segunda-feira, 1 de março de 2021

Premiações individuais (final)

Continuação de terça-feira
Transformando suor em ouro é um livro que vale a pena ler na íntegra. Portanto, os trechos reproduzidos na postagem anterior podem ser lidos como uma espécie de degustação para despertar a vontade de lê-lo. Por entender que leitura é algo que deve provocar reflexões, seguem algumas provocadas pela leitura dos trechos selecionados.
"Trata-se de uma verdade que vale tanto para o mundo esportivo quanto para o corporativo. Posso assegurar que o voleibol é um dos esportes em que o sentido coletivo está mais presente. Nele, a única ação que se faz isoladamente é o saque. Todas as outras resultam de interações entre duas ou mais pessoas."
Um dos motivos da comparação do mundo esportivo com o corporativo tem a ver com o fato de Bernardinho atuar no mundo esportivo e ser um conceituado palestrante no corporativo. Porém, no meu entender, a comparação com o mundo esportivo pode ser se estendida a qualquer outro mundo, pois, seja lá em que mundo for, jamais será possível construir algo que preste sem a colocação dos interesses coletivos acima dos individuais. Há uma afirmação atribuída ao imperador Marco Aurélio que, no meu entender, ilustra bem a relação correta entre coletivo e individual. "O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha".
"Prêmios (...) para os destaques individuais, que muitos consideram um estímulo para que o jogador brilhe, mas eu entendo como um incentivo à vaidade, ao ego, podendo até criar desequilíbrio dentro do grupo."
"Um incentivo à vaidade, ao ego, podendo até criar desequilíbrio dentro do grupo.", diz Bernardinho. "O futuro de premiações individuais é a desagregação de qualquer equipe, a longo prazo.", eis uma afirmação feita na única resposta ao e-mail em que eu comunicara aos colegas de trabalho o porquê da minha não participação na escolha do destaque individual no ano 2006. Em 2007, o chefe não solicitou que eu explicasse aos colegas a minha não participação. Mais uma vez não participei da reunião para escolher o destaque individual do setor em que trabalhava e não soube quem foi o escolhido, pois não me interessava saber.
Em 2008 e em 2009 não tive conhecimento da reunião de Escolhas de destaques individuais, porém em 2010 recebi o seguinte e-mail: (os grifos já vieram no e-mail)
Assunto        Destaque individual   TIC-CONT
Pessoal,
fiquei encarregado de obter, junto a vocês, um nome para representar o destaque individual da TIC-CONT.
esta pessoa seria o EMPREGADO que, no ano de 2009, se destacou (obviamente) e fez algo diferente (de bom, claro) e obteve um resultado positivo pra nossa gerência.
a ideia é indicarmos este nome e, dos três indicados pelas setoriais (FINAN, TRIB e CONT), os gerentes escolherem duas pessoas que irão de fato concorrer pela TIC-FIN.
peço a resposta até esta quarta, dia 19 de maio de 2010
Importante: vale votar em si mesmo!
Importante 2: pode me passar o nome por e-mail, papel ou qualquer outro método que ache mais fácil.
Atenciosamente,
Fulano (um empregado do setor)
E-mail que respondi com a anexação dos e-mails enviados ao chefe em 2006 e em 2007, precedida da seguinte explicação.
"Nunca participei de votação para a escolha de destaque individual, e não farei isto agora. As gerências anteriores me dispensaram desta tarefa a partir dos seguintes esclarecimentos."
Diferentemente do ano 2006, em 2010 recebi algumas respostas dos colegas – umas concordando comigo outras discordando. E mais uma vez não me interessou saber quem foi o escolhido. Em relação ao e-mail solicitando a indicação de um nome, faço as seguintes considerações. Os grifos são meus.
"Diferentemente dos anos 2006 e 2007, em 2010 o e-mail não era uma convocação nem um convite para participar de uma reunião para realizar a escolha e sim a solicitação para que cada empregado votasse em um nome que seria juntado a outros dois (um de cada dos outros dois setores) para os gerentes escolherem duas pessoas que irão de fato concorrer pela divisão."
"Uma 'permissão' importante (segundo o e-mail) fora criada: 'Vale votar em si mesmo!'"
E ao tomar conhecimento de tal "permissão", a velha prática das recordações sucessivas trouxe-me à mente o seguinte episódio. Em uma reunião em que foi abordada a criação de um bônus a ser dividido entre os funcionários, o chefe da divisão disse algo mais ou menos assim: na divisão do bônus 30% ficará para a chefia por ser chefia... Alguém consegue não enxergar nessa divisão um nítido exemplo de aplicação de algo parecido com a "permissão" - "Vale votar em si mesmo!"? Uma tendenciosa divisão feita por quem? Por um chefe de divisão. Por alguém que, por "estar" chefe, diferentemente dos apenas funcionários, já recebia em sua remuneração um bônus denominado gratificação de chefia.
Howard Gardner, o criador da Teoria das Inteligências Múltiplas, enxergou inicialmente sete inteligências: Lógico-matemática, Linguística, Musical, Espacial, Corporal-cinestésica, Intrapessoal e Interpessoal. Posteriormente, enxergou mais duas: Naturalista e Existencial. Porém existe uma que, até onde sei, ele jamais confessou ter enxergado. Que inteligência é essa? É a inteligência gerencial. Um estranhíssimo tipo de inteligência que impede de enxergar coisas óbvias como a imprescindibilidade da prática do trabalho em equipe e que possibilita inventar coisas absurdas como as premiações individuais e a permissão para votar em si mesmo para tais premiações.
"Importante: vale votar em si mesmo!" ou votar em si mesmo por considerar-se importante, eis a questão! Votar em si mesmo por querer ser especial. Querer ser especial, eis um tema focalizado em uma bela história a ser espalhada após a postagem alusiva a uma data significativa que se aproxima.

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