"Você pode saber o que disse, mas nunca o que
o outro escutou."
(Jacques Lacan)
Eu posso saber o que espalhei, mas nunca o
que o outro captou. Aplicando essa paráfrase às idéias espalhadas pelas duas postagens
mais recentes e desejando muito que os ensinamentos de Roberto Crema sejam
captados, reapresento nesta alguns trechos que considero significativos demais para
deixarem de ser captados. Trechos que, no meu entender, merecem reflexões
bastante apuradas. Afinal, como é dito no início da resposta à quinta pergunta,
- "Os problemas antes de serem interpessoais são intrapessoais. Cada um de
nós simboliza um pedacinho de praça pública. A transformação da sociedade tem
início na autotransformação, quando somos capazes de conquistar um pouco de
ordem, de equilíbrio, de integridade e de amor no microcosmo que nos foi
ofertado pelo Grande Cosmo."
"A transdisciplinaridade significa o diálogo da ciência com a filosofia, a arte e a tradição espiritual. Em outras palavras, a aliança da ciência com a consciência. (...) Para que seja possível a sobrevivência com dignidade das nossas novas gerações, é necessária a aliança da ciência com a consciência. Assim a nossa sofisticada tecnologia terá uma orientação e um sentido ético, fundamentado nos valores perenes da nossa espécie."
Uma aliança
da ciência com a consciência em substituição à sinistra aliança em vigor: a da ciência
com a ganância.
"Os problemas antes de serem interpessoais são intrapessoais. Cada um de nós simboliza um pedacinho de praça pública. A transformação da sociedade tem início na autotransformação, quando somos capazes de conquistar um pouco de ordem, de equilíbrio, de integridade e de amor no microcosmo que nos foi ofertado pelo Grande Cosmo."
Ou seja, o
sentido em que o caminho deve ser percorrido - para solucionar os problemas da
sociedade e conseguir realizar sua transformação - é do intrapessoal para o
interpessoal. E considerando a seguinte afirmação:
"Há mais de três décadas afirmo que ninguém transforma ninguém e que ninguém se transforma sozinho; nos transformamos no encontro."
Afirmação que enxergo em sintonia com uma de Howard Hendricks da qual gosto demais. "Daqui
a cinco anos você estará bem próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto
por duas coisas: os livros que ler e as pessoas de quem se aproximar".
"As pessoas de quem se
aproximar", ou seja, as pessoas com quem encontrar. Assim como a
única pessoa que cada um poderá transformar é a si mesmo, é fato que cada um de
nós jamais conseguirá transformar-se sem interagir com outras pessoas, até
porque é o encontro que proporciona-nos a oportunidade de descobrir como somos.
Então, partindo de tal descoberta, quem sabe, desejemos partir em busca da
autotransformação que nos possibilite atuar contra algo que, segundo Confúcio,
é o que nos distingue de outras espécies.
"Como afirmava Confúcio há cerca de 2500 anos: o que nos distingue de outras espécies é o inacabamento, a incompletude. É o que traduzo quando afirmo que não nascemos humanos, nós nos fazemos humanos investindo na semente de uma plenitude possível em nosso interior, e fazendo render os talentos que o Mistério nos confiou sob medida."
Inacabamento,
incompletude, eis o que nos impede de já sermos seres humanos. A postagem
publicada em 8 de setembro de 2011 (há 9 anos menos um dia) tem o seguinte título: As regras para Ser Humano.
"Eis o grande obstáculo para nossas boas intenções de paz, de justiça e de saúde integral: a normose. (...) uma normalidade doentia. (...) Uma normose muito estridente que testemunhamos é a da corrupção. As pessoas envolvidas dizem: "Mas todo mundo faz assim". Eis uma descrição precisa dessa anomalia da normalidade. (...) Longe de mim a ingenuidade de crer que a corrupção desaparecerá; ela deixará de ser normose para ser um crime, como já ocorreu com a normose da escravidão que era aceita dominantemente nas instituições em geral. Se alguém pratica a escravidão hoje, sabe que se trata de um crime passível de punição severa. Simples assim."
