Várias ideias apresentadas pela Renata, na entrevista sobre o Calendário das Virtudes, me fizeram lembrar de coisas que li e resultaram em muitas reflexões. Uma delas é quando ela diz que o site já se tornou uma verdadeira comunidade, de pessoas querendo se ajudar, para evoluirem juntas. É em conformidade com esta ideia que publico as minhas reflexões e espero receber as dos visitantes do blog.
“O grande adversário é a própria pessoa. O jogador precisa vencer de si mesmo para vencer no jogo – e na vida.”
Sábias palavras. Creio que um dos principais benefícios proporcionados por um jogo seja a reunião de pessoas em função de um objetivo. E qual seria tal objetivo? Derrotar adversários para provar ser melhor do que eles. E quem são os adversários? Na enorme maioria dos jogos, pessoas que têm ideias ou gostos diferentes. Mas há um outro tipo de jogo – com muito menor aceitação – que consiste no uso de atividades lúdicas com a finalidade de nos fazer perceber, e aceitar, erros que temos enorme dificuldade em admitir, se nos forem diretamente apontados no dia a dia. Neste tipo de jogo o adversário é a própria pessoa, e vencê-lo consiste em derrotar seus próprios defeitos e tornar-se, a cada dia, uma pessoa cuja versão é melhor do que a anterior. Creio que é isto que a Renata entende por vencer na vida e para ajudar nesta difícil tarefa ela desenvolveu um interessante jogo.
“(...) os participantes podem compartilhar suas experiências, suas frustrações, suas vitórias e derrotas durante o dia. E assim receber apoio, conselhos, dicas dos outros participantes.(...) o site já se tornou uma verdadeira comunidade, de pessoas querendo se ajudar, para evoluirem juntas.Outros usam o site para compartilhar seus problemas e dúvidas, e recebem conselhos e dicas de seus novos amigos virtuais, que os faz ter vontade de perseverar.”
Compartilhar experiências é muito válido, pois possibilita aprender sem ter que passar por frustrações e derrotas já experimentadas por outros. Concordo com Otto Von Bismarck quando diz: “Os povos inteligentes aprendem da experiência alheia; os medíocres aprendem por sua própria experiência; os ineptos simplesmente não aprendem”. Substituam povos por pessoas e aprendam de forma inteligente.
Compartilhar problemas e dúvidas nos possibilita perceber que não existem implicâncias gratuitas apenas contra nós e receber conselhos e dicas de quem tem ou teve dificuldades semelhantes nos fazem ter vontade de perseverar.
Considero perfeitas as seguintes palavras de Roberto Crema: Ninguém muda ninguém; ninguém muda sozinho; nós mudamos nos encontros.
“NUNCA pensam no aspecto moral. De que adianta termos brasileiros intelectualmente brilhantes, se não temos brasileiros de bem? Os políticos corruptos todos tiveram educação, e nem por isso, ela os impediu de se tornarem criminosos.”
Educação é uma palavra cujo significado foi completamente deturpado ao ser, equivocadamente, confundida com instrução. São do livro O mestre na educação, de Pedro de Camargo, as seguintes palavras:
“A instrução relaciona-se com o intelecto: a educação com o caráter. Instruir é ilustrar a mente com certa soma de conhecimentos sobre um ou mais ramos científicos. Educar é desenvolver os poderes do espírito, não só na aquisição do saber, como especialmente na formação e consolidação do caráter”.
Falar em caráter me lembra Ralph Waldo Emerson. Segundo ele, inteligência vale muito, mas caráter é mais importante que o intelecto. Infelizmente nossa sociedade discorda de Emerson, não percebe as lamentáveis consequências de tal discordância e insiste em priorizar a inteligência.
“(...) O brasileiro se acostumou à malandragem, a dar um jeitinho, a passar a perna nos outros. Isso tem que mudar, mas só mudará com uma educação voltada para a formação de uma pessoa de bem. Quando o BEM for uma qualidade exaltada desde a infância. Quando estudarmos mais sobre heróis do bem, como Gandhi e Martin Luther King, do que sobre conquistadores, como César e Napoleão.”
Enquanto admirarmos a existência de potências militares cuja receita financeira é, majoritariamente, proveniente da venda de armas e do consequente fomento da guerra, ou seja, enquanto houver admiração por países que vivem em função da morte, estaremos mais interessados em estudar conquistadores como César e Napoleão do que heróis do bem, como Gandhi e Martin Luther King. Falar em admiração me lembra o seguinte. Conquistadores são admirados devido à capacidade de passar por cima de tudo e de todos para conseguir o que querem, não é mesmo? E o que dizer dos vilões de filmes e novelas? Eles também são conquistadores e por isso são admirados. São eles que dão ibope. Os bonzinhos não estão com nada, pois são considerados muito chatinhos. Ou seja, nesta civilização (sic) a preferência ainda é pelo mal.
“Não adianta impormos aos pais a responsabilidade de educar uma criança moralmente se eles mesmos não tiveram este tipo de educação. Como estamos agora, os pais precisam ser educados pelos filhos.”
É impossível alguém dar algo que não tem. Mas é possível dar algo que nunca recebeu. Pais que não tiveram um certo tipo de educação podem dá-la a seus filhos, se concordarmos com a seguinte frase de Edward Gibbon: "O homem recebe duas classes de educação. Uma que lhe dão os demais; outra a mais importante, que ele dá a si mesmo". A segunda é mais importante porque resulta da aquisição da consciência de seus atos. Portanto, cabe a quem tiver atingido tal estágio educar os que ainda não o atingiram; sejam eles pais ou filhos.
“Pelo que pude perceber, a virtude mais difícil de alcançar tem sido a paciência. E o vicio mais difícil de combater, a maledicência. Estamos acostumados a falarmos mal uns dos outros.”
Concordo com a percepção da Renata. É muito difícil alcançar a paciência em uma civilização assolada pela ansiedade e na qual as pessoas pretendem fazer tudo ao mesmo tempo e imediatamente. Uma sociedade na qual pessoas se dispõem a passar alguns dias e noites em filas aguardando o lançamento de um gadget ou tentando comprar um ingresso para um show por considerá-los imprescindíveis a sua felicidade jamais alcançará a paciência e tampouco será feliz.
Sobre a maledicência digo o seguinte. Em uma sociedade na qual a competitividade é enaltecida a maledicência jamais será extinta. E aqui parece que voltamos ao início desta postagem. Por que digo isto? Porque, assim como na maioria dos jogos nos quais nos envolvemos, a competitividade é algo praticado contra adversários e não contra nós próprios. Uma competição pode ser vencida mostrando que somos melhores do que os outros ou que os outros são piores do que nós. Como cumpridores da famosa Lei do Menor Esforço ficamos com a segunda opção. E tome de falar mal dos outros! Se alguém achou esta postagem longa e acha que a redigiria com menos palavras, solicito que fique na sua e não saia por aí espalhando sua opinião, ok? Que tal aderir à ideia de abandonar a prática da maledicência?
Para terminar esta postagem inspirada pelo Calendário das Virtudes não encontrei nada melhor do que uma magnífica frase do extraordinário escritor Eduardo Galeano:
“Somos o que somos e ao mesmo tempo o que fazemos para mudar o que somos”.
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