"Não
quero honrarias. Não almejo ser líder. Só desejo compartilhar o que encontrei e
mostrar esses novos horizontes."
(Fernão
Capelo Gaivota)
Cumprindo a promessa feita no parágrafo final da
postagem intitulada Premiações
individuais (final), segue uma bela história edificante contada no livro Medo – Entenda e
Aceite as Inseguranças da Vida. Composto de trechos selecionados de palestras
dadas por Osho a plateias ao vivo, o livro apresenta na capa a seguinte
informação: "dicas para uma nova maneira de viver". O título da
postagem foi escolhido por mim e o porquê da escolha será entendido ao ler o parágrafo
final da postagem.
Querer ser
especial
Nas escrituras jainistas há uma história muito
bonita. Na Índia, existe o mito de que, se um homem receber o título de
conquistador do mundo, ele tem um nome especial. Não é um rei comum, nem mesmo
um imperador. Ele é chamado de chakravartin.
Isso significa que a roda da sua carruagem pode se mover ao redor da terra,
para qualquer lugar, e ninguém pode impedi-lo. Ele é todo-poderoso, e o mito
diz que no céu os chakravartins são
tratados com especial deferência.
Existe uma montanha de ouro no céu... O Himalaia
não passa de um brinquedinho em comparação com a montanha dourada no céu,
chamada Sumeru. Somente os chakravartins
têm o privilégio especial de gravar seu nome na Sumeru. E quando esse tal chakravartin morreu, ele estava tão
animado... gravar o próprio nome na montanha de ouro no céu é o maior
privilégio que qualquer ser humano pode alcançar!
Mas para que serve isso se você está lá sozinho
para ver? Então esse homem decretou que toda a sua corte – sua rainha, seus
amigos, seus generais – deveria se suicidar ao mesmo tempo, assim que ele
morresse, para que todos chegassem juntos ao céu. Ele queria gravar seu nome na
montanha de ouro, pois ninguém mais tinha feito isso antes. Mas gravar o nome
sozinho, sem nem uma testemunha – que graça tinha?! Esse homem devia ser um
grande exibicionista.
Por ordem dele, todos os seus amigos, suas rainhas,
os membros da sua corte, seus generais, todos se suicidaram quando ele morreu e
todos cruzaram os portais do céu ao mesmo tempo. O guardião do portal os deteve
e disse:
- Deixem o chakravartin
entrar sozinho primeiro e gravar seu nome na montanha.
Mas eles disseram:
- Nós nos suicidamos com um único propósito:
queremos que o nosso chakravartin grave
seu nome diante de todos nós. Suas rainhas estão aqui, seus generais estão
aqui, seus sábios conselheiros estão aqui, seus ministros estão aqui... até
sacrificamos nossa vida apenas para vê-lo gravar seu nome. Não podem nos
impedir de entrar.
Mas o porteiro disse ao chakravartin:
- Ouçam o meu
conselho, sou guardião há séculos e antes de mim, meu pai; e antes dele, meu
avô. Este cargo é ocupado pela minha família desde o início dos tempos. E meus
anciãos me disseram: "Nunca deixe que nenhum chakravartin vá até a montanha na frente de outras pessoas, porque
ele vai se arrepender amargamente depois". Mas os chakravartins todos insistem...
Você não é o primeiro que traz um exército inteiro consigo; quase todos os chakravartins fazem a mesma coisa. Por
isso, eu simplesmente quero que você se lembre de que vai se arrepender se eu
permitir que essas pessoas entrem com você. Não há problema, você tem tempo
para pensar. Você é novo, não sabe como vai ser a experiência. Tenho visto
muitos chakravartins indo e vindo e
todos eles me agradecem depois e dizem: "Você foi muito gentil impedindo
que todo mundo entrasse, me convencendo a entrar sozinho".
O chakravartin pensou: "O que vou
fazer? Porque eu não sei o que vai realmente acontecer, e este homem parece
verdadeiro e sincero e ele não tem nenhuma razão para me impedir sem
necessidade... Talvez seja melhor ouvir seus conselhos". Então ele deteve
todo mundo no portão, pegou os instrumentos com o guardião do portal para
gravar seu nome no ouro e atravessou o umbral em direção à montanha. Ele mal
pôde acreditar... tanta beleza! Até onde seus olhos alcançavam havia ouro e
mais ouro - picos tão altos que o Himalaia, certamente, perto daquela montanha
parecia um brinquedo.
Quando chegou mais
perto do lugar onde gravaria seu nome, ficou chocado ao ver que não havia
espaço! A montanha inteira estava assinada... Porque estamos aqui há uma
eternidade! Milhões e milhões de chakravartins
já morreram. Esse homem estava pensando: "Eu sou muito especial" e
não havia nem um espacinho naquela imensa montanha!
Ele andou por ali
e constatou que não havia espaço em nenhum lugar. Então se deparou com o
guardião da montanha, que disse:
Não desperdice o
seu tempo. Mesmo que você procure por um milênio, não vai encontrar nenhum
espaço vazio, já foi tudo preenchido. Por séculos eu tenho servido aqui. Meu
pai serviu aqui; desde o início dos tempos, a minha família tem feito este
trabalho. E eu ouvi dos meus antepassados a mesma história, que sempre que um chakravartin chegava, não havia espaço.
Então, a única maneira é apagar um dos nomes e gravar o seu no lugar, e
esquecer tudo sobre ser especial. Esta é uma vasta existência. É por isso que o
guardião do portal impediu a entrada das pessoas que você trouxe; diante de
todas aquelas pessoas você teria ficado com o orgulho ferido. Você pode
simplesmente apagar outro nome, eu vou ajudar, estou aqui para isso.
Toda alegria se
foi, toda a emoção se foi, e o chakravartin
disse ao homem:
- Isso significa
apenas que alguém vai chegar amanhã e apagar o meu nome também.
O guardião da
montanha disse:
- Isso, é claro,
vai acontecer, porque do contrário não haveria mais espaço. Não podemos criar
outra montanha, todo o ouro do céu foi usado nesta. Você simplesmente grava seu
nome e, ao voltar ao portão, pode sair com a cabeça erguida e gabar-se disso.
Ninguém vai saber, porque eu não vou contar a ninguém. Basta ir e
vangloriar-se, dizendo que a montanha estava vazia.
Mas o chakravartin era um homem de certa
integridade e honestidade. Ele disse:
- Isso eu não
posso fazer. Nem posso apagar nenhum nome para abrir espaço para o meu. Não vou
gravar meu nome, é total estupidez!
Ele voltou e disse
ao guardião do portal:
- Sou grato a você
e vou dizer ao meu povo pelo que sou grato. Vou espalhar a notícia pelo mundo,
porque muitas dessas pessoas se suicidaram. Elas terão que nascer de novo, não
podem ficar no céu. Vou me esforçar ao máximo para enviar a mensagem ao mundo: "Não
desperdicem a sua vida tentando conquistar o mundo para gravar seu nome na
montanha de ouro no céu. Não há espaço! Primeiro você vai ter que apagar o nome
de outra pessoa, o que é muito feio, e depois você terá que gravar o seu no
lugar, e amanhã alguém vai apagar o seu nome. Tudo isso é uma enorme
estupidez". Estou chocado, mas cheguei a uma grande constatação: ninguém
deve querer ser especial, porque a existência não considera ninguém especial,
superior ou inferior.
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Tendo chegado a
uma grande constatação, será que o próximo passo deve ser partir para grandes reflexões?
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