quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Reflexões provocadas por "Um padrão de vida diferente"

"A tarefa de criar um mundo melhor não começa com os programas de governo ou com movimentos revolucionários, mas com os pensamentos, sentimentos e ações de cada um de nós."

  (Laurence G. Boldt em seu livro Como encontrar o Trabalho dos seus Sonhos)
"Ao construir valores materiais e sucumbir a eles, será que não estamos criando catástrofes sociais, guerras, crueldade e miséria? Mantendo um alto padrão de vida e valorizando-o, não estamos criando um mundo mecanicista e bárbaro, de crueldade, competição e orgulho?". Isso o médico via claramente, pelo menos naquele momento.
Nas palavras de Krishnamurti reproduzidas acima, quem é o médico que "via isso claramente, pelo menos naquele momento"? É o que o procurara incomodado com a enganação existente em suas atividades profissionais. Enganação!? Sim, enganação, como demonstra o que é dito a seguir.
"O dr. A. disse que tinha seu consultório e ganhava muito dinheiro na prática médica, mas tinha certeza de que não estava realmente curando. Comprimidos e líquidos coloridos não levavam à verdadeira cura, embora oferecessem um alívio temporário. Ele queria a verdadeira cura."
Diante da afirmação de que "embora oferecessem um alívio temporário, comprimidos e líquidos coloridos não levavam à verdadeira cura", será que faz sentido afirmar que a referida prática médica pode ser vista como enganação?
"Meu trabalho é uma grande enganação. Sou paga para enganar as pessoas e elas querem ser enganadas".
"Quem é a autora da afirmação acima? A atriz Ana Paula Arósio, em reportagem publicada na edição de 26 de fevereiro de 2008 do jornal Folha de São Paulo.
Diante do que é dito até aqui, será que faz sentido indagar se existem mais trabalhos que podem ser considerados enganação? No meu entender, sim. Aliás, quando a finalidade do trabalho resume-se a ganhar dinheiro, entendo que a tendência à enganação seja algo, praticamente, inevitável.
Advogados atuando para inocentar indivíduos com participação inegável em crimes, alegando trabalhar em prol da justiça (sic). Profissionais de segurança pública, cuja função deveria ser eliminar a violência, praticando a violência em suas atividades. Desportistas profissionais usando recursos ilícitos para tornarem-se os melhores (sic) em suas modalidades. Jogadores de futebol usando toda espécie de artimanhas para levar os árbitros ao cometimento de erros. Prestadores de serviços, dos mais variados tipos, prestando serviços que não prestam. Políticos candidatando-se dizendo que servirão ao povo e que após eleitos dele se servem.
Será que faz sentido classificar tudo que é citado no parágrafo anterior como exemplos de enganação? Será que faz sentido afirmar que no estágio evolutivo em que se encontra a maioria dos seres integrantes da autodenominada espécie inteligente do universo a sociedade por ela engendrada pode ser intitulada sociedade da enganação?
"Dando-se conta disso, deveria ceder às exigências materiais da família por mais e mais conforto, carros maiores e melhores, e tudo o mais? (...) Seria ele capaz de viver uma vida simples, despojado da parafernália e ostentação externas, satisfeito com pouco, porque interiormente estava em paz, rico em compreensão, pleno de amor?".
O parágrafo anterior apresenta algumas indagações feitas por Krishnamurti sobre o que deveria e / ou conseguiria fazer o médico que o procurara almejando um padrão de vida diferente. Indagações que estendo em relação a todos nós, acrescentando a elas o fato de Krishnamurti tê-las feito, pelo menos há quase 35 anos, pois desencarnou em 17 de fevereiro de 1986, e o assombroso desenvolvimento tecnológico ocorrido de lá para cá, o que resulta nas seguintes indagações.
Deveríamos ceder às exigências materiais por mais e mais conforto, internet mais rápida e melhor, e tudo o mais? (...) Seremos capazes de viver uma vida simples, despojados da parafernália e ostentação externas, satisfeitos com pouco, porque interiormente estaremos em paz, ricos em compreensão, plenos de amor? Seremos capazes de compreender que o que é, realmente, imprescindível para a construção de um mundo melhor não é a tecnologia 5G, e sim a sintonia 5A, composta de Afeição, Alteridade, Altruísmo, Amizade e Amor. Não, infelizmente, a partir do que é dito nos dois próximos parágrafos, minha conclusão é que ainda não estamos aptos a compreender tal coisa.
