quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Alguns trechos marcantes de "Esperança na desesperança"

"Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou."

  (Jacques Lacan)
Eu posso saber o que espalhei, mas nunca o que o outro captou. Aplicando essa paráfrase às idéias espalhadas pela postagem anterior e desejando muito que algumas delas sejam captadas, reapresento nesta alguns trechos que considero significativos demais para deixarem de ser captados. Trechos que, no meu entender, merecem reflexões bastante apuradas.
"'A esperança (...) não é a convicção de que algo vai sair bem, mas a certeza de que algo faz sentido, independentemente do que ocorra'. Eis uma afirmação de Vaclav Havel (1936 – 2011) que Margaret Wheatley diz tê-la ajudado no sentido de tornar-se mais atraída pela insegurança e o não saber. E ela acrescenta: 'Havel parece descrever não a esperança, mas a desesperança: libertar-se dos resultados, desistir das consequências, fazer o que se acha certo e não o que se acha eficaz.'"
"O místico católico Thomas Merton (1915 – 1968) também falou sobre a jornada rumo à desesperança. Numa carta a um amigo, ele aconselhou 'Não dependa da esperança dos resultados. Você pode ter que enfrentar o fato de que seu trabalho será aparentemente inútil e até mesmo não obter qualquer resultado, ou obter um resultado oposto ao que você espera. À medida que você se acostumar com essa ideia, começará a focar cada vez menos nos resultados, e cada vez mais no valor, na retidão e na verdade do trabalho em si. Gradualmente você lutará cada vez menos por uma ideia e cada vez mais por pessoas específicas. No final, é a realidade do relacionamento pessoal que salva tudo.'", diz Margaret Wheatley.
Juntando algumas coisas ditas por Vaclav Havel com algumas ditas por Thomas Merton elaborei algo assim: "Não é a convicção de que algo vai sair bem, mas a certeza de que algo faz sentido, independentemente do que ocorra". (...) "libertar-se dos resultados, desistir das consequências, fazer o que se acha certo e não o que se acha eficaz." (...) "Não depender da esperança dos resultados." "(...) focar cada vez menos nos resultados, e cada vez mais no valor, na retidão e na verdade do trabalho em si."

Será que as proposições de Havel e de Merton têm tudo a ver? Será que faz sentido afirmar que o que eles propõem é, simplesmente, oposto ao que é adotado pela imensa maioria dos integrantes deste insano mundo no qual o que mais importa é a obtenção de resultados esperados em tempos cada vez mais abreviados? Intitulada Não ficar na dependência de resultados, a postagem publicada em 09 de janeiro de 2012 é, na minha insuspeita (?!) opinião, uma postagem que vale a pena ler.

"Alguns de meus melhores instrutores a esse respeito foram jovens líderes. Uma jovem líder, com vinte e poucos anos, disse: 'O modo como vamos é importante, e não aonde vamos. Eu quero ir acompanhada e com fé'. Outra jovem disse: 'Sinto que estamos de mãos dadas enquanto caminhamos para o interior de bosques profundos e sombrios'", diz Margaret Wheatley.
Ao incluir duas jovens líderes entre seus melhores instrutores, Margaret Wheatley faz-me lembrar de duas das três postagens iniciais deste blog - O Fenômeno do Centésimo Macaco e Reflexões sobre o Fenômeno do Centésimo Macaco. O próximo parágrafo foi extraído da última citada.
"Foi uma fêmea de um ano e meio quem descobriu a solução para o sabor desagradável que a areia dava às batatas-doces. Ou seja, a solução foi encontrada por alguém pertencente a dois grupos que, na nossa sociedade, não têm muita influência quando o assunto é solucionar problemas - mulheres e jovens. Em uma sociedade na qual existem formadores de opinião, obviamente, existem também descobridores de solução e, em tais grupos, mulheres e jovens não são incluídos."
Reconhecer que o ensinamento pode vir de mulheres e de jovens significa, no meu entender, subir alguns degraus na escada evolutiva.
"Uma mulher do Zimbábue, num momento muito difícil, escreveu: 'Na minha dor eu me vi sendo amparada, todos nós amparando uns aos outros nessa teia amorosa. Dor e amor no mesmo lugar. Senti como se meu coração fosse explodir com todo aquele amparo'. Thomas Merton estava certo: somos consolados e fortalecidos quando estamos desesperançosos, mas juntos. Não precisamos de resultados; precisamos uns dos outros.", diz Margaret Wheatley.
Sim, Thomas Merton estava certo. E para quem já dissera que "No final, é a realidade do relacionamento pessoal que salva tudo.", afirmar que "Não precisamos de resultados; precisamos uns dos outros.", creio que seja apenas uma dose de reforço para vacinar-nos contra a falsa crença de ser possível viver bem desconsiderando a interdependência.
"Dois líderes visionários, Moisés e Abrahão, levaram adiante promessas feitas pelo seu Deus, mas tiveram que abandonar a esperança de ver essas promessas se cumprirem enquanto ainda vivessem. Eles lideraram com fé, não com esperança, a partir de um relacionamento com algo além de sua compreensão."
Abandonar a esperança de ver a concretização de algo que contribuirá para o bem coletivo enquanto ainda se vive, eis algo cuja prática, infelizmente, parece-me ainda restrita a indivíduos visionários. Visionários! "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.", diz Teilhard de Chardin. Será Chardin um visionário? Quantas experiências humanas vive cada ser espiritual? Será que o que de bom não virmos concretizado enquanto estivermos vivendo uma determinada experiência humana estará nos aguardando em experiências futuras? Será que faz sentido plantarmos algo que não colheremos?
Intitulada Quem planta tâmaras não colhe tâmaras, a postagem de 20 de novembro de 2017 tem, no meu entender, muito a ver com a atitude de Moisés e de Abrahão. E pode ajudar a responder a última indagação feita no parágrafo anterior.
"Minha viagem começou com um pequeno livro intitulado The Web of Hope (A Teia da Esperança), que lista os sinais de desespero e esperança em relação aos problemas mais prementes da Terra. O principal entre estes é a destruição ambiental que os seres humanos promovem. Contudo, a única coisa que o livro lista como esperançosa é que a Terra trabalha para criar e manter as condições que dão suporte à vida. Nós, seres humanos, seremos aniquilados rapidamente se não mudarmos nossa maneira de agir. O biólogo E. O. Wilson comenta que, com exceção dos animais de estimação e das plantas caseiras, todas as outras espécies do planeta seriam beneficiadas se o ser humano fosse extinto.", diz Margaret Wheatley.
Minha postagem termina citando um artigo do biólogo Fernando Reinach publicado na edição de 22 de fevereiro de 2020 em sua coluna no jornal O Estado de S. Paulo sob o título Mundo de oportunidades. Artigo que, quem acessar este blog na próxima terça-feira, terá a oportunidade de ler.

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