sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Reflexões provocadas por "Dia das Crianças: o Nobel de Economia" (final)

Continuação de quinta-feira da semana anterior
"As histórias que nossos filhos 'inventam' são absolutamente fascinantes e dignas de serem registradas para que possam ser recontadas a eles mesmos, uma vez mais crescidos ou adultos. Isso, sem falar na criatividade para inventar brinquedos, a partir de sucata doméstica ou fazer pinturas, modelagens e colagens. O medo, tão natural em crianças, é outra manifestação explícita e observável da fase de 'irracionalidade' que precede a introdução da lógica no pensamento infantil. De forma resumida, a imensa criatividade das crianças é uma homenagem à irracionalidade."
"Criatividade para inventar brinquedos, a partir de sucata doméstica ou fazer pinturas, modelagens e colagens.", diz o pediatra Roberto Cooper, no parágrafo acima. Os grifos são meus. Criatividade para inventar brinquedos (no meu entender) cada vez mais tolhida pela fartura de brinquedos prontos oferecidos às crianças. Tolhida talvez por ser incompatível com algo sobre o qual é estruturada esta sociedade (sic) em que sobrevivemos: a obediência. Você já ouviu a afirmação que diz: "Manda quem pode, obedece quem tem juízo". Pois é! Juízo para submeter-se a toda e qualquer ordem, sem qualquer reflexão sobre se deve ou não deve ser obedecida, apenas por medo da reação de quem manda.
"De forma resumida, a imensa criatividade das crianças é uma homenagem à irracionalidade.", diz o pediatra. Considerando o que é dito na última frase do parágrafo anterior, com outras palavras, digo eu, a imensa criatividade das crianças é uma homenagem a falta de juízo.
"Criatividade sacrificada em nome da obediência", eis uma afirmação feita em um vídeo intitulado "Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças”, encontrável em https://www.youtube.com/watch?v=oxV5djALQUY.
"Criatividade sacrificada em nome da obediência", talvez desde aquelas festas infantis nas quais as crianças obedecem a recreadores (as) infantis em brincadeiras por eles (as) estabelecidas. O que faz um (a) recreador (a) infantil?
"Planeja, organiza e executa atividades lúdicas, como brincadeiras, jogos e oficinas, para entreter e educar crianças em eventos, escolas e outros espaços. Suas responsabilidades incluem garantir a segurança dos pequenos, adaptar as atividades para diferentes idades e necessidades, e interagir com os pais ou responsáveis."
E ao ler "Planeja, organiza e executa atividades", ele, sempre ele, o método das recordações sucessivas, faz-me trazer para estas reflexões palavras dele, sempre dele, Antoine de Saint-Exupéry:
"Se quiseres construir um navio, não reúna pessoas para elaborar planos, distribuir tarefas, buscar ferramentas, cortar madeira, mas desperta nelas o desejo de buscar a amplidão dos mares. Então, elas construirão o navio por si."
Será que para brincarem crianças precisam de alguém para nelas despertar o desejo de brincar? Será que não começa aí a atuação dos adultos para nelas implantar a aceitação pacífica do seu desejo de torná-las criaturas obedientes? A postagem publicada em 02 de dezembro de 2011 (faz tempo, hein!), é intitulada: "Desobediência: a virtude original do homem". Que tal desobedecer a ordem de não visualizá-la?  
"Para aqueles que ficam incomodados com o termo irracionalidade, contaminados que estão com o valor da racionalidade, podemos usar a palavra simbolismo ou simbólico. A imensa criatividade das crianças é uma homenagem ao ser simbólico que elas exibem e que nós temos vergonha de mostrar."
Ter vergonha de mostrar coisas interessantes que nós exibíamos quando éramos crianças, eis mais uma afirmação que faz-me lembrar de algo dito por Antoine de Saint-Exupéry: "Todas as pessoas grandes foram um dia criança, mas poucas se lembram disso." Lembrança que me provoca uma dúvida: Ao deixarem de fazer coisas que faziam quando eram crianças, os adultos o fazem por vergonha ou por terem esquecido que foram um dia criança?   
"Amor, carinho e afeto não são lógicos ou racionais. Estar perto, estar junto, sem uma justificativa ou sem estar fazendo algo, simplesmente estando, não é lógico ou racional: não raro, ficamos aflitos por não estarmos fazendo nada! Fabular, inventar, criar, encenar não é lógico nem racional. Vejam que tudo que nossos filhos querem de nós é que também sejamos irracionais."
Ou seja, segundo as palavras do pediatra Roberto Cooper reproduzidas no parágrafo acima, as coisas mais necessárias à vida, não são lógicas ou racionais. Palavras que, ativando o antigo o método das recordações sucessivas, fazem-me trazer para estas reflexões a seguinte afirmação de John Keating, o nada convencional professor de inglês do filme Sociedade dos Poetas Mortos.
"Medicina, Direito, Administração, Engenharia, são atividades nobres, necessárias à vida. Mas poesia, beleza, romance, amor são as coisas pelas quais vivemos."
"Poesia, beleza, romance, amor são as coisas pelas quais vivemos." E ao grifar a palavra amor, em mais uma recordação sucessiva, eu trago para estas reflexões um diálogo entre Armandinho e seu pai que certa vez me foi enviado por uma ex-colega de trabalho e eterna amiga.
"Essencial à vida de todos os seres vivos", começa com a letra "A"...  
Como você conseguiu errar essa?!
É óbvio que é "Água"!   
O que você colocou na prova?!!
Amor!  
Amor é muito importante, filho...
.... Mas o essencial à vida dos seres vivos é mesmo a água!
Precisa dos dois!  
Com amor a gente vive! Com água, só sobrevive!
Sim, é com amor que a gente vive. E é por falta ou por insuficiência dele que a gente apenas sobrevive. E tome recordações sucessivas! Eis o que nos diz Vladimir Maiakovski.
"Cada um, ao nascer, traz sua dose de amor. Mas os empregos, o dinheiro, tudo isso, nos resseca o solo do coração."
Nossa! Eu nunca elaborei uma postagem com tantas recordações sucessivas! "Mas os empregos, o dinheiro, tudo isso, nos resseca o solo do coração." Ressecamento do solo que, obviamente, implicará em impedir o crescimento da dose de amor trazida por cada um, e, consequentemente, a impossibilidade de idealizar um mundo melhor. A afirmação reproduzida no próximo parágrafo é de Nuccio Ordine, professor de literatura italiana da Universidade da Calábria, em um artigo intitulado Democracia líquida, publicado na edição de 16.02.2014, do jornal O Estado de S. Paulo. O grifo é meu.
"Reduzir o valor da vida ao dinheiro mata toda possibilidade de idealizar um mundo melhor."
E tentando concluir este verdadeiro festival de recordações sucessivas, segue a reprodução da frase final do magnífico texto do pediatra Roberto Cooper provocador  de três postagens do tipo "Reflexões provocadas por ...".
"Para concluir, um segredinho: se formos irracionais, nós vamos nos divertir também, e muito. Bom Dia das Crianças todos os dias!"

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