“Quando se trata de reformar a educação, sempre enfatizam a falta de professores, ou a qualidade do ensino de matemática, ou de como o brasileiro não sabe escrever direito. NUNCA pensam no aspecto moral. De que adianta termos brasileiros intelectualmente brilhantes, se não temos brasileiros de bem? Os políticos corruptos todos tiveram educação, e nem por isso, ela os impediu de se tornarem criminosos.”
Nas palavras acima, que constam da entrevista sobre o Calendário das Virtudes, Renata questiona se vale a pena existirem pessoas intelectualmente brilhantes, porém desprovidas de qualidades que as levem a praticar o bem. A referência à intelectualidade brilhante me fez lembrar de um texto publicado na edição de junho de 2009 da Revista dos Vegetarianos intitulado O Culto da Intelectualização. O texto é assinado por Marco Clivati e me foi enviado, na época, pelo amigo Rodrigo Leão.
Já o divulguei a partir de e-mails e agora volto a fazê-lo por meio deste blog. Para quem já o tenha lido, segue uma sugestão: vale a pena ler de novo. Até porque a postagem vai além do referido texto.
O Culto da Intelectualização
“Gostamos de complicar. Nossa incrível capacidade intelectual conduzida pela mente é sedenta por classificar, julgar definir, criar modelos mirabolantes e racionalizar tudo que vê pela frente. Nessa frenética racionalização, somos levados para onde nossa mente bem entende e perdemos a oportunidade de contemplar a verdadeira essência da existência.
Com a mente em ação, ao olhar uma singela flor, por exemplo, deixamos de admirar a sua genuína beleza, esquecemos de admirar o simples fato de ela existir. Quando a mente assume o comando, em questão de segundos ela já está classificando a cor, a forma, o cheiro, a textura, quer saber o nome científico... Nessa racionalização, a flor é então traduzida pela linguagem verbal e perdemos a chance de sentir a sua verdadeira beleza.
Desde que chegamos ao mundo, somos induzidos a intelectualizar tudo. A escola é nossa grande universidade de intelectualização. Somos treinados diária e exaustivamente para sermos seres lógicos. Lá, vale muito mais uma mente brilhante do que um coração iluminado.
Não que a mente não seja importante. Com ela, podemos criar novas fontes de energia limpa, mas também podemos criar bombas de destruição em massa. A grande falha é que no modelo criado pela sociedade moderna há um desequilíbrio enorme. Somos treinados para termos raciocínio lógico afiado, enquanto o lado emocional é deixado de lado. As pessoas se tornam frias, como robôs. A mente é entupida de conhecimento e vamos perdendo a capacidade de sentir. Será que meditação, consciência ambiental, autoconhecimento, yoga, vivências das mais diversas não poderia fazer parte da grade curricular?
Enquanto esse modelo vigente não mudar, o ser humano seguirá o caminho da autodestruição. Não saberá respeitar a si próprio, ao próximo e, muito menos, a natureza e os animais. Passará por essa vida como uma máquina, com o piloto automático ligado, sem desfrutar as coisas mais simples e belas da vida.”
Renata cita a ausência do aspecto moral quando se fala em reformar a educação. Marco Clivati pergunta se vivências das mais diversas não podem fazer parte da grade curricular. Ou seja, ambos questionam o que se denomina educação. E Massimo Pugliucci, professor de filosofia do Centro de Pós-Graduação da Universidade Municipal de Nova York, em um artigo intitulado O risco da ignorância, publicado na edição de 1º de maio de 2011 do jornal O Estado de S. Paulo, também faz críticas às instituições ligadas à área educacional. É de tal artigo o trecho a seguir.
“Infelizmente, é improvável que universidades, escolas do ensino médio e até da educação infantil passem a oferecer, por conta própria, cursos obrigatórios de formação do pensamento crítico. A educação tem sido cada vez mais transformada em um sistema de commodities, no qual os “fregueses” (antes chamados de estudantes) são mantidos satisfeitos com currículos personalizados enquanto são preparados para o mercado de trabalho (em vez de serem preparados para agir como cidadãos e seres humanos responsáveis).
Isso pode e precisa mudar. No entanto, para tanto, é necessário um movimento comunitário que use os blogs, as revistas online e os jornais eletrônicos, os clubes do livro e os clubes sociais e tudo o mais que possa funcionar na promoção de oportunidades educacionais para o desenvolvimento do pensamento crítico. Caso contrário, conheceremos, em primeira mão, um futuro de profunda ignorância.”
O site da Renata e os meus blogs fazem parte do movimento comunitário sugerido por Massimo Pigliucci.
O culto da intelectualização e a preparação para o mercado de trabalho (em vez da preparação para agir como cidadãos e seres humanos responsáveis) começam a ser aplicados a partir de faixa etária cada vez menor. É sobre isto que fala um texto muito interessante que lhes repassarei na próxima postagem.
O artigo O risco da ignorância será publicado na íntegra em próximas postagens deste blog. Sim, em próximas, pois será dividido em partes cujo tamanho não desanime os leitores de fôlego mais curto.
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