quinta-feira, 18 de março de 2021

Reflexões provocadas por "Querer ser especial"

  "Seja humilde, pois até o sol com toda sua grandeza se põe e deixa a lua brilhar."
(Bob Marley)
Significado de especial
adj. Particular a uma única pessoa ou coisa; singular, exclusivo.
Que é específico de ou exclusivo para.
Considerando o significado apresentado acima, entendo querer ser especial como a pretensão de ter direito a coisas acessíveis a quantidades reduzidas de pessoas e, no limite, pretender ter coisas exclusivas para si mesmo.
Feito esse preâmbulo, seguem alguns trechos da história espalhada pela postagem anterior.
"Nas escrituras jainistas há uma história muito bonita. Na Índia, existe o mito de que, se um homem receber o título de conquistador do mundo, ele tem um nome especial. (...) Ele é chamado de chakravartin. (...) Ele é todo-poderoso, e o mito diz que no céu os chakravartins são tratados com especial deferência. (...) Somente os chakravartins têm o privilégio especial de gravar seu nome na montanha de ouro que existe no céu. (...) Gravar o próprio nome na montanha de ouro no céu é o maior privilégio que qualquer ser humano pode alcançar!"
"Mas para que serve isso se você está lá sozinho para ver? Então esse homem decretou que toda a sua corte – sua rainha, seus amigos, seus generais – deveria se suicidar ao mesmo tempo, assim que ele morresse, para que todos chegassem juntos ao céu. Ele queria gravar seu nome na montanha de ouro, pois ninguém mais tinha feito isso antes. Mas gravar o nome sozinho, sem nem uma testemunha – que graça tinha?! Esse nome devia ser um grande exibicionista."
Será que o que é dito nesses trechos dessa antiga história jainista faz sentido se aplicado ao moderno comportamento da imensa maioria dos integrantes desta civilização (sic) fascinada pelo exibicionismo e pelo desejo de ser especial?
"Quando chegou mais perto do lugar onde gravaria seu nome, o chakravartin ficou chocado ao ver que não havia espaço! A montanha inteira estava assinada... Porque estamos aqui há uma eternidade! Milhões e milhões de chakravartins já morreram. Esse homem estava pensando: 'Eu sou muito especial' e não havia nem um espacinho naquela imensa montanha!"
Ou seja, como diz Joseph Climber, "a vida é uma caixinha de surpresas". Sendo assim, em um momento em que espera-se obter a consagração pode-se, contrariamente, obter uma enorme decepção. Decepção para a qual é necessário estar preparado. Preparado, inclusive, para lidar com tentadoras sugestões que pode-se receber em tais momentos, como é mostrado nos três parágrafos imediatamente abaixo.
"Então, a única maneira é apagar um dos nomes e gravar o seu no lugar, e esquecer tudo sobre ser especial, disse o guardião do portal.
- Isso significa apenas que alguém vai chegar amanhã e apagar o meu nome também, disse o chakravartin.
- Isso, é claro, vai acontecer, porque do contrário não haveria mais espaço. (...) Você simplesmente grava seu nome e, ao voltar ao portão, pode sair com a cabeça erguida e gabar-se disso. Ninguém vai saber, porque eu não vou contar a ninguém. Basta ir e vangloriar-se, dizendo que a montanha estava vazia, disse o guardião do portal."
Que situação difícil, hein! Escolher entre ceder a tentadoras sugestões ou agir com a integridade e honestidade latentes em cada um de nós, eis a questão! Qual foi a escolha do chakravartin?
"Mas o chakravartin era um homem de certa integridade e honestidade. Ele disse:
- Isso eu não posso fazer. Nem posso apagar nenhum nome para abrir espaço para o meu. Não vou gravar meu nome, é total estupidez!
Ele voltou e disse ao guardião do portal:
- Sou grato a você e vou dizer ao meu povo pelo que sou grato. Vou espalhar a notícia pelo mundo, porque muitas dessas pessoas se suicidaram. Elas terão que nascer de novo, não podem ficar no céu. Vou me esforçar ao máximo para enviar a mensagem ao mundo: 'Não desperdicem a sua vida tentando conquistar o mundo para gravar seu nome na montanha de ouro no céu. Não há espaço! Primeiro você vai ter que apagar o nome de outra pessoa, o que é muito feio, e depois você terá que gravar o seu no lugar, e amanhã alguém vai apagar o seu nome. Tudo isso é uma enorme estupidez'. Estou chocado, mas cheguei a uma grande constatação: ninguém deve querer ser especial, porque a existência não considera ninguém especial, superior ou inferior."
"Estou chocado, mas cheguei a uma grande constatação: ninguém deve querer ser especial, porque a existência não considera ninguém especial, superior ou inferior. Vou me esforçar ao máximo para enviar a mensagem ao mundo: 'Não desperdicem a sua vida tentando serem especiais. Tudo isso é uma enorme estupidez'", eis uma compilação das palavras finais do lúcido chakravartin. Compilação feita com a intenção de compará-la com a epígrafe da postagem anterior (Querer ser especial), reproduzida no próximo parágrafo.
"Não quero honrarias. Não almejo ser líder. Só desejo compartilhar o que encontrei e mostrar esses novos horizontes.", diz Fernão Capelo Gaivota.
Será que faz sentido afirmar que as palavras de Fernão Capelo Gaivota estão em sintonia com as do chakravartin?
E vocês, como estão em relação ao que é dito pelo chakravartin? Já chocados e tendo chegado a grande constatação do chakravartin ou ainda querendo ser especiais?

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