sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Reflexões provocadas por "A era da desinformação"

"Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem."
(Peter M. Senge [1947 - ....], autor renomado do livro A Quinta Disciplina)
"Legislação anti-fake news não resolverá o problema. (...) Não há solução mágica. (...) É também conhecida e universal a tentação de querer mudar a realidade com leis ou com uma canetada. (...) Para tentar resolver problemas criados pela tecnologia, mais tecnologia será empregada. (...) Resultados efetivos no combate a desinformação online dependem de educação, mesmo que regulação adequada e tecnologia ajudem. Para conter os efeitos de fake news, é necessário capacidade de pensamento crítico, habilidade de duvidar de maneira inteligente e julgar de forma fundamentada."
Composto de trechos do excelente texto de Tatiana Prazeres, o parágrafo anterior evidencia algo que, no meu entender, a pretensa espécie inteligente do universo teima em não querer aprender: a encontrar soluções para os problemas que a afligem. E o que é pior: problemas criados por ela mesma.
"Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem.", afirma Peter Senge em A Quinta Disciplina, um dos melhores livros que já li. Uma afirmação inesquecível que, usada em um e-mail enviado na época em que eu atuava no teatro corporativo, rendeu-me uma ameaça de punição, e eu explico. Diante da insistência de um "iluminado" (confundir "estar em cargo de chefia" com "ser um iluminado" é algo bastante comum em tal teatro) em adotar uma determinada 'solução', em um ambiente regido pela máxima "Manda quem pode e obedece quem tem juízo", na condição de um sem juízo, enviei para o grupo dos envolvidos com o problema um e-mail onde constava o trecho reproduzido no próximo parágrafo.
"Usando o correio eletrônico como cultura, sugiro a leitura de um capítulo do livro 'A Quinta Disciplina', de Peter M. Senge, da editora Best Seller, que na parte II, item 4, página 89, tem um subtítulo bastante sugestivo: Os problemas de hoje provêm das 'soluções de ontem'. Considero uma leitura recomendável para qualquer pessoa com idade acima de dezesseis anos e obrigatória para quem no seu cotidiano enfrenta problemas a resolver, principalmente no ambiente de trabalho, que é onde passamos a maior parte de nossas vidas. Discordar do subtítulo contribui para torná-lo cada vez mais verdadeiro."
A carapuça coube tão bem em alguém que o chefe da divisão a que eu pertencia disse-me que houve quem pedisse que me fosse aplicada uma punição. Ou seja, uma punição que seria aplicada por alguém incapaz de ouvir algo que precisava, mas que sua arrogância lhe impedia de ouvir. Felizmente, a 'solução' não foi adotada e a punição não foi aplicada. Hoje, quase vinte anos depois, desconsiderando o número da página, pois ele se refere à edição publicada naquela época, reitero nesta postagem a recomendação feita naquele e-mail.
"Para tentar resolver problemas criados pela tecnologia, mais tecnologia será empregada.", diz Tatiana Prazeres fazendo-me lembrar algo dito por um indivíduo de nome Albert Einstein. O que ele disse? "Não podemos resolver nossos problemas usando o mesmo tipo de pensamento que os criou." Portanto, é imprescindível uma nova maneira de pensar. É preciso entender que uma nova maneira de pensar não é pensar coisas novas: é pensar de outra maneira. Vocês concordam que a afirmação de Einstein vai de encontro ao que será empregado "para tentar resolver os problemas criados pela tecnologia."? Vocês concordam que fazer isso será revalidar a afirmação de Peter Senge. Sim, "Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem.". A postagem publicada em 26 de fevereiro de 2012 tem o seguinte título "O que não me mata me fortalece" ou "Os problemas de hoje provêm das 'soluções' de ontem".
"Não há solução mágica.", diz Tatiana. Ou seja, não há solução sem que alguém se disponha a enfrentar o problema, pois como disse James Baldwin [1924 – 1987], escritor e ativista americano, "Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado." A quem cabe enfrentar o problema? A todos os que por ele sejam atingidos ou afetados.
Acreditar que há solução mágica é uma crença equivocada. Crenças equivocadas, eis um autêntico gerador de problemas para uma dita espécie inteligente do universo. Afinal, tudo o que cada um de nós faz fundamenta-se nas crenças que tem – consciente ou inconscientemente. "É também conhecida e universal a tentação de querer mudar a realidade com leis ou com uma canetada.", diz Tatiana. Eis mais uma crença equivocada, digo eu, usando, inclusive, uma afirmação de Tatiana: "Legislação anti-fake news não resolverá o problema."
E as afirmações relevantes de Tatiana Prazeres continuam. "Resultados efetivos no combate a desinformação online dependem de educação, mesmo que regulação adequada e tecnologia ajudem. Para conter os efeitos de fake news, é necessário capacidade de pensamento crítico, habilidade de duvidar de maneira inteligente e julgar de forma fundamentada.".
Sim, resultados efetivos no combate não só à desinformação online, mas a todo e qualquer mal que nos aflija coletivamente, dependem da educação, "mesmo que regulação adequada e tecnologia ajudem". Educação, eis o caminho para se chegar a algo que faça jus ao termo civilização. E sendo imprescindível encontrar um caminho que tal apelar para uma bússola?
"'A educação precisa ajudar as pessoas a desenvolver uma bússola confiável para um mundo incerto, volátil, ambíguo', concluiu a OCDE, o dito clube dos ricos, após o resultado do último exame Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, na sigla em inglês) no quesito leitura", diz Tatiana. Conclusão a qual ela faz o seguinte acréscimo: "repleto de fake news". Sem isso, não há lei que dê conta de desinformação online, acrescenta ela. Será que o foi dito até aqui é suficiente para convencer alguém da imprescindibilidade da educação?
"Capacidade de pensamento crítico, habilidade de duvidar de maneira inteligente e julgar de forma fundamentada.", eis três coisas consideradas por Tatiana como necessárias para conter os efeitos de fake news. Será que a necessidade dessas três coisas vai muito além da contenção dos efeitos de fake news? Será que, mais do que necessárias, elas são simplesmente imprescindíveis à construção de algo que faça jus ao termo civilização? O que vocês acham?
Em uma postagem que defende a imprescindibilidade da educação considero obrigatório citar a seguinte afirmação do historiador inglês Edward Gibbon (1737 – 1794): "O homem recebe duas classes de educação. Uma que lhe dão os demais; outra a mais importante, que ele dá a si mesmo.". Ou seja, alegar que se é do jeito que se é devido à educação que se recebeu é algo que não faz sentido. Compreendido?
Solução mágica, crenças equivocadas, imprescindibilidade da educação, capacidades e habilidades necessárias para conter os efeitos de fake news, eis alguns temas que enxergo como provocadores de indagações e reflexões em A era da desinformação. Vocês enxergam outros?

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