O texto
reproduzido nesta postagem de um blog intitulado Espalhando ideias foi encontrado em um livro intitulado Semeando ideias. Publicado no longínquo
ano 1993, o livro é composto de crônicas e artigos dos jornalistas e escritores
Celso Martins e Deolindo Amorim, atuantes do meio espírita brasileiro. O que
levou-me a querer espalhá-lo por este blog? A possibilidade de uma comparação do
que é contado em um texto intitulado Um Imperador
do Oriente (de autoria de Celso Martins) com as atrocidades que há mais de
cinco meses estão sendo cometidas na Faixa de Gaza, um estreito território
localizado no Oriente Médio. Atrocidades que apontam a existência de Um Exterminador do Oriente.
Um Imperador do Oriente
De um
modo parcial, os nossos jovens estudam muito sobre as façanhas guerreiras de
Dario, de Alexandre Magno, de Júlio César, de Napoleão Bonaparte, de Adolf
Hitler... Mas nada sabem sobre a vida e a obra de muitos outros vultos da
Humanidade que viveram, principalmente, lá no Oriente, na velha Índia, na
legendária China, no Japão distante. Quando então você lê alguma coisa sobre
estes povos, quantas noções interessantes, com relação até mesmo com os ensinos
de Jesus surgem à sua espantada consideração!
Isto
aconteceu comigo recentemente e, por isso, faço questão de deixar registrado.
Quando
aluno do então 3º ano ginasial (hoje seria 7ª série do 1º grau) – uma
professora falou em classe (lembro-me até o nome dela: dona Dulce) alguma coisa
sobre o Imperador Açoca. Isto foi em meados de 1956.
A turma
de adolescentes bagunceiros não perdeu a vaza e saiu logo com um trocadilho,
arrumou uma rima cômica para o nome do imperador hindu: paçoca! E ficou por aí
o meu conhecimento sobre este monarca.
Agora, aos
46 anos de idade (1988), encontro referências mais amplas a seu respeito numa
revista esperantista de 1952. Olhem o valor do Esperanto... Um dos mais
apreciados historiadores do movimento esperantista Edmond Privat, cujos livros
nessa língua sempre me foram motivo de muito enlevo, trouxe-me à consideração
este imperador pacifista da Índia antiga.
Encontro
também referências a ele no livro A Índia
que eu vi, da lavra de Vera Pacheco Jordão. Então, reunindo informes de
Prival e da Vera elaboro o que se segue, talvez novidade para algum leitor
amigo!
Sucedendo
ao pai em 237 antes de Cristo, Açoca (ou Ashoka) procurou estender seu domínio para
além das fronteiras, invadindo a região de Kalinga, junto à Baía de Bengala.
Logrou vencer a resistência que encontrou, mas foi a sua primeira e última
vitória. Percebeu que sua operação militar custou a morte de 100 mil, não
incluindo aí as mortes causadas pela fome e pelas epidemias decorrentes da
guerra, nem computando os 150 mil prisioneiros!
Diante de
tais dados, Açoca renunciou às ambições de domínio e passou a consagrar-se ao
bem não só de seu povo, mas de gentes de países distantes. Uma vez convertido
ao Budismo, decidiu proibir até mesmo a caça aos animais por simples prazer! Respeitou
escrupulosamente todos os cultos religiosos. Pregou abertamente a justiça e o
amor ao próximo, a tolerância e a compaixão para com os mais pobres, não
consentindo outrossim com as perseguições religiosas.
Sob sua
orientação, missionários abriram estradas, distribuíram medicamentos, plantaram
árvores, instalaram hospitais, a serviço de todos indistintamente.
Um
imperador desta envergadura não deveria ser mostrado aos nossos jovens? Não
deveria ser exemplo para os dirigentes dos povos atuais?
Os atos
bons, as atitudes generosas, os exemplos nobres merecem ser destacados nos
jornais, nas revistas, nas emissoras de rádio e de televisão, sobretudo para a educação
moral da juventude, pois é assim que se constrói um mundo melhor e uma
Humanidade mais feliz!
