quarta-feira, 22 de maio de 2019

O poder do abraço

"O melhor presente é um abraço: serve em qualquer pessoa e quem o dá não fica sentido se quem o receber devolvê-lo."
(Adaptação de duas frases encontradas na internet sem atribuição de autor)
Em mais uma postagem alusiva a uma data comemorativa que considero significativa, neste Dia do Abraço, segue um interessante texto publicado no livro Amor pelas coisas imperfeitas, de autoria de Haemin Sunim.
O poder do abraço
Talvez você já tenha ouvido falar que cada vez que alguém o abraça, você ganha mais um dia de vida. É claro que não há maneira de verificar se isso é mesmo verdade, mas nenhum de nós tem dificuldade de entender a mensagem. Quando achamos que as coisas estão ficando complicadas, um abraço caloroso e silencioso pode ter um poder de cura maior do que uma explicação detalhada sobre por que as coisas estão difíceis. Embora eu não possa livrá-lo da dor, ainda assim fico ao seu lado e não saio, inclusive nas piores situações. A maneira mais calorosa de expressar isso é através de um abraço.
Quando fui aos Estados Unidos pela primeira vez, demorei muito para me acostumar com a maneira ocidental de cumprimentar as pessoas. Em vez de me curvar educadamente do jeito coreano tradicional, tive que aprender a forma casual e sem reservas com que os amigos cumprimentam uns aos outros – um rápido aceno de cabeça e um "olá" quando passam uns pelos outros na rua. Tive que aprender que um aperto de mão não é apenas segurar a mão do outro, mas também envolve sorrir, olhar nos olhos e garantir que sua pegada não seja forte nem fraca demais. Mas, de todos os métodos de cumprimento, aquele com que demorei mais a me acostumar foi o abraço. Sobretudo porque, como monge, eu me acostumara a saudar as pessoas fazendo o hapjang – juntando as palmas em frente ao peito e me curvando a partir da cintura. Abrir os braços e abraçar alguém fazia com que eu me sentisse de certa forma envergonhado e constrangido.
Mas é claro que um cumprimento não é algo que se faz sozinho. Se você está se despedindo e a pessoa abre os braços para abraçá-lo, estender a mão para um aperto não apenas vai deixá-la sem graça como vai sugerir que você quer manter distância, o que pode parecer indelicado. Porém, depois de um tempo, quando meu relacionamento com o amigo ou colega já se tornara próximo o suficiente, aprendi a abraçar. Misteriosamente, o constrangimento inicial desapareceu aos poucos, sendo substituído por uma sensação de camaradagem, intimidade e simpatia.
Recentemente ouvi falar de alguns estudos interessantes sobre o abraço – a confirmação científica de que ele realmente faz bem para a saúde. Anthony Grant, um professor de psicologia na Universidade de Sydney, apresentou resultados de uma pesquisa que demonstram que, além de reduzir a ansiedade e a solidão, abraços diminuem nossos níveis do hormônio cortisol, que é secretado em resposta ao estresse; isso, por sua vez, aumenta a imunidade aos patógenos e diminui a pressão sanguínea. E, de acordo com Karen Grewen, da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, se um casal dá as mãos e se abraça por 20 segundos antes de sair de casa pela manhã, seus indicadores de estresse serão a metade em comparação com casais que não fazem isso. Em outras palavras, um abraço rápido e caloroso em alguém que amamos nos oferece uma camada de proteção, um isolamento em relação aos estresses do dia.
Como monge, ás vezes preciso oferecer às pessoas essa camada de proteção. Uma dessas ocasiões não me sai da cabeça até hoje. Foi numa noite de autógrafos numa grande livraria de Seul; eu estava assinando o livro de uma mulher e ela de repente disse, com a voz embargada:
- Haemin Sunim, dois meses atrás o pai dos meus filhos faleceu num acidente de carro. Estou em estado de choque e mal tenho saído de casa desde que isso aconteceu. Meu irmão caçula me deu seu livro de presente, provavelmente porque estava com pena de mim; chorei muito enquanto o lia, desde o primeiro capítulo. Por alguma razão, fiquei com a ideia de que, se eu ao menos pudesse conhecer você, isso me daria a coragem para seguir em frente e cuidar direito dos meus filhos. Vivo na zona rural, mas peguei o trem hoje de manhã para vir conhecê-lo pessoalmente.
A voz dela estava embargada e seu rosto, marcado pelas lágrimas. Naquele momento, sem me dar conta do que estava fazendo, me levantei da cadeira, fui em direção a ela e abri os braços. Depois de abraçá-la calorosamente por um instante, falei:
- Eu também vou orar pelo falecido pai dos seus filhos. O espírito dele deve estar observando você do outro mundo, vendo como segue vivendo e como cuidou bem das crianças. Neste momento você está muito solitária e a vida está muito difícil, mas por meio desta experiência você vai se tornar mais forte, mais sábia e mais compassiva. A partir de agora, as coisas vão melhorar aos poucos. Não se preocupe tanto.
Eu a abracei enquanto ela chorava, e pensei comigo mesmo: "Apesar de me faltarem muitas coisas, quero ser alguém que pode levar algum conforto às pessoas, que pode lhes dar coragem, como um raio quente de sol." Se alguém precisa de um abraço meu, eu dou de boa vontade, com prazer, sempre que necessário. Para vocês que estão lendo isto, se têm familiares ou amigos que estão passando por um momento difícil, lembrem-se de abraçá-los de vez em quando. Quem sabe possam prolongar mesmo a vida deles – e a de vocês também.
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"Talvez você já tenha ouvido falar que cada vez que alguém o abraça, você ganha mais um dia de vida. É claro que não há maneira de verificar se isso é mesmo verdade, mas nenhum de nós tem dificuldade de entender a mensagem."
Com as duas frases acima, Haemin Sunim inicia seu interessante texto intitulado O poder do abraço. Com as duas abaixo, ele o encerra.
"Para vocês que estão lendo isto, se têm familiares ou amigos que estão passando por um momento difícil, lembrem-se de abraçá-los de vez em quando. Quem sabe possam prolongar mesmo a vida deles – e a de vocês também.".
Inspirado por essas quatro frases de Haemin Sunim, encerro esta postagem alusiva ao Dia do Abraço com as seguintes palavras:
Talvez você já tenha ouvido falar que mais importante do que acrescentar dias à vida é acrescentar vida aos dias. Portanto, para vocês que estão lendo esta postagem, se têm familiares ou amigos, independentemente de estarem eles passando ou não por um momento difícil, lembrem-se de abraçá-los de vez em quando. Quem sabe possam acrescentar vida aos dias deles – e aos de vocês também.

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