo texto de Jan Nicolaas Kind.
"Todos nós temos potencial para
tendências gananciosas", diz Jan
Kind. Tendências que, no meu entender, têm enorme probabilidade de tornarem-se
práticas, pois o sentimento de não possuir o suficiente é algo que não está
relacionado apenas a uma coisa, mas sim a várias, como se pode ver na seguinte afirmação
de Jan: "Essa coisa pode ser dinheiro, poder,
sexo, comida, atenção, conhecimento..."
"Quando olhamos para a nossa história
relativamente recente (os últimos dois mil anos), concluímos que, apesar de
todos os nossos avanços tecnológicos e materiais, ainda nos comportamos como
perdulários tolos e egoístas.", diz Jan Kind, fazendo-me lembrar algo que li no livro
intitulado O Ato da Vontade, de Roberto Assagioli.
"Se um homem de uma civilização anterior à nossa – um grego da Antiguidade, digamos, ou um romano – aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação.
Notaria logo que o homem, não obstante o imponente grau de domínio sobre a natureza, possui um controle muito limitado sobre o seu interior. (...) Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas – é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos."
"Por sermos gananciosos, perdemos a noção
de quem realmente somos. (...) Mas, por causa da possessividade, as pessoas
pensam que possuem a terra onde temporariamente vivem. Para que os
apropriadores de terras se tornem 'proprietários de terras', incontáveis povos indígenas foram
dizimados. Como representantes da vida una, não possuímos nada. Nós pertencemos
às terras da mãe Terra, somos parte dela. É contra as leis que regem a natureza
construir muros para manter "os outros" de fora.", diz Jan Kind.
Sim, "perdemos a
noção de quem realmente somos", e equivocados dizimamos muitos daqueles
que não a perderam. "Incontáveis povos indígenas foram dizimados.",
diz Jan Kind, fazendo-me lembrar A Carta do Cacique
Seattle. Carta espalhada por este blog em 24 de fevereiro de 2011 em sua
nona postagem. Postagem que julguei conveniente ser antecedida por A história de uma
certa carta (21 de fevereiro de 2011), e da qual extraí o trecho apresentado a seguir.
"O grande chefe
de Washington deverá ensinar às suas crianças que o solo sob seus pés contém as
cinzas dos nossos avós. Assim elas aprenderão a respeitar a terra. E deve
ensinar a elas o que temos ensinado às nossas: que a terra é nossa mãe. O que
acontece com a terra, acontece com os filhos da terra."
Vocês concordam que o
Cacique Seattle não perdeu a noção de quem realmente somos?
"A Grande Muralha da China foi construída
para proteger os chineses dos ataques do norte. Mesmo assim os mongóis, em
1211, simplesmente a rodearam e invadiram partes do território, infligindo uma
terrível derrota ao imperador e seus exércitos.", diz Jan Kind. E aqui, em vez de
associação, uso uma paráfrase para fazer uma previsão: Os grandes condomínios
fechados são construídos para proteger os que têm dos ataques dos que não têm.
Mesmo assim os que não têm, em algum ano, simplesmente os rodearão e invadirão
partes do território, infligindo uma terrível derrota aos que imaginavam que
neles estariam protegidos. "É contra as leis que regem a natureza construir muros para manter 'os outros' de fora.", diz Jan.
"Quando uma parede é construída e uma
solução permanente é adiada, seus construtores correm o risco de que a correção
temporária agrave o problema.", diz Jan Kind, fazendo-me lembrar algo dito por Friedrich
Nieztsche: "O que não me mata me fortalece".
"Sabemos, teosoficamente, que estamos
todos interligados.", diz Jan Kind. Sabemos, "indigenamente", que
todas as coisa estão ligadas, digo eu, com base nas seguintes palavras do Cacique Seattle. "O que seria dos
homens sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma
imensa solidão de espírito. O que quer que aconteça com os animais, logo
acontece com os homens. Todas as coisas estão ligadas."
Sabemos, "indigenamente",
que tudo está interligado, digo eu, com base no seguinte trecho da introdução
de um livro intitulado Flua, de Louis Burlamaqui.
Certa vez, uma pessoa perguntou a um pajé e xamã americano de 101 anos.- O que você faz?
- Ensino meu povo.
- O que você ensina?
- Quatro coisas: primeiro, a escutar; segundo, que tudo está interligado; terceiro, que tudo está em transformação; quarto, que a Terra não é nossa, nós é que somos da Terra.
Sabemos, "cientificamente",
que tudo está interligado, digo eu, com base nas seguintes palavras de Fritjof
Capra no livro intitulado Pertencendo ao
Universo. "Qualquer que seja o problema (...) ele tem de ser percebido
como algo que está ligado aos outros. Para resolver qualquer problema isolado,
precisamos de um pensamento sistêmico, pois todos os problemas são sistêmicos,
interligados e interdependentes. E ao falar em pensamento sistêmico, recomendo
a leitura da quinta postagem deste blog - O Raciocínio Sistêmico (14 de fevereiro de 2011).
"É claro que é hora de acabar com a
ganância. (...) O dinheiro não deve controlar nossas vidas.", diz Jan Kinde.
"Reduzir o valor da vida ao dinheiro mata toda possibilidade de idealizar
um mundo melhor.", afirma Nuccio Ordine, professor de literatura italiana
da Universidade da Calábria, em artigo intitulado Democracia líquida, publicado na edição de 16.02.2014 do jornal O
Estado de S. Paulo. Tudo a ver, não?!
"É claro que é hora de acabar com a
ganância. (...) Em um mundo com tanto sofrimento e dor, é essencial irradiar
bondade, compartilhar e demonstrar compaixão, banindo para sempre a ganância de
nossas vidas.", diz Jan Kind. O que precisamos fazer para banir para sempre a ganância de nossas vidas?
Segundo Jan, "Precisamos
colocar em prática o primeiro objetivo da Sociedade Teosofia, formando um
núcleo de fraternidade universal: um núcleo capaz de estabelecer os exemplos
corretos (segundo Blavatsky)."
"Formar um núcleo
capaz de estabelecer os exemplos corretos"! Ou seja, dispormo-nos a comportarmo-nos
de forma contrária a da imensa maioria dos integrantes da pretensa espécie
inteligente do universo. Como assim? Em vez de esperarmos que os outros nos dêem
os exemplos corretos de como comportar-se na vida, sejamos nós a dar aos
outros tais exemplos.
"Vamos dar o exemplo.", eis a
conclamação expressa na frase final de Jan Kind, em seu elucidativo texto. "Seja
a mudança que você quer ver no mundo.", eis a conclamação de Gandhi que uso como última associação feita nestas reflexões.
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