Após rever a opinião de considerar desnecessária a publicação de uma
postagem contendo reflexões provocadas pela mensagem alusiva ao Dia do Amigo,
aqui está ela. Com um título composto por uma afirmação e uma indagação
instigantes, o vídeo, cuja transcrição originou a postagem anterior, contém várias
pesquisas usadas pelo autor para evidenciar o que de lamentável está
acontecendo com as amizades. "46% dos entrevistados disseram que não têm
amigos de verdade."; "50% das pessoas entrevistadas aqui se sentindo sozinhas
frequentemente, muitas vezes ou sempre."; "28% dos brasileiros têm, no máximo, um
amigo.", eis algumas das pesquisas nele citadas.
"Isso pode ser uma consequência do individualismo e da competitividade que são colocados como valores positivos como virtudes, como atributos desejáveis pela nossa sociedade, como se cada um lutar somente pelo seu fosse sinal de lucidez e maturidade, e não de um egocentrismo egoísta, (...) como se o sucesso individual fosse o único objetivo razoável e o crescimento desses valores na sociedade se correlaciona com o aumento do número de pessoas que reportam não ter amigos próximos ou se sentir solitários.", diz o autor do vídeo.
Ao que é dito no parágrafo acima,
faço o seguinte acréscimo: isso pode ser consequência da busca do que é mais
fácil. A postagem publicada no blog Lendo e opinando em 23 de setembro
de 2014 (faz tempo, hein!) tem como título: "Titular, Szczesny vê
disputa com Ospina mais fácil: 'Não é meu amigo'". E como subtítulo: "Goleiro do Arsenal disse em
entrevista a jornal polonês que não tem amizade e não se sente mal por deixar
colombiano no banco de reservas". Ou seja, de certa forma (ou seria de
errada forma?), não ter amizades pode tornar mais fácil a vida no ambiente
profissional. Sinistro, não? E ainda em conformidade com a busca do que é mais
fácil, seguem mais dois trechos extraídos do vídeo:
"Amizades, como todas as relações sociais levam tempo, precisam de esforço, energia e intencionalidade para sobreviver. E se você tem outras prioridades individuais não vai sobrar tempo para sustentar amizades.""E isso também tem a ver com tecnologia. Se você tem aparelhos que te ajudam a passar o tempo se distraindo sem amigos por perto, sem interações significativas, talvez você vá dispor de menos tempo e energia para interações pessoais profundas."
Optar pelo que seja mais fácil
em detrimento do que seja melhor; pelo que seja mais prático em detrimento do que
seja mais qualificado; pelo que já esteja pronto em detrimento do que seja necessário
desenvolver, eis uma opção que os homens já fazem há algum tempo. "Os
homens compram tudo pronto nas lojas... Mas como não há lojas de amigos, os
homens não têm amigos." O autor da frase? Antoine de Saint-Exupéry (1900 -
1944), autor do livro "O Pequeno Príncipe". Ou seja, não é de
hoje que problemas com a amizade entre os homens são apontados por quem com
eles não se conforma. Problemas que com o passar do tempo só pioraram. Piora
que, entre outras coisas, abrange as citadas no trecho do vídeo reproduzido a
seguir.
"Isso também se relaciona com a precarização do trabalho e a cultura de ser workaholic. Se você precisa se matar trabalhando durante a maior parte do dia não sobra tempo nem energia para sustentar amizades."
"Matar-se trabalhando durante a maior parte do dia", em trabalhos que David Graeber (1961 – 2020), professor de
Antropologia na London School of Economics, denominou Trabalhos de Merda
(título, em português, de um livro seu publicado em 2018) e, consequentemente, "não
sobrar tempo nem energia para sustentar amizades". Até porque, impedir o
desenvolvimento e a sustentação de amizades é um dos principais alvos de quem, por
beneficiar-se do presente estado das coisas, tudo o que quer é que nenhuma
mudança significativa seja realizada nesta insana sociedade, como se pode ver
no trecho do vídeo reproduzido no próximo parágrafo.
"Mas amizades também são coisas poderosas no sentido social e político porque qualquer mudança política significativa depende da proximidade entre as pessoas, depende da população se unir e se organizar em torno dos seus interesses. (...) É muito comum você se interessar por causas, partidos ou movimentos por conta de amigos e amigas que te apresentam, te motivam a trabalhar junto."
"Qualquer mudança política significativa depende da
proximidade entre as pessoas", afirma
o autor do vídeo. Ou seja, qualquer mudança significativa em uma sociedade
depende da amizade entre as pessoas. E o autor do vídeo pergunta: "Já
ouviu aquela história de 'o povo unido jamais será vencido'? Então, o povo
desunido... aí você faz as contas."
"E há estudos que mostram com clareza que a formação de vínculos afetivos é poderosa também pra manutenção das estruturas econômicas e dos recursos que permitem o sustento de todos. Que mostram, a partir de exemplos reais, como relações de convívio, de respeito, de mutualidade, de amizade podem fazer uma diferença definidora na manutenção dos recursos econômicos e ambientais. Que sociedades em que as pessoas são mais próximas, têm mais convívio umas com as outras, respeitam e preservam aquilo que é comum entre elas.", eis mais um instigante trecho extraído do vídeo. De quem são os referidos estudos? De Elinor Ostrom, a primeira mulher a ganhar um Nobel da Economia.
"Há estudos que mostram como relações
de amizade podem fazer uma diferença definidora na manutenção dos recursos
econômicos e ambientais. Que mostram que sociedades em que as pessoas são mais
próximas, têm mais convívio umas com as outras, respeitam e preservam aquilo
que é comum entre elas. Que a formação de vínculos afetivos é poderosa também
pra manutenção das estruturas econômicas e dos recursos que permitem o sustento
de todos". Ou seja, se
almejar, algum dia, conseguir viver, ou melhor, conviver em um mundo que preste
for algo presente entre os nossos desejos, no meu entender, o desenvolvimento
de relações de amizade é algo que jamais deverá estar ausente entre as nossas
ações.
"E depois de tudo isso, eu te pergunto: e se tudo der errado? Se nada, NADA disso funcionasse, se a amizade não fosse capaz de nos fazer mais saudáveis, mais espertos, mais longevos, mais felizes, capaz de nos fazer sermos mais nós mesmos, se ela não fosse uma peça fundamental pra que possamos nos unir, nos organizar, nos comunicar, nos entender, preservar o que precisa ser preservado e transformar o que precisa ser transformado, se nada disso fosse verdade, ainda assim, AINDA ASSIM, será que redescobrir a amizade não valeria pena em nome da própria amizade?", eis as palavras finais do excelente vídeo do canal Antídoto.
E depois de refletir várias
vezes sobre tudo o que é dito no referido vídeo, eu me perguntei: será que faz
sentido considerar desnecessária a publicação de uma postagem espalhando
algumas reflexões que me foram provocadas pelo que nele ouvi? Afinal, como é
dito no título de uma recente postagem deste blog, "Com conversa a gente
reflete; com reflexão a gente muda". E com o compartilhamento de reflexões,
quem sabe, a gente estimula a conversa e, consequentemente, a reflexão.
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