"Hoje em dia, sabemos o preço de tudo
e não sabemos o valor de nada."
Oscar
Wilde [1856 – 1900], escritor irlandês)
"Por que estamos na Microsoft?", berrou Steve Ballmer, o bilionário Vice-Presidente Executivo da Microsoft Corp., para uma multidão de nove mil empregados da empresa que se acotovelavam dentro do Kingdome, o ginásio de esportes de Seattle. Ele mesmo respondeu: "Pelo dinheiro! Quero ver o dinheiro!". E o público reagiu a uma só voz: "Quero ver o dinheiro!". Eis um episódio citado em O Sonho Americano onde é apresentado como tendo sido publicado na edição de 07 de dezembro de 1997 do Los Angeles Times.
"Por
que estamos na deplorável situação em que se encontra (ou seria se
desencontra?) este mundo no qual sobrevivemos?", sussurro eu para uma
reduzida quantidade de leitores deste blog que se espalham mundo afora. Eu
mesmo respondo: "Pela submissão ao dinheiro!", pois como diz Nuccio Ordine, "Reduzir
o valor da vida ao dinheiro mata toda possibilidade de idealizar um mundo
melhor.". Quanto a como os leitores reagirão, não faço a menor ideia. Eis
um hipotético episódio inspirado pelo episódio citado no parágrafo anterior.
"Há alguns anos, o proprietário e presidente de uma empresa de telecomunicações me pediu que avaliasse até que ponto a declaração de valores da empresa se manifestava concretamente no dia-a-dia das suas atividades e interações."Perguntou-me se eu queria ler os documentos que continham a declaração de valores da empresa e eu disse que não. Perguntou-me se eu queria passar um questionário para os empregados e mais uma vez eu disse que não. Do mesmo modo, respondi "não" quando ele me perguntou se eu iria usar alguma espécie de instrumento de avaliação e se eu queria entrevistar as pessoas individualmente ou em grupos pequenos. Disse-lhe que eu não queria falar com ninguém.Perguntou o que, então, eu ia fazer. Eu lhe disse que ia usar a minha técnica de "baixar o volume": ia enfiar um chumaço de algodão nos ouvidos e passar três dias andando pela empresa e vendo o pessoal trabalhar. Ao cabo desse período, eu seria capaz de lhe dizer quais eram os valores que a empresa tinha de fato, com base na conduta das pessoas no trabalho.
Embora
esta postagem seja do tipo "Reflexões
provocadas por ...", os dois próximos parágrafos não trazem alguma reflexão
provocada pelo texto de Robert Rabbin, e sim uma confirmação da veracidade de
algo dito por ele, feita por meio de algo vivenciado por mim.
Há
alguns anos (aproximadamente 15), um colega de trabalho me pediu que faltasse
ao trabalho no dia em que estava agendada uma auditoria de processos da
atividade de desenvolvimento de sistemas de informações. Perguntei-lhe o porquê
do inusitado pedido e dele ouvi algo mais ou menos assim. É que está sendo realizado
um treinamento para determinar o que as pessoas deverão dizer ao auditor e, considerando
que você não se submeteria a tal treinamento, para não se correr o risco de ser
você o escolhido pelo auditor e, consequentemente, dizer-lhe o que não se
deseja que seja dito, o melhor é que é você não esteja presente no dia da
auditoria.
Ou
seja, o receio era que, em vez de ouvir alguém lhe dizer o que fora recomendado
dizer sobre como se trabalhava, o auditor ouvisse alguém lhe contar como de fato se trabalhava. Sendo assim,
considerando que sem a presença daquele que, enxergava as coisas de modo
semelhante ao de Robert Rabbin, e com a presença de um auditor cuja técnica não
era a mesma de Rabbin, o objetivo desejado seria alcançado e todos poderiam
ficar tranquilos. Infelizmente, creio que ainda sejam muito poucos os que usam a
técnica de Rabbin.
Quando aplico à nossa sociedade a minha técnica de "baixar o volume", percebo que o que nós valorizamos é o Sonho Americano, um ideal de vida baseado no sucesso financeiro pessoal. (...) O Sonho confunde o quanto uma coisa vale no mercado do mundo visível com o que ela significa no mundo invisível da alma. Baseia-se, portanto, numa ideia completamente errônea acerca da vida. (...) O Sonho Americano lida com valores materiais, ao passo que a vida depende dos significados espirituais. É por isso que tantas pessoas que galgaram os cumes da realização material e do sucesso pessoal continuam vazias, desesperadas e sem alma. Quando o valor de uma coisa não se origina no mundo invisível da alma, essa coisa não tem significado e, por isso, não pode nos alimentar, não pode encher a barriga faminta do nosso ser.Se olharmos para a nossa sociedade "baixando o volume", vamos ver que ganhar dinheiro é a coisa que ela valoriza acima de todas as outras. (...) Nosso amor desordenado pelo dinheiro é totalmente desvinculado dos significados do mundo invisível da nossa alma.O dinheiro pode ser um escravo ou um senhor, um meio ou um fim. No Sonho Americano, ele é o senhor. Ganhar dinheiro tornou-se um fim em si mesmo, especialmente em certos setores, como os meios de comunicação, os esportes e as diversões, que lucram com o vício que as pessoas infelizmente alimentam em relação aos produtos e serviços insignificantes que eles nos vendem.O Sonho Americano, na verdade, é o Pesadelo Americano.
"O
Sonho Americano confunde o quanto uma coisa vale no mercado do mundo visível
com o que ela significa no mundo invisível da alma. (...) O Sonho Americano
lida com valores materiais, ao passo
que a vida depende dos significados
espirituais. É por isso que tantas pessoas que galgaram os cumes da
realização material e do sucesso pessoal continuam vazias, desesperadas e sem
alma.", diz Robert Rabbin. Os grifos são meus.
Valor versus Significado; Material versus Espiritual, eis as que talvez sejam as nossas maiores e piores confusões
nesse percurso que a gente chama de vida. Confusões que levam a considerar
sonho algo que, na verdade, seja um pesadelo. "O Sonho Americano, na
verdade, é o Pesadelo Americano.", diz Robert Rabbin.
Pesadelo
para o qual tanto contribui o fato de O
Sonho Americano ter como um de seus principais valores o sucesso pessoal enquanto a vida tem como um de seus principais significados o bem-estar interpessoal.
"Ganhar
dinheiro tornou-se um fim em si mesmo, especialmente em certos setores, como os
meios de comunicação, os esportes e as diversões, que lucram com o vício que as
pessoas infelizmente alimentam em relação aos produtos e serviços
insignificantes que eles nos vendem.", diz Robert Rabbin.
"Lucrar com o vício que as pessoas infelizmente alimentam em relação aos produtos e serviços insignificantes que eles nos vendem."
Diante
dessa sinistra afirmação, para encerrar estas reflexões com algo que considero
que tenha a ver com ela, segue uma imagem contendo os dizeres fotografados num
muro em Lisboa, em 2003.
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