"Ex-funcionários
do Facebook e do Google se unem contra vício em tecnologia", eis o título de uma notícia publicada na edição de 06 de
fevereiro de 2018 do jornal Folha de
S.Paulo com a indicação de ter sido publicada no "New York Times"
e com tradução atribuída a Paulo Migliaccio.
"Pai do 'vício nas telas' agora quer oferecer a cura", eis o título
de uma reportagem publicada na edição de 13 de outubro de 2019 do jornal O Estado
de S. Paulo com a indicação de ter
sido publicada no The New York Times. A autoria da reportagem é
atribuída a Nellie Bowles, uma jornalista americana conhecida por cobrir o
mundo da tecnologia no Vale do Silício, e a tradução a Terezinha Martino.
A notícia foi reproduzida no
blog lendoeopinando
em 20 de fevereiro de 2018; a reportagem será espalhada por esta postagem. Considerando
o que é dito na notícia e na reportagem, no que tange a dispor-se a atuar
contra vício em tecnologia, no quesito sinceridade, acredito muito mais na dos ex-funcionários
do Facebook e do Google do que na do Pai
do 'vício nas telas'.
Pai do 'vício nas telas' agora quer oferecer
a cura
Após criar modelo
usado por startups do Vale para atrair usuários, Nir Eyal crê que pessoas podem
controlar compulsão
O israelense Nir Eyal ganhou fama nos últimos anos no
Vale do Silício por um motivo bem particular: lançado em 2014, seu livro Hooked: How to Build Habit-Forming Products
(Viciado: como criar produtos formadores
de hábitos, em tradução livre) virou um guia prático para criar aplicativos
de celular cativantes, capazes de "sutilmente motivar o comportamento do cliente" e "trazer continuamente o usuário de volta". Agora, ele tem um antídoto para seu próprio método: o
novo livro, Indistractable: How to
Control Your Attention and Choose Your Life (Indistraível: como controlar sua atenção e escolher sua vida, em
tradução literal).
O primeiro livro era um guia para viciar – Dave McClure,
fundador da incubadora 500 Startups, considerou sua obra um "manual essencial para qualquer startup que busca entender
a psicologia do usuário". Isso foi em 2014, quando um app tipo caça-níquel era
algo bom e empolgante e não algo digno de preocupação. O novo trabalho é um
método para reverter o vício.
Eyal, de 41 anos, não está sozinho nesta mudança de
direção. Desde Hooked, muitas pessoas,
como Tristan Harris, que foi responsável pela divisão de ética do Google, vêm
propagando a idéia de que os telefones não são saudáveis e viciam. Antigos
executivos do Facebook e WhatsApp se tornaram críticos da tecnologia. "Começaremos a perceber que ficar acorrentado ao celular é
um comportamento de baixo prestígio como fumar", escreveu B. J. Fogg, pesquisador da Universidade
Stanford.
Mas, ao contrário de outros críticos, Eyal não acha que a
tecnologia é o problema – e sim somos nós, humanos. "Falamos sobre vício, mas quando se trata do Candy Crush,
é isso mesmo? Não estamos inalando Facebook ou injetando Instagram na veia",
diz ele. "Essas são coisas com relação às quais podemos fazer alguma
coisa, mas preferimos pensar no que a tecnologia está fazendo por nós."
No
livro, ele traz um guia para libertar as pessoas de um vício que, acredita,
elas nunca tiveram. É apenas uma rejeição da responsabilidade pessoal, em sua
opinião. De modo que a solução é recuperar a responsabilidade, adotando
inúmeras pequenas atitudes.
Por
exemplo: manter seu telefone no silencioso, cedendo menos às notificações.
Enviar menos e-mails, mais rápidos. Não passar muito tempo no Slack. Ter apenas
um laptop à mão durante reuniões. Introduzir a pressão social, por exemplo,
sentando-se ao lado de alguém pode ver sua tela. Estabelecer "pactos com
preço" com pessoas, de modo que você pagará a elas se ficar distraído –
mas certificar-se de "aprender" o que é compaixão antes de
estabelecer o pacto.
Claro
que o novo livro de Eyal recebeu críticas. "A tentativa de Nir Eyal é de
reverter o processo", disse Richard Freed, psicólogo infantil que apoia
que todos passem menos tempo diante da tela. "Essas pessoas que provocaram
tudo isso estão tentando agora vender a cura. Mas eram elas que estavam
vendendo a droga."
Eyal
disse que não está fazendo uma reversão. Seu modelo foi útil, certamente, e ele
acreditava nas táticas. Mas não estava viciando as pessoas. É uma falha delas,
afirmou, e não do Instagram, do Facebook ou da Apple. "É um desrespeito às
pessoas que têm a patologia do vício afirmarem 'ah, todos nós temos esta doença'",
disse ele. "Não, não temos".
