Continuação de terça-feira
Transformando suor em ouro é um
livro que vale a pena ler na íntegra. Portanto, os trechos reproduzidos na
postagem anterior podem ser lidos como uma espécie de degustação para despertar
a vontade de lê-lo. Por entender que leitura é algo que deve provocar
reflexões, seguem algumas provocadas pela leitura dos trechos selecionados.
"Trata-se de uma verdade que vale tanto para o mundo esportivo quanto para o corporativo. Posso assegurar que o voleibol é um dos esportes em que o sentido coletivo está mais presente. Nele, a única ação que se faz isoladamente é o saque. Todas as outras resultam de interações entre duas ou mais pessoas."
Um dos motivos da comparação
do mundo esportivo com o corporativo tem a ver com o fato de Bernardinho atuar
no mundo esportivo e ser um conceituado palestrante no corporativo. Porém, no
meu entender, a comparação com o mundo esportivo pode ser se estendida a
qualquer outro mundo, pois, seja lá em que mundo for, jamais será possível
construir algo que preste sem a colocação dos interesses coletivos acima dos
individuais. Há uma afirmação atribuída ao imperador Marco Aurélio que, no meu
entender, ilustra bem a relação correta entre coletivo e individual. "O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha".
"Prêmios (...) para os destaques individuais, que muitos consideram um estímulo para que o jogador brilhe, mas eu entendo como um incentivo à vaidade, ao ego, podendo até criar desequilíbrio dentro do grupo."
"Um incentivo
à vaidade, ao ego, podendo até criar desequilíbrio dentro do grupo.", diz
Bernardinho. "O futuro de premiações individuais é a
desagregação de qualquer equipe, a longo prazo.", eis uma afirmação feita na única resposta
ao e-mail em que eu comunicara aos colegas de trabalho o porquê da minha não
participação na escolha do destaque individual no ano 2006. Em 2007, o chefe
não solicitou que eu explicasse aos colegas a minha não participação. Mais uma
vez não participei da reunião para escolher o destaque individual do setor em
que trabalhava e não soube quem foi o escolhido, pois não me interessava saber.
Em 2008 e em 2009 não tive conhecimento da
reunião de Escolhas de destaques individuais, porém em 2010 recebi o seguinte
e-mail: (os grifos já vieram no e-mail)
Assunto Destaque individual TIC-CONTPessoal,fiquei encarregado de obter, junto a vocês, um nome para representar o destaque individual da TIC-CONT.esta pessoa seria o EMPREGADO que, no ano de 2009, se destacou (obviamente) e fez algo diferente (de bom, claro) e obteve um resultado positivo pra nossa gerência.a ideia é indicarmos este nome e, dos três indicados pelas setoriais (FINAN, TRIB e CONT), os gerentes escolherem duas pessoas que irão de fato concorrer pela TIC-FIN.peço a resposta até esta quarta, dia 19 de maio de 2010Importante: vale votar em si mesmo!Importante 2: pode me passar o nome por e-mail, papel ou qualquer outro método que ache mais fácil.Atenciosamente,Fulano (um empregado do setor)
E-mail que respondi com a anexação dos
e-mails enviados ao chefe em 2006 e em 2007, precedida da seguinte explicação.
"Nunca participei de votação para a escolha de destaque individual, e não farei isto agora. As gerências anteriores me dispensaram desta tarefa a partir dos seguintes esclarecimentos."
Diferentemente do ano 2006, em 2010 recebi
algumas respostas dos colegas – umas concordando comigo outras discordando. E
mais uma vez não me interessou saber quem foi o escolhido. Em relação ao e-mail
solicitando a indicação de um nome, faço as seguintes considerações. Os grifos são
meus.
"Diferentemente dos anos 2006 e 2007, em 2010 o e-mail não era uma convocação nem um convite para participar de uma reunião para realizar a escolha e sim a solicitação para que cada empregado votasse em um nome que seria juntado a outros dois (um de cada dos outros dois setores) para os gerentes escolherem duas pessoas que irão de fato concorrer pela divisão."
"Uma 'permissão' importante (segundo o e-mail) fora criada: 'Vale votar em si mesmo!'"
E ao tomar conhecimento de tal "permissão", a velha prática das recordações sucessivas trouxe-me à
mente o seguinte episódio. Em uma reunião em que foi abordada a criação de um
bônus a ser dividido entre os funcionários, o chefe da divisão disse algo mais
ou menos assim: na divisão do bônus 30% ficará para a chefia por ser chefia... Alguém
consegue não enxergar nessa divisão um nítido exemplo de aplicação de algo
parecido com a "permissão" - "Vale votar em si mesmo!"? Uma tendenciosa divisão feita por quem? Por
um chefe de divisão. Por
alguém que, por "estar" chefe, diferentemente dos apenas funcionários, já recebia
em sua remuneração um bônus denominado gratificação de chefia.
Howard
Gardner, o criador da Teoria das Inteligências Múltiplas, enxergou inicialmente
sete inteligências: Lógico-matemática,
Linguística, Musical, Espacial, Corporal-cinestésica, Intrapessoal e
Interpessoal. Posteriormente, enxergou mais duas: Naturalista e Existencial. Porém existe uma que, até onde sei, ele
jamais confessou ter enxergado. Que inteligência é essa? É a inteligência
gerencial. Um estranhíssimo tipo de inteligência que impede de enxergar coisas
óbvias como a imprescindibilidade da prática do trabalho em equipe e que possibilita
inventar coisas absurdas como as premiações individuais e a permissão para votar
em si mesmo para tais premiações.
"Importante: vale votar em si mesmo!" ou votar em si
mesmo por considerar-se importante, eis a questão! Votar em si mesmo por querer
ser especial. Querer ser especial,
eis um tema focalizado em uma bela história a ser espalhada após a postagem
alusiva a uma data significativa que se aproxima.
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