Feita por um
pediatra, a associação do Dia das Crianças ao pensamento de dois economistas
ganhadores do Prêmio Nobel ofereceu a um analista de sistemas a oportunidade de
tecer alguns comentários sobre essa classe profissional composta, em sua maioria, por indivíduos que se consideram alguma espécie de divindade cuja
tarefa seja conduzir a autodenominada espécie inteligente para a Terra
Prometida.
Em 13 de novembro de 2023, recebi de um ex-colega de
trabalho e eterno amigo, um vídeo enviado pelo WhatsApp intitulado "Um
pouco de informação". Vídeo em que um vereador de Caxias do Sul começa
indagando - "Lula não gosta de economistas?!" -, e prossegue dizendo
que "Teve um sonho no qual Lula seria seu aluno". E daí, com aquela
arrogância que caracteriza a maioria dos economistas, ele segue falando
uma porção de coisas que se propõe a ensinar ao presidente. Mensagem que
respondi no dia seguinte, pois, no meu entender, existem coisas que não se deve
ouvir ou ler, e deixar de responder. Os oito próximos parágrafos reproduzem a
resposta.
"Sim, tem gente que não gosta de economistas. Até porque a maioria deles não gosta de gente, e sim de números. Sim, tem gente que não gosta de ler, mas há quem goste, e que lendo consegue descobrir coisas interessantes sobre os economistas. Em um livro intitulado "A hora dos economistas: Falsos profetas, livre mercado e a divisão da sociedade", de autoria de Binyamin Appelbaum, publicado em 2023, é dito que:
- Até os anos 1960, os economistas eram vistos com desconfiança e recebiam pouca atenção. Mas quando o crescimento pós-guerra desacelerou, eles ganharam influência e poder, primeiro nos Estados Unidos e depois ao redor do globo.- Suas crenças fundamentais? Que o governo deveria parar de tentar controlar a economia. Seus princípios condutores? Que os mercados produziriam crescimento permanente, permitindo a todos aproveitar seus benefícios.- A promessa do crescimento estável e prosperidade compartilhada, porém, não se tornou realidade. Em vez disso, a economia de mercado contribuiu para a desigualdade, o enfraquecimento da democracia liberal e a falta de perspectivas das futuras gerações.
Em uma sinopse do livro intitulado "A ordem do capital: Como economistas inventaram a austeridade e abriram caminho para o fascismo", de autoria de Clara E. Mattei, que será lançado no final deste mês, é dito que:
- "A ordem do capital" é um estudo profundo e interdisciplinar sobre a relação entre austeridade e ascensão do fascismo. E o principal objetivo da austeridade é a proteção do capital e a eliminação e todas as alternativas ao sistema capitalista, e foi nesse contexto que a política econômica funcionou como aliada do fortalecimento do fascismo.
Sim, ler pode ser algo bastante interessante, principalmente, para obter condições para questionar o que se ouve.
"Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que a afligem." (Zygmunt Bauman [1925 - 2017], filósofo polonês).
Considerando o que diz Bauman, sair por aí espalhando
"Um pouco de informação", sem questionar a informação, parece-me algo
que jamais deveríamos fazer.
Vida que segue, quinze meses depois, em sua edição de
fevereiro de 2025, a conceituada Revista Piauí traz um quadrinho que, no meu
entender, tem tudo a ver com o que eu dissera na resposta ao meu eterno amigo, e que o
vereador de Caxias do Sul não gostaria de ver. Quadrinho que fotografei e
enviei pelo WhatsApp, em 18 de fevereiro de 2025, para pessoas para quem costumo
enviar algumas coisas que considere interessantes. Segue a reprodução da foto.
Não pelo meu entender, mas sim pelo meu observar, há
muito tempo constatei que em todo e qualquer grupo de indivíduos jamais todos
terão as mesmas qualidades. Constatação que me possibilita enxergar que, embora
a maioria dos economistas não seja gente, existem alguns que são. Espécimes
raros, sim, mas existem.
Outra forma de
aceitar a ideia de que existem economistas que são gente (apesar da dificuldade
para encontrar algum que seja) é recorrer a seguinte afirmação de William James
(1842 – 1910), genial psicólogo e filósofo norte-americano, feita depois de
muito pesquisar o fenômeno psíquico em geral e, em particular, a mediunidade da
Sra. Leonora Piper:
"Se você deseja invalidar a lei de que todos os corvos são negros, não deve procurar demonstrar que não existem corvos negros: basta exibir um corvo branco. Meu corvo branco é a Sra Piper".
Mutatis mutandis "Se
você deseja invalidar a afirmação de que todos os economistas não são gente, não deve procurar demonstrar que não existem economistas que não são gente:
basta exibir um economista que seja gente. Meu economista que é gente pode ser Richard
Thaler, professor de Ciências Comportamentais e Economia na Universidade de
Chicago e vencedor do Prêmio Nobel, citado pelo pediatra Roberto Cooper em seu
excelente texto.
No momento em que já iria publicar esta postagem, a velha
prática das recordações sucessivas levou-me a acrescentar a ela algumas
palavras do saudoso escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940 – 2025) que, no meu entender, têm
tudo a ver com as duas frases iniciais da resposta ao meu eterno amigo.
Os grifos são meus.
"O que são as pessoas de carne e osso? Para os mais notórios economistas, números. Para os mais poderosos banqueiros, devedores. Para os mais influentes tecnocratas, incômodos. E para os mais exitosos políticos, votos."
"Nossa! Não são apenas os economistas que não gostam de
pessoas! Há inúmeras classes que também não gostam. Ou seja, as citadas por
Eduardo Galeano são apenas algumas delas. Se parar para pensar nesse assunto, no
meu entender, facilmente você conseguirá acrescentar várias classes à relação elaborada
por Galeano.
Em seu excelente texto, Roberto Cooper associa o Dia das
Crianças ao pensamento de dois economistas. Esta postagem traz algumas
reflexões sobre como enxergo os economistas. A próxima trará algumas reflexões
sobre como enxergo as crianças.
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