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"Eyal, de 41 anos, não está sozinho nesta mudança de direção. Desde Hooked (o primeiro de seus dois livros), muitas pessoas, como Tristan Harris, que foi responsável pela divisão de ética do Google, vêm propagando a idéia de que os telefones não são saudáveis e viciam. Antigos executivos do Facebook e WhatsApp se tornaram críticos da tecnologia.", diz Nellie Bowles. E ela acrescenta:
Mas, ao contrário de outros críticos, Eyal não acha que a tecnologia é o problema – e sim somos nós, humanos. (...) Eyal disse que não está fazendo uma reversão. Seu modelo foi útil, certamente, e ele acreditava nas táticas. Mas não estava viciando as pessoas. É uma falha delas, afirmou, e não do Instagram, do Facebook ou da Apple. "É um desrespeito às pessoas que têm a patologia do vício afirmarem 'ah, todos nós temos esta doença'", disse ele. "Não, não temos". No livro, ele traz um guia para libertar as pessoas de um vício que, acredita, elas nunca tiveram. É apenas uma rejeição da responsabilidade pessoal, em sua opinião.
Pesquisando
sobre Nir Eyal na internet, encontrei em https://translate.google.com/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://en.wikipedia.org/wiki/Nir_Eyal&prev=search as
seguintes informações:
"Nir Eyal é um autor, palestrante e investidor americano nascido em Israel conhecido por seu livro best-seler, Hooked: How to Build Habit-Forming Products. A experiência de Eyal é em engenharia comportamental, que incorpora elementos da ciência comportamental para permitir que os projetistas de software desenvolvam produtos de formação de hábitos para as empresas. Ele ministrou cursos universitários, discursou e publicou textos sobre como a psicologia se cruza com a tecnologia e os negócios. Eyal se manifestou contra propostas para regulamentar tecnologias de formação de hábitos, argumentando que é responsabilidade do usuário individual controlar seu próprio uso desses produtos."
E
ao ler, no parágrafo acima, os trechos "engenharia
comportamental"
e "publicou
textos sobre como a psicologia se cruza com a
tecnologia e os negócios" imediatamente
me vem à mente a figura de Edward Louis Bernays (1891 – 1995), sobrinho de Sigmund Freud. Por quê?
Porque utilizando ideias psicanalíticas de seu tio para criar técnicas de
manipulação das massas ele mostrou para as corporações americanas que poderiam
direcionar a vontade das pessoas para que desejassem coisas das quais elas não
precisavam, inaugurando a era do consumismo. Ele pensou tudo isso não
enquanto ciência, mas enquanto uma engenharia e escreveu um livro intitulado A Engenharia do Consentimento.
"Sim,
"A tecnologia não é o problema – e sim somos
nós, humanos", é o que eu acho, argumentando que
deveria ser responsabilidade dos desenvolvedores de tecnologia controlar sua
própria intenção de produzir coisas que viciem os usuários de tais coisas. Ou
seja, os humanos a que me refiro são os desenvolvedores de tecnologia. Acho o
"pai do 'vício nas
telas'" (que
não se enxerga como tal) um tremendo cara de pau. E o que é pior: uma cara de
pau mal intencionado. E vocês, o que acham?
"Considerando que Nir Eyal
nasceu em 19 de fevereiro de 1980 e Edward Bernays desencarnou em 09 de março
de 1995, a possibilidade de Eyal ser a reencarnação de Bernays fica eliminada, restando
apenas a certeza de que Eyal é um autêntico sucessor de Bernays. Um sucessor
que deve ter lido A Engenharia do
Consentimento com desmedida atenção. Nir Eyal e Edward Bernays, eis dois
seres muito sinistros!
Para
terminar esta já longa postagem, reflitamos um pouco sobre o seguinte trecho da
reportagem de Nellie Bowles. "Eyal não acha que a tecnologia é o problema – e sim somos
nós, humanos". Será
que tais palavras podem ser consideradas uma variação daquele chavão repetido
pelos fascinados com a tecnologia: "a tecnologia é neutra, o problema é o uso que as pessoas
lhe dão"? Será
que algum dia cairá por terra a propalada, e enganosa, neutralidade atribuída à
tecnologia? Será que faz sentido considerar neutro algo desenvolvido usando o "cruzamento de psicologia e negócios para criar produtos
formadores de hábitos"? Neutro em relação a que,
cara pálida? Será que faz sentido substituir tal chavão por "a tecnologia é neutra, o problema é a intenção com que as
pessoas a desenvolvem? Será que algo que é
desenvolvido com determinada intenção pode ser considerado neutro?
"A tecnologia não é o problema – e sim somos nós, humanos",
é o que acha Nir Eyal, "argumentando
que é responsabilidade do usuário individual controlar seu próprio uso dos produtos
desenvolvidos pela tecnologia.". Ou
seja, os humanos a que Eyal se refere são os usuários.
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