"Quando lemos,
nem sempre retemos, mas quando refletimos e meditamos, adicionamos o resultado
de nossas reflexões ao nosso patrimônio de conhecimento, o que começa a se
refletir nas nossas atitudes.", diz uma afirmação feita no livro "Se
não houver vento... Reme!" em alusão a outro livro de Andolphato Tiago
Roosevelt - Reflexões para Livres Pensadores. Dito isto, passemos a
algumas reflexões provocadas por Ensina-me
a viver. Reflexões que começam a partir de um fato significativo da
vida de Alain de Botton citado na reportagem-entrevista:
Quando ele era pequeno, os pais o mandaram para um internato.
"Fiquei na escola inglesa até completar 18 anos. Completamente infeliz e sonhando pela liberdade. Mas eu era um bom menino. Na verdade, eu era um ótimo menino. Sempre fiz tudo que me pediam, era um estudante exemplar, mas, internamente, continuava muito triste.", diz Alain de Botton.
Fazer tudo o que lhe
pedem, tentar agradar a todos, e, consequentemente, terminar desagradando a si
mesmo, eis uma fórmula infalível para ser triste e infeliz.
Filho de pais que,
segundo ele, não eram lá muito "interessados em crianças", Botton foi
criado por uma babá que, vinda de uma pequena aldeia na Suíça e sem nenhuma
educação formal, é por ele considerada uma das pessoas mais sábias com as quais
já conviveu. Uma babá que, ao conseguir atingir a sabedoria na mais natural das
escolas – a vida -, imagino ter inspirado Botton na escolha do nome dado à
instituição por ele criada, como sugere o que é dito no próximo parágrafo.
"O nome The School of Life é uma provocação à arrogância intelectual das universidades, diz Botton. Muitas vezes os locais de ensino transformam o conhecimento em mero exercício acadêmico, em vez de usá-lo como guia para ajudar alunos a lidar com as questões práticas. 'Nossos cursos giram em torno das decisões importantes da vida'."
Arrogância intelectual,
eis um dos grandes males desta civilização (sic). Até porque sabedoria e
arrogância intelectual são, simplesmente, incompatíveis. A postagem publicada
neste blog em 10 de maio de 2011 é intitulada O
Culto da Intelectualização. Junte-se arrogância intelectual e esnobismo
é ter-se-á uma infalível receita para o desastre, como demonstra o próximo parágrafo.
"No início da School of Life, Botton convocou os 'de-sas-tre!'. Os acadêmicos, diz, eram frios e esnobes. O corpo docente, então, passou a ser selecionado com o auxílio de uma série de testes. A maior parte tem familiaridade com psicoterapia, mas os talentos vêm também de lugares não convencionais. O essencial, diz, é que seja alguém capaz de criar um ambiente acolhedor na sala para que o grupo se sinta à vontade para se expor. A School of Life seria 'a casa da vulnerabilidade honesta'," diz.
"O essencial para
trabalhar na School of Life é ser alguém capaz de criar um ambiente acolhedor
na sala para que o grupo se sinta à vontade para se expor. A School of Life
seria 'a casa da vulnerabilidade honesta'", diz Botton. Que coisa sinistra,
hein! Em uma sociedade inebriada pela propagação de imagens exibindo falsa
felicidade, eis que surge alguém na contramão propondo a prática da vulnerabilidade
honesta, alegando que isso seria vantajoso para nós, como é defendido por Botton
no próximo parágrafo.
"Em um dos eventos da escola, participantes são convidados a escreverem sobre seus problemas em um pedaço de papel. A gama de queixas é impressionante, segundo Botton. 'Meu Deus! São pessoas cultas, com dinheiro e saúde, mas se você visse o que aparece... Vício em drogas, em sexo. Separação, demissão. A maioria de nós usa máscaras e não mostra o que está por trás. Temos receio de ser ridicularizados e taxados de esquisitos. Mas, se tirássemos a máscara, a vida seria tão mais gentil com a gente, sabe? Isso é o que significa amizade'."
"Pessoas cultas,
com dinheiro e saúde, mas" infelizes, pois, como diz Vimala Thakar
(inclusive no título de um livro), "viver é relacionar-se", e nesta
insana civilização (sic) a maioria dos relacionamentos é baseada em mentiras,
como é explicado no próximo parágrafo.
"Alain de Botton diz acreditar que aplicativos de relacionamento, como o Tinder, vão na contramão da filosofia de sua escola. Neles, as pessoas apresentam sua melhor faceta e escondem suas falhas. (...)'Acho triste uma cultura que considera que só é possível encontrar amor mentindo sobre quem se é. Essa é uma ideia inútil. Se eu tivesse que refazer o Tinder, o faria mais humano. Nele, seria possível mostrar quem realmente a pessoa é, e também aceitar o outro. Acho isso muito mais romântico'," afirma.
Ao afirmar que, "embora
tenham vivido há milênios, os filósofos gregos são ainda guias indispensáveis
para a vida nas sociedades capitalistas", Alain de Botton faz-me lembrar
algo que li em um livro intitulado O Ato da Vontade, de Roberto
Assagioli (1888–1974), um psiquiatra italiano, pioneiro nos campos de
psicologia humanística e transpessoal e criador da Psicossíntese.
"Se um homem de uma civilização anterior à nossa – um grego da Antiguidade, digamos, ou um romano – aparecesse de súbito entre os seres humanos do presente, suas primeiras impressões o levariam a considerá-los uma raça de mágicos, de semideuses. Mas fosse um Platão ou um Marco Aurélio e se recusasse a ficar deslumbrado ante as maravilhas materiais criadas pela tecnologia avançada e examinasse a condição humana com mais cuidado, suas primeiras impressões dariam lugar a uma grande consternação.
"Notaria logo que o homem, não obstante o imponente grau de domínio sobre a natureza, possui um controle muito limitado sobre o seu interior. (...) Verificaria que esse pretenso semideus que controla grandes forças elétricas com o mover de um dedo e inunda o ar de sons e imagens para divertimento de milhões de pessoas – é incapaz de lidar com as próprias emoções, impulsos e desejos."
"Incapaz de lidar
com as próprias emoções, impulsos e desejos.", ou seja, incapaz de líder
adequadamente com a vida e, consequentemente, necessitando aprender a viver, eis
a condição em que se encontra a maioria dos integrantes da pretensa espécie
inteligente do universo.
Autora de "Orgulho e Preconceito", segundo Alain de Botton, a escritora inglesa Jane Austen (1775 – 1817), tinha aguda consciência das imperfeições humanas e um desejo profundo de melhorar as pessoas. Assim como Botton, entendia o amor como uma habilidade. "A pessoa certa para nós não é simplesmente a que nos deixa confortáveis, ela tem que ser capaz de nos ajudar a superar nossos defeitos e nos tornar mais maduros."
E ao ler a última
frase do parágrafo anterior me vem à mente a seguinte indagação. Será que a
ideia nela expressa, em relação ao amor, pode ser estendida a todo e
qualquer relacionamento humano? E também para coisas como, por exemplo, ao que
lemos e ao que assistimos no cinema e no teatro? Ou seja, será que as leituras
certas não são simplesmente as que nos deixem desconfortáveis, as que sejam capazes
de nos ajudar a superar nossos defeitos e nos tornar mais maduros.
Considerando as
postagens deste blog nesse tipo de leitura, termino esta postagem com as mesmas
palavras com as quais a comecei: "Quando lemos, nem sempre retemos, mas
quando refletimos e meditamos, adicionamos o resultado de nossas reflexões ao
nosso patrimônio de conhecimento, o que começa a se refletir nas nossas
atitudes.".
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