quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Reflexões provocadas por "O desmonte do eu"

"Esta não é a natureza original com que nascemos, mas uma segunda natureza adquirida e modelada pela sociedade. (...) Torna-nos alienados de nós mesmos, de nossa verdadeira essência.", eis duas afirmações extraídas do excelente texto de Ernani Eustáquio publicado na edição de JUL / AGO 2021 de Sophia, e reproduzido na postagem anterior. Afirmações que, no meu entender, têm tudo a ver com uma de Vladimir Maiakovski (1893-1930), poeta, dramaturgo e teórico russo: "Cada um, ao nascer, traz sua dose de amor. Mas os empregos, o dinheiro, tudo isso, nos resseca o solo do coração."
Ressecamento que considero explicável por uma afirmação do filósofo e educador indiano Jiddu Krishnamurti (1895 – 1986), citada por Ernani Eustáquio em seu texto O desmonte do eu: "Somos todos indivíduos programados, condicionados." Sim, indivíduos programados, condicionados para desprezar uma afirmação de Teilhard de Chardin que considero a mais significativa que encontrei nesta vida: "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais vivendo uma experiência humana". Desprezando ou ignorando tal afirmação, a imensa maioria dos integrantes da pretensa espécie inteligente do universo segue por esse percurso que a gente chama de vida acreditando em coisas nocivas a si mesmas que lhes são apresentadas como verdades que precisam ser colocadas em prática. Um exemplo de tais coisas? A diplomação na "educação para a vitória", citada por Ernani Eustáquio e reproduzida no próximo parágrafo.
"Diplomados na 'educação para a vitória' – pois desde crianças ensinam-nos a colocar a vitória como objetivo, em todos os nossos empreendimentos -, tornamo-nos competitivos, os membros ideais para o sistema onde fomos educados e onde vivemos."
Não, a competição não é constituinte do biológico, e sim um fenômeno cultural promovido pelas diversas estruturas desta sociedade. "Não existe competição sadia. A competição é um fenômeno cultural e humano e não constituinte do biológico", eis uma afirmação de Humberto Maturana, doutor em alguns ramos da biologia. E para encerrar o assunto competição nesta postagem, pois existem várias postagens sobre o assunto neste blog, segue uma passagem do livro do Dr. Terry Orlick, um dos principais defensores da desenfatização do espírito competitivo, intitulado Vencendo a competição.
"Darwin ficou amargurado por suas teorias terem sido distorcidas e terem ajudado a perpetuar o mito da vitória-a-qualquer-custo e a ideia de que os 'perdedores' merecem ser esmagados. Entretanto, apesar do mau uso de suas teorias, Charles Darwin afirmou claramente que, para a raça humana, o valor mais alto de sobrevivência está no senso moral e na cooperação – e não na competição."
"Nesse processo 'educacional' está embutido o esforço de nossa modelagem segundo o padrão aceitável pela sociedade. Se não respondermos positivamente a esses padrões, corremos o risco de ser marginalizados. (...) Perdemos a nossa liberdade de ser. Passamos a ser autômatos responsivos, em comportamento, a padrões implantados em nossa mente." eis mais um trecho do excelente texto de Ernani Eustáquio que leva-me a uma associação com algo lido anteriormente. Ao ler "Perdemos a nossa liberdade de ser", imediatamente, vem-me à mente um relato feito por Roberto Crema no livro Eu Maior – Uma reflexão sobre o autoconhecimento e a busca da felicidade, organizado e editado por Fernando Schultz a partir de um documentário homônimo.
"A minha história é a história de alguém que sempre se sentiu um prisioneiro. Quando eu tinha 11 anos, meus pais me colocaram num reformatório por engano. Oficialmente, o local era um colégio interno, mas alguns adolescentes estavam lá presos, por terem cometido crimes. Lá fiquei durante um ano e pude me aprofundar nessa vivência de ser um prisioneiro. A experiência me fascinou de tal forma que, anos mais tarde, já adulto, eu quis fazer serviços voluntários na Papuda, que é um presídio em Brasília. Foi lá que me dei conta de que a grande diferença entre os presos da Papuda e o resto de nós é que lá eles sabem que são prisioneiros, enquanto aqui nos iludimos achando que somos livres. É mais fácil arrebentar as paredes de uma Papuda do que conseguir transcender os grilhões que nos prendem à ignorância de nós mesmos! Em última instância, como bem dizem os orientais, a prisão é maya, a ilusão. É você não saber quem é, de onde vem nem para onde vai. E, como dizem os bons navegantes, nenhum vento é favorável para aquele que não sabe aonde quer chegar. Já a liberdade é precisamente a pessoa tomar consciência e assumir a autoria da própria existência. Não é uma tarefa fácil, mas creio que é a nossa tarefa, capaz de trazer felicidade e dar sentido às nossas vidas."
"Se dar conta de que a grande diferença entre os presos de uma penitenciária e o resto de nós é que lá eles sabem que são prisioneiros, enquanto aqui nos iludimos achando que somos livres", eis algo que a imensa maioria da pretensa espécie inteligente do universo não consegue fazer durante esse percurso que a gente chama de vida. Sim, libertar-se de uma prisão reconhecida como tal será sempre mais fácil do que de uma que não se percebe. Sim, "a liberdade é precisamente a pessoa tomar consciência e assumir a autoria da própria existência. Não é uma tarefa fácil, mas creio que é a nossa tarefa, capaz de trazer felicidade e dar sentido às nossas vidas." E ao falar em "não ser uma tarefa fácil", o velho método das recordações sucessivas leva-me a trazer para esta postagem uma afirmação que não à toa é usada como ilustração neste blog.
"Ser apenas você mesmo, em um mundo que se esforça ao máximo para torná-lo igual a todos os outros - significa enfrentar a mais árdua batalha que um ser humano pode enfrentar, sem jamais poder abandoná-la."
O autor da citação? O poeta, pintor, ensaísta e dramaturgo norte-americano Edward Estlin Cummings (1894 – 1962), usualmente abreviado como e. e. cummings, em minúsculas, como ele assinava e publicava.
"Na realidade, em função dela, não 'somos'; passamos a ser o que querem que sejamos.", eis a última frase do excelente texto de Ernani Eustáquio. Sim, passamos a ser o que querem que sejamos até porque, como é dito em um trecho atribuído ao psicanalista, filósofo humanista e sociólogo alemão Erich Fromm (1900 – 1980) no livro Análise Transacional da Propaganda, de Roberto Menna Barreto, publicado em 1981, também passamos a querer o que supomos que devemos querer.

