"Os
problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem."
(Peter M. Senge [1947 - ....], autor renomado do livro A Quinta Disciplina)
"Legislação anti-fake news
não resolverá o problema. (...) Não há solução mágica. (...) É também conhecida
e universal a tentação de querer mudar a realidade com leis ou com uma
canetada. (...) Para tentar resolver problemas criados pela tecnologia, mais
tecnologia será empregada. (...) Resultados efetivos no combate a desinformação
online dependem de educação, mesmo que regulação adequada e tecnologia ajudem.
Para conter os efeitos de fake news, é necessário capacidade de pensamento
crítico, habilidade de duvidar de maneira inteligente e julgar de forma
fundamentada."
Composto de trechos do excelente
texto de Tatiana Prazeres, o parágrafo anterior evidencia algo que, no meu
entender, a pretensa espécie inteligente do universo teima em não querer
aprender: a encontrar soluções para os problemas que a afligem. E o que é pior:
problemas criados por ela mesma.
"Os problemas de hoje provêm
das 'soluções' de ontem.", afirma Peter Senge em A Quinta Disciplina, um dos melhores livros que já li. Uma
afirmação inesquecível que, usada em um e-mail enviado na época em que eu atuava
no teatro corporativo, rendeu-me uma ameaça de punição, e eu explico. Diante da
insistência de um "iluminado" (confundir "estar em cargo de
chefia" com "ser um iluminado" é algo bastante comum em tal
teatro) em adotar uma determinada 'solução', em um ambiente regido pela máxima
"Manda quem pode e obedece quem tem juízo", na condição de um sem
juízo, enviei para o grupo dos envolvidos com o problema um e-mail onde
constava o trecho reproduzido no próximo parágrafo.
"Usando
o correio eletrônico como cultura, sugiro a leitura de um capítulo do livro 'A
Quinta Disciplina', de Peter M. Senge, da editora Best
Seller, que na parte II, item 4, página 89, tem um subtítulo bastante
sugestivo: Os problemas de hoje provêm das 'soluções de ontem'.
Considero uma leitura recomendável para qualquer pessoa com idade acima de
dezesseis anos e obrigatória para quem no seu cotidiano enfrenta problemas a
resolver, principalmente no ambiente de trabalho, que é onde passamos a maior
parte de nossas vidas. Discordar do subtítulo contribui para torná-lo cada vez
mais verdadeiro."
A carapuça coube tão bem em alguém
que o chefe da divisão a que eu pertencia disse-me que houve quem pedisse que
me fosse aplicada uma punição. Ou seja, uma punição que seria aplicada por
alguém incapaz de ouvir algo que precisava, mas que sua arrogância lhe impedia
de ouvir. Felizmente, a 'solução' não foi adotada e a punição não foi aplicada.
Hoje, quase vinte anos depois, desconsiderando o número da página, pois ele se
refere à edição publicada naquela época, reitero nesta postagem a recomendação
feita naquele e-mail.
"Para tentar resolver
problemas criados pela tecnologia, mais tecnologia será empregada.", diz
Tatiana Prazeres fazendo-me lembrar algo dito por um indivíduo de nome Albert
Einstein. O que ele disse? "Não podemos resolver nossos problemas usando o
mesmo tipo de pensamento que os criou." Portanto, é imprescindível uma
nova maneira de pensar. É preciso entender que uma nova maneira de pensar não é
pensar coisas novas: é pensar de outra maneira. Vocês concordam que a afirmação
de Einstein vai de encontro ao que será empregado "para tentar resolver os
problemas criados pela tecnologia."? Vocês concordam que fazer isso será revalidar
a afirmação de Peter Senge. Sim, "Os problemas de hoje provêm das
'soluções' de ontem.". A postagem publicada em 26 de fevereiro de 2012 tem
o seguinte título "O que não me mata me fortalece"
ou "Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem".
"Não há solução
mágica.", diz Tatiana. Ou seja, não há solução sem que alguém se disponha
a enfrentar o problema, pois como disse James Baldwin [1924 – 1987], escritor e
ativista americano, "Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas
nada pode ser modificado até que seja enfrentado." A quem cabe enfrentar o
problema? A todos os que por ele sejam atingidos ou afetados.
Acreditar que há solução mágica
é uma crença equivocada. Crenças equivocadas, eis um autêntico gerador de
problemas para uma dita espécie inteligente do universo. Afinal, tudo o que
cada um de nós faz fundamenta-se nas crenças que tem – consciente ou
inconscientemente. "É também conhecida e universal a tentação de querer
mudar a realidade com leis ou com uma canetada.", diz Tatiana. Eis mais
uma crença equivocada, digo eu, usando, inclusive, uma afirmação de Tatiana:
"Legislação anti-fake news não resolverá o problema."
E as afirmações relevantes de
Tatiana Prazeres continuam. "Resultados efetivos no combate a
desinformação online dependem de educação, mesmo que regulação adequada e
tecnologia ajudem. Para conter os efeitos de fake news, é necessário capacidade
de pensamento crítico, habilidade de duvidar de maneira inteligente e julgar de
forma fundamentada.".
Sim, resultados efetivos no
combate não só à desinformação online, mas a todo e qualquer mal que nos aflija
coletivamente, dependem da educação, "mesmo que regulação adequada e
tecnologia ajudem". Educação, eis o caminho para se chegar a algo que faça
jus ao termo civilização. E sendo imprescindível encontrar um caminho que tal
apelar para uma bússola?
"'A educação precisa ajudar as pessoas a desenvolver uma bússola
confiável para um mundo incerto, volátil, ambíguo', concluiu a OCDE, o dito
clube dos ricos, após o resultado do último exame Pisa (Programa Internacional
de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês) no quesito leitura", diz Tatiana. Conclusão a qual ela faz o seguinte acréscimo: "repleto de fake news". Sem
isso, não há lei que dê conta de desinformação online, acrescenta ela. Será que
o foi dito até aqui é suficiente para convencer alguém da imprescindibilidade
da educação?
"Capacidade
de pensamento crítico, habilidade de duvidar de maneira inteligente e julgar de
forma fundamentada.", eis três coisas consideradas por Tatiana como
necessárias para conter os efeitos de fake news. Será que a necessidade dessas
três coisas vai muito além da contenção dos efeitos de fake news? Será que,
mais do que necessárias, elas são simplesmente imprescindíveis à construção de
algo que faça jus ao termo civilização? O que vocês acham?
Em uma postagem que defende a
imprescindibilidade da educação considero obrigatório citar a seguinte afirmação
do historiador inglês Edward Gibbon (1737 –
1794): "O homem recebe duas classes de educação. Uma que lhe dão os
demais; outra a mais importante, que ele dá a si mesmo.". Ou seja, alegar
que se é do jeito que se é devido à educação que se recebeu é algo que não faz
sentido. Compreendido?
Solução
mágica, crenças equivocadas, imprescindibilidade da educação, capacidades e habilidades
necessárias para conter os efeitos de fake news, eis alguns temas que enxergo como
provocadores de indagações e reflexões em A era da desinformação. Vocês enxergam outros?
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