sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

A gente vai embora

"Por que estão chorando? Acreditaram que eu fosse imortal?"

  (Luís XIV, censurando dois de seus criados, que soluçam ao vê-lo expirar, por não terem se preparado para perdê-lo)
Neste blog em que, não poucas vezes, são espalhadas ideias que muitos podem considerar estranhas, como postagem inicial de um novo ano, segue mais uma que poderá ser classificada como tal. Seis dias após o término daquele período do ano em que as pessoas desejam que o ano corrente vá embora para dar lugar a outro que possa trazer dias melhores, este blog traz um texto que enxergo como uma mensagem em sintonia com o "espírito" desse período, e eu explico.
Assim como um ano vai embora para que outro chegue com a esperança de trazer dias melhores, entendo que a gente também vai embora para que outros espíritos cheguem com a esperança de contribuir na criação de dias melhores.
O texto reproduzido a seguir é a transcrição de um vídeo publicado em 01 de dezembro de 2022 no endereço https://www.youtube.com/watch?v=dDjaS_nlO88 em um canal no You Tube intitulado Camila Zen.
A gente vai embora
E fica tudo aqui. Os planos a longo prazo, as tarefas de casa, as dívidas com o banco, as parcelas do carro novo que a gente comprou para ter status.
A gente vai embora.
Sem sequer guardar as comidas na geladeira. Tudo vai apodrecendo. A roupa fica no varal.
A gente vai embora.
Se dissolve. A gente some. Toda a nossa importância se esvai. Essa importância que pensávamos que tínhamos. A vida continua, ela segue, as pessoas superam e vão seguindo as suas rotinas.
A gente vai embora.
As brigas, grosserias, impaciência, infidelidade, tudo isso serviu para nos afastar de quem só nos trazia felicidade e amor.
A gente vai embora.
E o mundo continua assim: caótico, muito louco. Como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença. E cá entre nós, não faz. Nós somos pequenos, mas nós somos arrogantes, prepotentes, metidos à besta.
A gente vai embora.
E é bem assim: piscou, num estalo a vida vai. O cachorro que eu amo tanto, ele é doado. O cachorro se apega aos novos donos, os viúvos se casam de novo, eles andam de mãos dadas, apaixonados, vão até ao cinema.
A gente vai embora.
E nós somos rapidamente substituídos naquele cargo que a gente ocupou na empresa. Nós somos substituídos no outro dia. As coisas que nós nem emprestávamos são doadas, algumas até jogadas fora.
Quando menos a gente espera, a gente vai embora. Aliás, quem é que espera morrer? Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse mais. Talvez a gente colocasse a nossa melhor roupa hoje. Talvez a gente comesse a sobremesa até antes do almoço. Talvez a gente esperasse menos dos outros. Talvez a gente risse mais, saísse à tarde para ver o por do sol. Talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro.
Hoje o tempo voa. A partir do momento que a gente nasce começa essa viagem, essa jornada fantástica, veloz, com destino ao fim, rumo ao fim. E ainda tem aqueles que vivem com pressa. Eu ainda tenho pressa. O que eu estou fazendo agora com o tempo que me resta?
Que possamos ser cada dia melhores, que saibamos reconhecer o que realmente importa nessa nossa breve passagem pela Terra. Só isso. Até porque, a gente vai embora. A gente vai embora.
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"Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse mais". Ao ouvir essas palavras no referido vídeo, veio-me à lembrança um texto de Jim Brown muitas vezes atribuído ao Dalai Lama. Intitulado Entrevista com Deus, até o momento da publicação desta postagem ele era encontrável em https://www.pensador.com/frase/OTA3Njc3/. Texto do qual selecionei, para esta postagem, o seguinte trecho:
- O que mais O surpreende a respeito dos homens?

Deus respondeu:

- Que vivam como se nunca fossem morrer e morram como se não tivessem vivido...

"Viver como se nunca fossem morrer e morrer como se não tivessem vivido", eis "o que mais surpreende Deus a respeito dos homens", segundo o texto de Jim Brown. "Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse mais", eis o que supõe a criatura que elaborou o texto que provocou esta postagem. Suposição em que a expressão viver mais não deve ser interpretada como viver por mais tempo, e sim como viver de forma melhor durante o tempo que nos for dado. Como diz aquela célebre e inesquecível frase da trilogia O Senhor dos Anéis, "A única coisa a fazer é decidir como usar o tempo que nos foi dado".
Considerando que a expressão esperar pela morte pode ser forte demais para uma enorme quantidade de pessoas, uso aqui a tradução da expressão latina Memento Mori para, de forma mais branda, reescrever a frase citada acima, deixando-a assim: "Se a gente lembrasse de que vai morrer, talvez a gente vivesse mais".
Memento Mori! ... "Lembra-te de que vais morrer", pois essa lembrança dá ao homem uma possibilidade de vida totalmente diferente. Uma possibilidade de conduzir suas ações e seus pensamentos por esse percurso que a gente chama de vida seguindo um roteiro totalmente diferente daquele que o homem seguirá se desprezar tal lembrança.
Não, ao contrário do que muitos possam pensar, a intenção ao publicar como primeira postagem deste ano um texto intitulado A gente vai embora não é estragar o ano daqueles que iludem-se com a ideia de que a simples chegada de um novo ano seja capaz de mudar sua vida para melhor.
Sim, a intenção ao publicar esta postagem é oferecer a leitura de um texto que, se for devidamente compreendido, poderá contribuir para um melhor aproveitamento não só deste, mas também de todos os anos (ninguém sabe quantos) que ainda vierem a ser oferecidos a cada um, durante o tempo finito de sua permanência nesta dimensão, pois um dia, "quando menos a gente espera", por mais que a gente insista em ignorar tal coisa, a gente vai embora. A gente vai embora.
Portanto, encerrando esta primeira postagem de 2023, segue a reprodução do último parágrafo do texto escolhido para ser por ela espalhado.
"Que possamos ser cada dia melhores, que saibamos reconhecer o que realmente importa nessa nossa breve passagem pela Terra. Só isso. Até porque, a gente vai embora. A gente vai embora."

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