Sim, nem a
corrupção nem qualquer outra normose desaparecerá; o que ocorrerá com qualquer
uma delas será o que já ocorreu com a normose da escravidão: "a mudança no
modo de olhá-las."
"Mudar o mundo é mudar o olhar. O amanhã é uma construção do agora. O que estamos pensando, falando e fazendo hoje é o que seremos amanhã.".
E ao fazer a afirmação acima, Roberto Crema
faz-me lembrar as duas reproduzidas abaixo.
"Somos
o que somos e ao mesmo tempo o que fazemos para mudar o que somos." (Eduardo Galeano).
"Pense nisso: O que fazemos conosco
agora é o mais importante para o amanhã. Se não fizermos nada para mudar nossa
atitude e o nosso modo de atuar, amanhã parecerá ontem, exceto pela data".
(Moshé Feldenkrais).
"(...) partimos do princípio de que não é com o paradigma que inventou o problema que iremos resolvê-lo.", diz Roberto Crema.
"Não podemos resolver nossos
problemas usando o mesmo tipo de pensamento que os criou. Portanto, é
imprescindível uma nova maneira de pensar. É preciso entender que uma nova
maneira de pensar não é pensar coisas novas: é pensar de outra maneira.", diz Albert Einstein. Ou seja,
mudar o mundo é também mudar a maneira de pensar. E, em conformidade com as duas
afirmações abaixo, é também mudar a maneira de viajar e os caminhos a
percorrer.
"Como afirma o poeta Fernando Pessoa, 'A vida é o que fazemos dela. Não há viagens, há viajantes'.".
"Não é difícil constatar que a razão nem sempre tem razão quando lhe faltam os ditames do coração." "(...) Necessitamos transcender os trilhos normóticos, confortáveis e previsíveis, para trilhas que não existem, e que serão inventadas pelos nossos próprios pés nos caminhos que tem coração.".
E ao falar em viagens, viajantes, caminhos,
razão e coração, a velha e boa prática das recordações sucessivas faz-me trazer
para esta postagem algumas afirmações que considero em sintonia com tais coisas.
"O caminho se faz caminhando." (Paulo Freire).
"O coração tem razões que
a própria razão desconhece."
(Blaise Pascal).
"É
apenas com o coração que se pode ver direito; o essencial é invisível aos olhos."
(Antoine de Saint-Exupéry).
Sim, "É
apenas com o coração que se pode ver direito" e ao ver direito enxergar
que:
"(...) quando no meio no qual vivemos e convivemos predomina o egocentrismo, a violência, a falta de visão, de escuta e de cuidado, quando a corrupção impera. (...) ser normal é adaptar-se a um sistema desequilibrado, desumano e patológico. É o que transcorre claramente nos tempos atuais. Então, a pessoa saudável é a desajustada que sofre em algum grau de uma indignação lúcida, de um desespero sóbrio, e faz alguma coisa para mudar o contexto no qual habita."
Sim, "Fazer alguma coisa
para mudar o contexto no qual habita", pois, como
diz Antoine de Saint-Exupéry, "Na vida, não existem soluções. Existem
forças em marcha: é preciso criá-las e, então, a elas seguem-se as
soluções.".
"Foi Abraham Maslow que denominou de complexo de Jonas a um tipo de resistência que impede o processo de pleno desenvolvimento e de autorrealização individual. Jean-Yves Leloup desenvolveu essa perspectiva no livro Caminhos da Realização.".
Sou eu
quem lhes recomenda Caminhos da
Realização como um dos melhores livros que já li. Sobre normose deixo-lhes a
recomendação de um vídeo intitulado "Normose:
a patologia da normalidade" que até o momento de publicação desta postagem
estava disponível em https://www.youtube.com/watch?v=qeAnV_53qNc. E para encerrar esta já longa postagem segue
o seguinte "poema" de Roberto Crema.
"Mudar o mundo é mudar o olhar.Do olhar que estreita e subtrai, para o olhar que amplia e engrandece.
Do olhar que julga e condena, para o olhar que compreende e perdoa.
Do olhar que teme e se esquiva, para o olhar que confia e atreve.
Do olhar que separa e exclui, para o olhar que acolhe e religa."
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