Repetindo
algo dito em duas postagens ("Por que mulheres nos assustam" e "Dia
das Crianças: o Nobel de Economia"), o nascimento de um neto, em 20 de
dezembro de 2024, levou-me a retornar à leitura sobre como lidar com crianças.
Sendo assim, após descobrir (sem lembrar como) um livro intitulado: "A
Bula de Cada Criança - O olhar humanista de um pediatra sobre como cuidar dos
filhos sem receita pronta", lançado em 2024, dele já extraí três textos,
dentre eles o que originou a postagem que provocou estas reflexões.
Em dia 27 de setembro deste ano, ou seja, quinze dias
antes da comemoração do Dia das Crianças, em uma loja onde fui procurar
pratinhos e colheres a serem usados pelo neto, quando estiver na casa do avô, lá
encontrei aqueles imãs contendo frases engraçadas que costumam ser colocados em
geladeiras. Sendo fascinado por tais imãs, após pesquisar todos os que
lá estavam, comprei alguns dentre eles um que diz o seguinte: "Ser adulto
foi o pior desejo que fiz quando era criança".
"Ridendo dicere severum" - rindo, dizer as
coisas sérias. Assim Nietzsche descreveu o seu estilo. Apreciador de tal
estilo, provocado por esse imã, elaborei uma mensagem que enviei pelo WhatsApp para
pessoas para quem costumo enviar coisas que considere interessantes. Considerando
os dois coincidentes encontros (o do texto do livro, citado no primeiro
parágrafo e o do imã citado no segundo), e a chegada do Dia das Crianças),
ficou inevitável, inicialmente, o espalhamento do texto do livro, e,
posteriormente, o de reflexões provocadas pelo texto alusivo ao Dia das
Crianças. Sendo assim, vamos a elas.
"O elo que farei (me acompanhem neste salto!) é o de que crianças não precisam de um Prêmio Nobel para lembrá-las de que a irracionalidade é um atributo fundamental e inerente ao ser humano. Não é um atributo do "homo economicus" idealizado por alguns, mas do homo (quase) sapiens que somos." (o texto é de Roberto Cooper; os grifos são meus)
Além de não precisarem de um Prêmio Nobel para lembrá-las
de "certas coisas", são justamente as crianças que são capazes de lembrar
os adultos de "coisas certas", como pode-se concluir a partir de uma
cena de um filme descrita em alguns artigos do saudoso Luís Fernando Veríssimo,
publicados em sua coluna no jornal O
Globo. Cena que, ao longo do tempo, encontrei em quatro de seus artigos,
publicados em diferentes épocas (04 de março de 1999, 12 de março de 2006, 08
de maio de 2014, uma data que não registrei) sob diferentes títulos. Dos sete
próximos parágrafos, os cinco primeiros foram extraídos do artigo de 12 de
março de 2006, cujo título é "Na
cara", e os dois últimos do artigo Falta
a criança de três anos publicado na edição de 04 de março de 1999. A
postagem publicada em 10 de agosto de 2017 é intitulada Falta a criança de três anos.
Na caraGosto muito (tanto que a cito muito) daquela cena de um filme dos irmãos Marx em que Groucho, um general postando-se à frente de um mapa para explicá-lo aos seus comandados, diz:- Uma criança de três anos entenderia isto.E depois de algum tempo examinando o mapa:- Tragam uma criança de três anos!(...) A criança de três anos não representa apenas o óbvio, ou o senso comum. Representa um olhar inocente, no sentido de ser livre de ideias feitas, ilusões e vícios de pensamento. Não é fácil pensar como a proverbial criança de três anos – há o risco de se confundir simplismo com sabedoria. Mas é sempre saudável pensar em assuntos complexos tentando separar o que é preconceito e vontade do que está na cara.A criança de três anos não é pró ou anti nada. A criança de três anos só vê o que está na cara, e acha estranho que ninguém mais veja.*************
"A criança de três anos não é pró ou anti nada. A
criança de três anos só vê o que está na cara, e acha estranho que ninguém mais
veja.", diz Luis Fernando Veríssimo em um artigo intitulado Falta a criança de três anos.
Ou seja, há coisas que só uma criança de três anos
consegue ver ou que ela precisa ver antes para que só então os
adultos consigam ver, pois, corrigindo um antigo ditado que diz que - é
preciso ver para crer -, há quem diga que - é preciso crer para ver. Coisas
como a nudez de um vaidoso rei enxergada primeiramente por uma criança como nos
fala Hans Christian Andersen (1805 - 1875) em seu
conhecido conto intitulado A Roupa
Nova do Rei. Vocês conhecem esse conto? Vocês sabem qual era a idade
daquela criança? Pelo que consigo lembrar, no conto não é revelada a idade,
mas, pelo que consigo supor, considerando o que foi dito até aqui, ela deveria
ter três anos.
Por que faço tal suposição? Porque, com essa idade, como
diz Luis Fernando Veríssimo, a criança só vê o que está na cara, pois aquilo que,
com o passar dos anos ela será levada a ver, não com seus próprios olhos, e sim
pela nefasta atuação de uma legião composta de indivíduos classificados como
formadores de opinião, ela ainda não vê com essa idade. Vocês concordam que os
dois vigaristas, que se fizeram passar por alfaiates para encherem-se de
dinheiro confeccionando (sic) uma roupa invisível para um vaidoso rei, nada
mais eram do que formadores de opinião que fazem pessoas incautas "ver"
coisas que não existem? Pois é, crianças de três anos ainda não se deixam
enganar por formadores de opinião; ainda conseguem ver o que está na cara.
Sim,
falta a criança de três anos! Falta a criança de três anos nesta civilização
(sic) onde as crianças perderam o direito de serem crianças, pois cada vez mais
elas são criadas como se já tivessem nascido adultas. A postagem publicada
neste blog em 13 de maio de 2011 é intitulada Era uma vez uma infância.
É muito triste sobreviver em um mundo onde não existe
mais infância; onde não se permite crianças terem três anos! É desolador
sobreviver em uma civilização (sic) na qual, temido pela maioria de seus
integrantes, o deus mercado (talvez o verdadeiro padroeiro dos economistas, e não
São Mateus) reina de forma absoluta. Uma civilização onde permitir crianças "perderem" tempo com essa bobagem denominada infância, em vez de "ganharem" tempo
preparando-se para tornarem-se "vencedores" na insana competição que precisarão
travar no tal do mercado de trabalho, é considerada uma demonstração de estar
fora da realidade. Uma triste realidade que a maioria aceita cada vez mais como
algo inevitável. Uma aceitação que me faz lembrar (mais uma vez) a seguinte
afirmação de Einstein: "Existem
apenas duas coisas infinitas - o Universo e a estupidez humana. E não tenho
tanta certeza quanto ao Universo."
E ao constatar a imprescindibilidade de chamar uma criança de três anos para explicar aos adultos o que eles não
conseguem enxergar, a velha e teimosa prática das recordações sucessivas faz-me
trazer para estas reflexões algumas afirmações do inesquecível Antoine de
Saint-Exupéry.
"As pessoas crescidas têm sempre necessidade de explicações... Nunca compreendem nada sozinhas e é fatigante para as crianças estarem sempre a dar explicações. As crianças têm de ter muita tolerância com os adultos. Todas as pessoas grandes foram um dia criança, mas poucas se lembram disso."
Continua ou termina em algum dia da próxima semana
Nenhum comentário:
Postar um comentário