segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Como saber quem você é, se você não entende de onde veio?

"Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar respostas para os problemas que a afligem".
(Zygmunt Bauman [1925 – 2017], sociólogo e filósofo polonês)
Obtido na edição de 09 de novembro de 2019 do jornal O Globo, o texto apresentado a seguir é a íntegra de uma resenha do livro "Heimat: Ponderações de uma alemã sobre sua terra e história" de Nora Krug. Elaborada por Alessandro Giannini a resenha é intitulada "HQ traça busca pela herança familiar no horror nazista"? O que despertou minha vontade de lê-la? Uma provocante ilustração nela apresentada. Qual é a ilustração? A imagem de uma pintura do pintor e escultor alemão Caspar David Friedrich intitulada Caminhante (ou Viajante) sobre o mar de névoa. Imagem que Nora apresenta em seu livro sobrepondo-lhe a instigante questão que intitula esta postagem: "Como saber quem você é, [...] se você não entende de onde veio?".
Será que entender de onde se veio tem a ver com olhar para trás, o tema da postagem anterior? Postagem em que foram antecipadas algumas coisas que são ditas nesta. Será que entender de onde se veio tem a ver com a afirmação que epigrafa esta postagem? Feito este preâmbulo, passemos a interessante resenha. A provocante ilustração pode ser vista no final da postagem.
HQ traça busca pela herança familiar no horror nazista
Na premiada autobiografia gráfica 'Heimat', a alemã Nora Krug mergulha na história de seus parentes durante a ascensão do nazismo: 'As narrativas de família são ensinadas, mas ninguém as questiona'
"Heimat", título da graphic novel da alemã Nora Krug, recém-lançada pela Companhia das Letras, poderia ser traduzido para o português simplesmente como "pátria". Mas a palavra é muito mais do que isto, de acordo com a enciclopédia "Brockhaus", citada pela autora no livro: "Termo que define o conceito de uma paisagem ou localidade real, imaginária ou construída, à qual uma pessoa [...] associa uma sensação imediata de familiaridade. Essa experiência é [...] passada de geração em geração, através da família e de outras instituições, ou por meio de ideologias políticas".
Nos Estados Unidos, onde entrou na lista dos melhores do ano do "New York Times" e levou o prêmio de melhor autobiografia do National Book Critics Circle, o volume de 288 páginas ganhou outro título, "Belonging", que numa tradução livre para o português seria "pertencimento". A palavra explica um pouco melhor o que moveu a artista de 42 anos a garimpar os baús de sua família e os arquivos públicos de sua cidade natal, Karlsruhe, em busca de respostas sobre o envolvimento de seus parentes no regime nazista e na política racista que levou aos horrores do Holocausto.
Nascida mais de 30 anos após o fim da Segunda Guerra, Nora faz parte de uma geração que aprendeu nos bancos da escola a terrível herança deixada por seus antepassados e incorporou a culpa coletiva que se abateu sobre o país como uma maldição. Ela cita Hannah Arendt (1906 – 1975) - "Onde todos são culpados, ninguém é" – para explicar como essa sensação causou uma espécie de paralisia em relação à história de sua própria família, que cuidadosamente não debatia o assunto em casa.
- Muitos alemães da minha geração se sentem sobrecarregados com tudo que aprendemos sobre a guerra. Mas você não percebe que falta uma peça, que é a sua própria história familiar – diz ela, que hoje mora em Nova York, destino de muitos sobreviventes do Holocausto, e tem um marido judeu. – As narrativas de família são ensinadas, mas ninguém as questiona. Quando, aos 17 anos, saí de minha cidade e fui morar fora, me vi como uma alemã no exterior e sozinha com minha responsabilidade. Não tinha mais desculpas para evitar o meu passado.
Além de visitar arquivos, Nora entrevistou familiares na Alemanha. Nessa pesquisa, se aprofundou nas histórias de dois parentes centrais para a narrativa de "Heimat": o avô materno, Willi, mecânico e motorista durante a guerra, e o tio paterno, Franz-Karl, que morreu jovem, soldado da SS (abreviatura em alemão para Schutzstaffel, a tropa paramilitar nazista).
De posse de histórias, documentos, fotos e objetos coletados durante esse mergulho no passado, Nora criou uma espécie de dossiê sobre a família Krug. Embora "Heimat" seja classificado como um romance gráfico, a artista se afasta do formato tradicional das HQs, com seus quadros e balões. O livro pode ser lido como um diário juvenil, com narrativas entrecortadas, rabiscos e intervenções nas imagens.
- Eu queria que minha voz pessoal estivesse presente na escrita, sem replicar o que foi dito na imagem – explica. – Por exemplo, teria sido muito banal escrever sobre a ida ao arquivo e me mostrar sentada à mesa, com uma cara perplexa.
Para Nora, fazer "Heimat" foi um aprendizado. Ela espera que sua história pessoal possa ensinar sobre o presente e evitar que antigos erros se repitam. Esse desejo tem origem na ascensão de partidos de extrema-direita na Alemanha, especialmente o Alternativefür Deutschland, que se posiciona contra o sentimento de culpa que está na origem do livro.
- Espero que as pessoas entendam que meu livro não é apenas sobre minha família ou a Alemanha, mas sobre qualquer pessoa em qualquer país – defende. - Muita gente parece não reconhecer que somos como somos hoje por causa do que aconteceu antes. Criações que envolvem emoção, como filmes, livros ilustrados, arte e música, são importantes para que o público compreenda isso. Temos que defender ativamente nossa democracia, sempre. Não podemos acreditar que ela está garantida.
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Pedindo-lhes desculpas por não conseguir maior nitidez nas palavras (Como saber quem você é, [...] se você não entende de onde veio?) que aparecem na imagem da pintura intitulada Caminhante (ou Viajante) sobre o mar de névoa (Será que a névoa que aparece na legenda colocada na imagem acima tem alguma coisa a ver com isso? Ou será que eu viajei?), desejo que as ideias de Nora Krug possam ser percebidas por vocês com o máximo de nitidez para que delas possam tirar enorme proveito através das reflexões que, no meu entender, elas são capazes de provocar.
Na postagem anterior foram antecipadas algumas coisas ditas nesta. Vocês conseguem enxergar alguma relação entre esta e a anterior?

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