"O HOMO CONSUMENS vive na ilusão de SABER O QUE QUER (cigarros Minister) quando de fato ele QUER O QUE SE SUPÕE QUE DEVA QUERER. 'A fim de aceitar isso, é mister perceber que saber o que realmente se quer não é relativamente fácil, como a maioria das pessoas imagina, porém um dos problemas mais árduos que todo ser humano tem de solucionar. É um encargo de que tentamos furiosamente abster-nos, aceitando objetivos pré-fabricados como se fossem nossos. O homem moderno está disposto a correr grandes riscos ao procurar alcançar metas que supõe serem 'dele'; no entanto, tem um medo tremendo de assumir os riscos e a responsabilidade de fixar para si as suas próprias metas.'"
"A liberdade é precisamente a pessoa tomar consciência e assumir a autoria da própria existência. Não é uma tarefa fácil, mas creio que é a nossa tarefa, capaz de trazer felicidade e dar sentido às nossas vidas." [Roberto Crema] (...) "Ser apenas você mesmo, em um mundo que se esforça ao máximo para torná-lo igual a todos os outros - significa enfrentar a mais árdua batalha que um ser humano pode enfrentar, sem jamais poder abandoná-la." [e. e. cummings ] (...) "Perceber que saber o que realmente se quer não é relativamente fácil, como a  maioria das pessoas imagina, porém um dos problemas mais árduos que todo ser humano tem de solucionar." [Erich Fromm]. Os grifos são meus. Grifos que uso para chamar atenção para a árdua tarefa de evitarmos o desmonte do eu. Com a intenção de encorajá-las (os) a enfrentar essa árdua tarefa segue um tag usado como ilustração neste blog.
 

 

Um comentário:

Anonymous disse...

Eu estava passando pelo processo de divórcio quando encontrei o Dr. Ajayi um grande homem espiritual online. Nunca pensei que eu e meu marido um dia voltaríamos juntos. Somos abençoados com três filhos e casados há 12 anos, mas ele estava disposto a jogar tudo isso fora apenas porque ele conheceu uma nova mulher, mas o Dr. me ajudou a realizar um poderoso feitiço de amor que o fez esquecer a mulher que ele acabou de conhecer e o divórcio foi cancelado, agora estamos vivendo em paz em nossa casa com um vínculo mais forte, entre em contato com o Dr. Ajayi no Whatsapp / Viber: +2347084887094 ou Email: drajayi1990@gmail.com ele vai te ajudar também, ele também prepara ervas para vários tipos de doenças, caso você tenha algum problema de saúde para te curar também.