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"Percebendo que sua operação militar custou a morte de 100 mil, não incluindo aí as mortes causadas pela fome e pelas epidemias decorrentes da guerra, nem computando os 150 mil prisioneiros, o referido imperador renunciou às ambições de domínio e passou a consagrar-se ao bem não só de seu povo, mas de gentes de países distantes, a pregar abertamente a justiça e o amor ao próximo, a tolerância e a compaixão para com os mais pobres, não consentindo outrossim com as perseguições religiosas.", diz Celso Martins na história contada sobre o imperador Açoca.
Relevando
os números citados, afinal até nos dias de hoje contagens referentes à
quantidade de pessoas devem ser sempre questionadas, considero tal história
bastante plausível, embora enxergue o comportamento do citado imperador como
algo raro, entre os integrantes da autodenominada espécie inteligente do
universo. Sim, perceber ter praticado atos condenáveis, dispor-se a tentar
reparar os danos por eles causados e tornar-se alguém disposto a atuar em prol
da coletividade, pois só assim é possível "construir um mundo melhor e uma
Humanidade mais feliz" (usando palavras de Celso Martins) é algo ainda raro
2061 anos após a época em que teria vivido o imperador Açoca.
"Um imperador desta envergadura não deveria ser mostrado aos nossos jovens? Não deveria ser exemplo para os dirigentes dos povos atuais?", indaga Celso Martins.
Não,
infelizmente, neste insano mundo em que sobrevivemos, o que se mostra aos
jovens não são os raros seres desta envergadura, e sim uma infinidade de seres
deploráveis que abundam nesta deplorável sociedade. Uma sociedade em que os
vilões são endeusados e os "bonzinhos" são ridicularizados.
"Os atos bons, as atitudes generosas, os exemplos nobres merecem ser destacados nos jornais, nas revistas, nas emissoras de rádio e de televisão, sobretudo para a educação moral da juventude, pois é assim que se constrói um mundo melhor e uma Humanidade mais feliz!", diz Celso Martins encerrando seu texto.
E o que
faz a grande mídia brasileira, indago eu. Indagação que, baseado na forma como ela
(a grande mídia) trata as atrocidades que estão sendo praticadas na Faixa de Gaza - tentando
justificar as ações do governo israelense como uma reação a um atentado
terrorista -, eu mesmo respondo assim:
A grande mídia
brasileira faz exatamente o contrário do que diz Celso Martins. Diante de uma comparação
das atrocidades que estão sendo cometidas na Faixa de Gaza com as ocorridas em
campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, feita com a intenção
de provocar as demais nações do mundo a intervirem no sentido de parar com tal
genocídio, o que deveria tornar tal comparação merecedora de louvores por parte
da grande mídia, o que faz ela? Em vez de condenar o genocídio, como faz o
presidente brasileiro, ela condena as palavras do presidente, alegando que a
comparação feita por ele é descabida. Como assim, cara pálida? Será que uma
faixa de terra de onde quem nela está não consegue sair e nela permanecendo estará
sujeito a todos os tipos de atrocidades apresenta alguma diferença em uma
comparação com um campo de concentração? Considero profundamente lamentável o
comportamento de indivíduos cuja forma de ganhar dinheiro é sujeitar-se a
defender os pontos de vista e os interesses dos poderosos donos de mídia, por serem
eles que pagam seus salários. Você conhece um famoso ditado em que é
indagado - "Pagando
bem, que mal tem?"
O tempo
passou, as atrocidades tornam-se cada vez maiores e pessoas de outras
nacionalidades já dão razão ao presidente brasileiro, mas a turma da grande mídia daqui não
arreda pé de suas (sic) opiniões, talvez alegando algo dito em uma das duas
frases colocadas pelo saudoso Millôr Fernandes em uma antiga charge na qual um dos integrantes argumenta o seguinte:
- "Às vezes, para sobreviver, a
gente tem que fazer certas coisas.". - "Mas, depois de fazer certas
coisas, pra que sobreviver?", questiona o outro.
Um
exterminador do Oriente que conta com a complacência de inúmeros países do
Ocidente. Complacência para a qual tais países talvez aleguem o mesmo que a
primeira personagem da charge do Millôr. Complacência que leva-me a ampliar a
abrangência do questionamento feito pela segunda personagem e transformá-lo no
seguinte: Se a pretensa espécie inteligente do universo continuar a fazer
certas coisas, pra que tal espécie sobreviver?
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