Nokia vai liderar pesquisas do 6G na Europa
Programa de pesquisas começa em janeiro de 2021 e visa desenvolver casos de uso e tecnologias de base para as redes de sexta geração. Expectativa é que o 6G seja até 8 mil vezes mais rápido que o 5G.
Constituindo o início de uma reportagem assinada por Filipe Garrett, publicada em 12 de dezembro de 2020 no Tech Tudo, o site de tecnologia da Globo.com, os dois parágrafos imediatamente acima provocam a seguinte indagação: Para onde está indo a humanidade, cada vez mais rápido? Indagação que submetida ao velho método das recordações sucessivas, faz com que ele traga-me à mente a seguinte imagem feita por Thich Nhat Hanh (1926), um monge budista, pacifista, escritor e poeta vietnamita indicado por Martin Luther King ao prêmio Nobel da Paz. "A humanidade se assemelha a um homem montado num cavalo em disparada, e que ao ser perguntado: 'Para onde você está indo?' responde: 'Não sei, pergunte ao cavalo!'". Será que faz sentido associar o cavalo ao 5G, ao 6G, ... ao "nnn"G?
Mas o velho método das recordações sucessivas não para por aqui, e traz-me à mente uma afirmação que considero uma das mais significativas que encontrei nesta vida. "A civilização não tem como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim o do homem.", afirma Alexis Carrel (1873-1944), cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo francês que, em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia e autor do livro "O Homem, esse desconhecido". Ou seja, embora a tecnologia seja algo indispensável, o progresso do homem é mais importante que o dela. Não, não é enquanto for fascinado pelos "G"s da tecnologia que o homem conseguirá algum dia construir um mundo melhor, e sim quando, finalmente, ele entender a imprescindibilidade de viver em sintonia com os "A"s: Afeição, Alteridade, Altruísmo, Amizade e Amor.
"Ele queria a verdadeira cura. Isso implicaria em um padrão de vida diferente, (...)", diz Krishnamurti referindo-se ao médico que o procurara.
Um padrão de vida diferente, eis a solução para todos os males que afligem esta insana sociedade que imagina ser possível continuar fazendo as mesmas coisas e obter resultados diferentes.
Em uma reunião da qual participei esta semana, através do Zoom, ouvi de um dos participantes algo mais ou menos assim. Será que alguém teria pedido no final de 2019 uma pandemia em 2020? Não, ninguém pediria uma coisa dessas. Então, por que será que ela veio? Talvez, porque o que pedimos a um novo ano - por meio de palavras – seja algo completamente incompatível com o que - nossas ações, e omissões - originam. Ou seja, embora a humanidade – por palavras - não tenha pedido uma pandemia em 2020, o fato é que sua chegada nada mais é do que o atendimento do pedido feito pelo - somatório dos padrões de vida adotados pela humanidade até então.
E o referido participante acrescentou algo mais ou menos assim. Na verdade, em vez de pedir que o novo ano nos traga aquilo que queremos, a atitude correta seria oferecermos ao novo ano um novo eu. Será que, associando esta afirmação ao que é dito no texto de Krishnamurti, posso dizer que a atitude correta seria a adoção de um novo padrão de vida? Um novo padrão de vida adotado em conformidade com o potencial e a responsabilidade de cada um de nós. E ao dizer isto, o final desta postagem, surpreendentemente, leva-me ao início da anterior. Ou seja, o novo padrão de vida, o padrão de vida diferente deverá estar em conformidade com o Programa do Senhor, ou seja, deverá considerar as recomendações feitas nas perguntas e respostas reapresentadas a seguir.
- Qual a função dos melhores?
- Melhorar os piores.
- E a ocupação dos mais inteligentes?
- Instruir os ignorantes.
- Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
- Ajudarão aos maus, a fim de que estes se façam igualmente bons.
- E o encargo dos ricos?
- Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.

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