"Ser apenas você mesmo, em um mundo que se esforça ao máximo para torná-lo igual a todos os outros - significa enfrentar a mais árdua batalha que um ser humano pode enfrentar, sem jamais poder abandoná-la."
(e. e. cummings [1894 - 1962], citado em 1958)
Para quem usa a citação acima
como ilustração em seu blog, encontrar na edição de 10 de novembro de 2019 da Revista Ela um texto de Martha Medeiros
falando sobre Ricardo Darín foi uma coincidência significativa que não deveria
ser desperdiçada. Sendo assim, eis minha colaboração para o espalhamento de um
texto em que Martha "presta reverência" a alguém que classifica "não
apenas como um grande ator, mas também como um grande ser humano".
Darín
Qual o
segredo de Ricardo Darín? É a pergunta clássica feita aos que atingem uma rara
unanimidade. Se há quem o despreze, é por desconhecer seu currículo ou por
insolência boba – esnobar alguém que todo mundo gosta é um meio de se
diferenciar. Eu sou do time que presta reverência a esse argentino que emenda
um filme no outro sem medo de cansar a plateia – em vez de saturada, ela quer
mais e mais e mais de Darín, extasiada com sua presença na tela e na vida.
Temos aí
um ponto. Darín não é apenas um grande ator, mas um grande ser humano. E essa
junção faz diferença, sim. Sucesso e inteireza se cumprimentam e até dormem
juntas.
Se você já
assistiu a alguma entrevista com ele, sabe que espécie de homem ele é (falo em
assistir, e não ler uma entrevista, pois o olhar, a voz e os gestos de um
entrevistado traduzem sua alma mais do que palavras impressas). Viralizou um
depoimento que ele deu certa vez a um programa de tevê, em que afirma não ficar
tentado a fazer carreira em Hollywood. "Para quê? Para interpretar um
narcotraficante mexicano?" Darín não se interessa em promover estereótipos
e não objetiva ter mais dinheiro do que tem. "Tomo dois banhos quentes por
dia. Tenho uma família fenomenal. Recebo abraços das pessoas na rua. Preciso
mais de quê?".
O ingênuo
entrevistador comete a insensatez de sugerir jatinhos. Darín ri e não comenta,
nem precisa. Jatinhos? Hangar, manutenção, combustível, funcionários. Jatinhos
garantem um deslocamento fácil, mas e o deslocamento da realidade que vem
embutido? Isolar-se não conecta pessoas.
Em vez de
focar em ter fortuna, que induz ao excesso de consumismo, mil vezes trabalhar
menos, voltar pra casa mais cedo e pedir uma pizza. Desculpe aí o
provincianismo, sei que pode soar chocante.
Ricardo
Darín esbanja integridade e retidão de caráter, e não apenas por interpretar
homens de boa índole, como no excelente "A odisseia dos tontos", que
está em cartaz – ele também já adicionou alguns vilões em sua filmografia.
Darín é íntegro porque não se vende, não se deslumbra, não cai na esparrela de
se comportar como um astro. Tem luz própria suficiente, consciência social,
compreende a importância da moralidade e o seu talento dispensa caras e bocas.
É másculo e sensível, o combo dos sonhos. Um sujeito confiável, que mantém o
ego sob controle. Quantos desse tipo você conhece?
O
autoendeusamento é não só ridículo, como entediante: a indústria do
entretenimento produz semideuses em série, todos com o rótulo de "inatingível"
grudado na testa. Darín poderia ser o vizinho da porta ao lado.
Mas não é,
então vá ao cinema, nem que seja pra ter a sensação de que ele entraria no
elevador e daria bom dia pra você.
Ricardo Darín esbanja integridade e retidão
de caráter, e não apenas por interpretar homens de boa índole, como no excelente
"A odisseia dos tontos", em cartaz
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"Falo
em assistir, e não ler uma entrevista, pois o olhar, a voz e os gestos de um
entrevistado traduzem sua alma mais do que palavras impressas.", diz
Martha Medeiros em uma opinião com a qual concordo plenamente. Sendo assim,
seguem dois endereços onde o imperdível "depoimento que Ricardo
Darín deu certa vez a um programa de tevê" pode ser assistido.
Feita a sugestão, assisti-lo ou
não passa a ser algo cuja decisão compete a cada um de vocês. Compreendido?
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