"Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana."
(Teilhard de Chardin [1881 – 1955],
teólogo, filósofo e paleontólogo francês)
Após
duas postagens que focalizam uma equivocada submissão a "nossa modelagem segundo o padrão aceitável pela sociedade e a
consequente mudança da natureza original com que nascemos para uma segunda
natureza adquirida e modelada pela sociedade" (segundo Ernani
Eustáquio em O desmonte do eu), segue uma que traz uma ocorrência em que, demonstrando que
mantinha sua natureza original preservada, uma das personagens faz uma
escolha aprovada por um dos grandes mestres (o maior, dentro de uma cultura
cristã) que já passaram por esta dimensão deste planeta. O texto reproduzido a
seguir traz uma passagem bíblica localizada no evangelho de Lucas, comentada
por Richard Simonetti (1935 – 2018), autor de mais de 60 livros que ajudaram, ajudam e
continuarão ajudando milhares de pessoas a entender esse percurso que a gente
chama de vida.
"Enquanto caminhava, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra. Marta estava ocupada com muitos afazeres. Aproximou-se e falou: 'Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!' O senhor, porém, respondeu: 'Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada'." - (Lucas cap. 10, ver. 38 a 42).
O
Mestre visitava as irmãs Marta e Maria. Marta, atarefada e nervosa, ia e vinha,
no desenvolvimento de rotineiras tarefas domésticas, que podiam ficar para
depois, incapaz de aproveitar o glorioso momento. Marta, embora tivesse apreço
por Jesus, estava mais preocupada com os afazeres domésticos e se aborreceu com
sua irmã Maria, que não a ajudava, porque queria sorver as palavras, colhendo
os benefícios do verbo sublime.
Em dado instante, Marta não se conteve. Aproximou-se e
reclamou, numa atitude indelicada, bem própria de quem fala o que pensa, sem
pensar no que fala:
- Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só no serviço? Diz-lhe, pois, que me ajude.
Daí a observação de Jesus:
- Marta, Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária... Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.
Poucas coisas, realmente, são necessárias, se nos
contentarmos com o essencial. Dentre elas, uma é fundamental, capaz de dar
significado às nossas vidas, sustentando-nos o equilíbrio e a paz, com pleno
aproveitamento das horas.
Está representada pelos valores
espirituais, adquiridos com o cultivo
das virtudes cristãs, como a caridade, o amor, a compaixão, o perdão, a tolerância.
Há muitas Martas pela vida, preocupadas com
seus negócios, com sua profissão, com sua casa, com seus bens materiais, sem
tempo para cuidar do Espírito.
É importante que tenhamos nossa profissão, nosso emprego,
nosso sustento, nossa casa, nossos bens materiais, mas quando isso tudo começa
a ocupar demasiado espaço em nossa vida, começamos a marcar passo na jornada
evolutiva e perdemos preciosas oportunidades de aprendizados e renovação.
Muitos perdem tempo em busca do que lhes será tirado,
perdendo tempo em não buscar valores que lhes enriqueceriam para sempre a
existência. Vivem em função do homem efêmero (passageiro), negligenciando
(descuidando) do Espírito eterno.
Chamados a intelectualizar a matéria deixam-se anestesiar
por ela.
Variados problemas de relacionamento humano nascem do
excessivo envolvimento com situações transitórias, a exagerada preocupação com
as rotinas do dia-a-dia.
Há "síndrome de Marta",
afetando multidões, pessoas excessivamente preocupadas com a subsistência, com
a compra do automóvel, com a construção de uma casa, com o futuro da família,
com a limpeza do lar, com os negócios...
Perturbam-se facilmente, desgastam-se por nada...
Vivem estressadas, neuróticas, inquietas, irritadas,
abrindo campo a desajustes físicos e psíquicos.
- No entanto, uma só é necessária... Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada!
Qual a melhor parte da vida? O Espiritismo revela que
estamos aqui como alunos num educandário, convocados ao aprendizado das leis
divinas. Isso envolve o aprimoramento espiritual, a aquisição de virtudes, o desenvolvimento de nossas potencialidades criadoras.
Escolhem a melhor parte as pessoas que orientam suas
ações em direção a esses objetivos, alunos aplicados e diligentes.
Desapegam-se dos interesses mundanos.
Conscientizam-se de seus deveres diante de Deus e do
próximo.
Abrem espaço em seu cérebro para os valores espirituais.
Abrem espaço em seu coração para as virtudes cristãs.
Adquirem bens imperecíveis de sabedoria e virtude,
riqueza inalienável, a lhes garantir bem-estar onde estiverem, na Terra ou no
Além.
Imperioso que coloquemos acima de tudo a edificação de
nossa alma, buscando os valores mais nobres.
Sem esse esforço, estaremos perdendo tempo, complicando a
jornada e acumulando moedas de ilusão, que serão irremediavelmente confiscadas
quando a morte conferir nossa bagagem, na alfândega do Além. Lá chegaremos a
mendigar paz, em amargos desenganos.
Importante ressaltar que a edificação de nosso Espírito
não só abençoará nosso futuro, como também dará estabilidade ao nosso presente.
Buscando a melhor parte, seremos capazes de conviver com
as pessoas, no âmbito doméstico, social e profissional...
Buscando a melhor parte, saberemos resolver problemas,
enfrentar dificuldades, superar obstáculos e atravessar os períodos difíceis,
sem irritações, sem inquietude, capazes de fazer sempre o melhor...
Menos para
Marta. Mais para Maria!
Que busquemos em primeiro lugar o Reino de Deus, a se exprimir no esforço do Bem e da
Verdade, e tudo o mais nos será dado por acréscimo.
*************
"Menos
para Marta. Mais para Maria!", eis a recomendação de Richard Simonetti.
Menos para Maria, mais para Marta, eis o modo de vida da maioria da pretensa
espécie inteligente do universo. Que tal refletir sobre essa equivocada escolha
antes da postagem da segunda ocorrência?
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