quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças (I)

Citado na postagem anterior, o vídeo que empresta o título a esta postagem (publicado em agosto deste ano em um canal no You Tube denominado “O Labirinto”) terá um terço dele transcrito nesta postagem. Por que a transcrição? Porque, em termos de provocação de reflexões, considero que entre a leitura e a audição de um texto, a leitura seja mais eficaz. Por quê? Porque enquanto a leitura ocorre na velocidade estabelecida pelo leitor, a audição ocorre na velocidade estabelecida pelo narrador. Sendo assim, quem lê pode deter-se em trechos do texto, relê-los, sublinhá-los, acrescentar-lhes observações etc, o que não é possível a quem ouve. Por que apenas um terço? Para tentar não afugentar leitores de curto fôlego para leituras, nestes tempos em que qualquer texto, que exceda uma indeterminada quantidade de linhas a cada dia menor, é considerado um textão. Feito este preâmbulo, passemos ao texto.
Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças
A mente de uma criança é como uma chama recém acesa: frágil, luminosa e cheia de potencial para iluminar caminhos desconhecidos. No entanto, em vez de protegida do vento da manipulação, essa chama é muitas vezes direcionada, controlada e moldada segundo os interesses de uma sociedade que teme a liberdade plena de pensamento.
A infância, que deveria ser o laboratório mais puro da curiosidade e da imaginação, transforma-se no primeiro campo de batalha das ideologias. Antes mesmo que uma criança descubra quem é, o mundo apressa-se em dizer quem ela deve ser. O que poderia florescer como autenticidade, diversidade e originalidade é forçado a caber em moldes estreitos que não foram feitos para libertar, mas para aprisionar. Assim, em vez de se tornarem exploradores do real, muitos pequenos se convertem em produtos de um sistema que não deseja indivíduos livres, mas peças úteis para sustentar estruturas já existentes.
O processo de doutrinação infantil é tão silencioso quanto eficiente. Ele não precisa de correntes visíveis, pois atua no invisível, na linguagem que se escolhe usar, nos modelos de comportamento apresentados como normais, nas histórias que se contam, nas imagens que se repetem. A televisão, as redes sociais, as escolas e até as famílias tornam-se instrumentos dessa engenharia mental. Uma criança que cresce ouvindo que o sucesso é medido por riqueza, dificilmente acreditará no valor da simplicidade. Um menino ou menina exposto diariamente a narrativas de medo, ódio ou hostilidade tende a carregar essas sementes até a vida adulta.
A doutrinação funciona porque não dá tempo para o questionamento nascer. Implanta certezas antes que a dúvida seja capaz de germinar. O perigo é profundo porque atinge o alicerce da identidade humana. Quando uma criança é ensinada a repetir sem questionar, a obedecer sem compreender, a aceitar sem refletir, sua capacidade crítica é amputada. Em nome de educar, muitas vezes se treina. Em nome de formar, frequentemente se deforma.
A criança que deveria ser um ser em construção, acaba reduzida a um espelho dos desejos, frustrações e interesses dos adultos que a rodeiam. Isso explica porque tantos adultos carregam angústias, traumas e crenças limitantes. Não nasceram de suas escolhas, mas das imposições que receberam ainda na inocência da infância. Mas talvez o aspecto mais cruel dessa realidade seja que a doutrinação não é apresentada como opressão, e sim como cuidado.
A sociedade esconde o controle sob o disfarce da educação, da tradição, da cultura e até do amor. Pais e mestres dizem estar preparando para a vida, quando muitas vezes estão apenas ajustando os filhos a um padrão que os torna úteis ao sistema e dóceis à autoridade. O verdadeiro perigo não está naquilo que as crianças sabem, mas naquilo que nunca terão a chance de descobrir por si mesmas. O preço da doutrinação é a perda da autonomia. E a perda da autonomia é a morte da liberdade antes mesmo que ela seja vivida. E, no entanto, mesmo diante dessa engrenagem poderosa há uma saída: resistir à tentação de controlar mentes infantis e devolver às crianças aquilo que lhes pertence por direito. O direito de pensar, de questionar, de sonhar, de imaginar, de se contrapor.
A sociedade não precisa de clones, precisa de indivíduos. Não precisa de repetidores, mas de criadores. Não precisa de seguidores cegos, mas de espíritos livres. Preservar a infância como espaço de autenticidade não é apenas uma questão de justiça com os pequenos, é uma questão de sobrevivência para toda a humanidade. Afinal, se todas as gerações forem moldadas para repetir, quem ousará inventar o novo?
A infância livre é a última fronteira da esperança. Se quisermos uma sociedade mais justa, mais sábia e mais humana, precisamos começar pelo óbvio: permitir que nossas crianças sejam crianças, que descubram o mundo com seus próprios olhos, que façam perguntas sem medo, que duvidem sem culpa e que ousem imaginar sem limites. O futuro não será construído por aqueles que aprenderam a obedecer cegamente, mas por aqueles que ousaram pensar livremente desde cedo.
A escola que poderia ser o grande templo da liberdade intelectual, muitas vezes se converte em um espaço de domesticação. Em vez de abrir portas para a criatividade, e para a reflexão crítica, transforma-se em um ambiente rígido onde o conhecimento deixa de ser descoberta e passa a ser imposição.
A promessa de formar indivíduos autônomos e conscientes cede lugar a um modelo que padroniza mentes e sufoca talentos únicos. Ao invés de cultivar a chama da curiosidade natural que toda criança traz consigo, a escola tende a abafá-la sob camadas de regras, repetições e verdades absolutas que não podem ser questionadas. Essa repetição constante não gera sabedoria, mas condicionamento; não gera liberdade, mas docilidade. É a educação transformada em treinamento, a aprendizagem reduzida à memorização, a criatividade sacrificada em nome da obediência. Essa estrutura não é neutra, ela serve a propósitos que ultrapassam os muros da escola.
Continua na próxima terça-feira

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