sexta-feira, 8 de março de 2024

Dia Internacional da Mulher - 2024

"Afinal, metade da humanidade é mulher. E, a outra metade, filha de mulher."
  (Frei Betto, Tribuna da Imprensa, 7 de março de 1996, Jesus e as mulheres)
No longínquo ano 2005, trigésimo primeiro ano da minha atuação como analista de sistemas na Petrobras, a chegada do dia 08 de março despertou em mim o desejo de enviar para determinadas colegas de trabalho uma mensagem alusiva ao Dia Internacional da Mulher. Composta de apenas três frases e enviada para vinte destinatárias, a mensagem parabenizava-as por aquele dia e dizia que sua presença contribuía para tornar mais agradável o ambiente de trabalho. Nos anos seguintes, a lista de destinatárias foi aumentando e os textos foram sendo mais elaborados. Enviadas por e-mail, as mensagens chegavam a provocar algumas respostas contendo agradecimento pela lembrança da referida data, até que em 2009, ano em que a quinta mensagem foi enviada, (usando uma linguagem que eu costumava ouvir na área contábil), surgiu o primeiro de três fatos relevantes. Qual foi o fato? O recebimento de uma resposta que começa assim:
"Obrigada por vir tornando o Dia da Mulher cada vez mais aguardado!

Acredita que eu já havia pensado: 'será que esse ano o Guedes vai lembrar de nós???'"

Três anos depois, em 2012, recebi da mesma destinatária uma resposta que continha a seguinte frase:
Sei que já te disse (escrevi) isso, mas não me canso de repetir: aguardo sua mensagem neste dia com bastante ansiedade e alegria!!!.
No ano seguinte uma resposta da mesma destinatária dizia:
Recebi algumas mensagens, mas a sua é sempre a mais esperada!!!
Desde então, não recebi mais mensagens da referida destinatária, porém considerando válida uma conhecida frase de Antoine de Saint-Exupéry que diz que - "Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas." -, eu passara a me considerar 'eternamente' responsável pela difícil tarefa de elaborar um texto alusivo ao Dia Internacional da Mulher. Sim, uma difícil tarefa, pois, no meu entender, não é suficiente escrever, é preciso escrever algo que esteja à altura das homenageadas.
A partir de 2012, ao perceber que no blog (criado em fevereiro de 2011) a mensagem é lida por mulheres e por homens, resolvi enviá-la também para a ala masculina da minha (?) lista de destinatários. E já que a mensagem passaria a ficar disponível para mulheres e para homens a elaboração passou a ser feita sob um enfoque diferente.
Um enfoque cuja intenção é elaborar uma mensagem capaz de estimular as mulheres a jamais desistirem de sua luta histórica para terem seus direitos equiparados aos dos homens e fazer os homens enxergarem seu equívoco histórico: acharem-se superiores às mulheres. Equívoco que, no meu entender, pode ser facilmente desfeito recorrendo, mais uma vez, a uma frase de Antoine de Saint-Exupéry. Qual é a frase? "Todas as pessoas grandes foram um dia crianças. Pena que sejam poucas as que se lembram disso". Como tal frase pode desfazer o referido equívoco? Usando-a para elaborar a seguinte paráfrase: "Todos os homens grandes foram um dia hóspedes do ventre de uma mulher. Pena que sejam poucos os que se lembram disso". 
Será que faz sentido seres cuja existência, nesta dimensão, depende de um "estágio" de noves meses no ventre de seres de outro gênero considerarem-se superiores aos seres do gênero que lhe concede o direito à existência? Será que faz sentido homens defenderem que mulheres devem ganhar menos, simplesmente, por poderem engravidar? E já que estamos falando sobre ganhar menos, segue a seguinte indagação. Será que o fato de não ser capaz de perceber que - se sua mãe não tivesse tido o direito de poder engravidar ele não teria nascido - pode ser considerado um sinal de que o indivíduo que defende tal coisa deve ter ganhado menos inteligência? O que você acha?
Mais ou menos inteligência, eis uma questão que faz-me lembrar da seguinte frase de Gerges Najjar Jr: "O único ser mais inteligente que o homem é a mulher. Os que duvidam disto vêm em terceiro lugar". Em que lugar você se coloca nesta classificação? Se o homem fosse mais inteligente teria tratado a mulher de maneira diferente. Teria sido menos arrogante e jamais a teria tratado como um ser inferior a ele. E ao referir-me à forma como o homem trata a mulher, vem-me à mente a seguinte afirmação do escritor norte-americano Jack London (1876-1916): "O homem distingue-se dos outros animais por ser o único que maltrata a sua fêmea". Feita há mais de um século, a afirmação de Jack London, infelizmente, parece a cada dia mais atual. É impressionante o nível de violência contra as mulheres.

Ainda no tema tratamento dado pelos homens às mulheres ao longo do tempo, segue a seguinte sugestão de reflexão. O "8 de março" vai além de simples homenagens e congratulações. Acima de qualquer outra coisa, o Dia Internacional da Mulher deve ser visto como um convite a uma reflexão sobre como os homens têm tem tratado as mulheres ao longo do tempo. Reflexão a ser feita tanto no campo dos convívios afetivo, familiar e social quanto nas questões relacionadas ao mercado de trabalho e a representação feminina em nossas diferentes culturas.

Sim, embora as mulheres adorem receber flores, coisinhas gostosas, perfumes, considero imprescindível ficar bem claro que o Dia Internacional da Mulher foi criado por outros motivos e com outros objetivos. E nesta postagem repleta de lembranças de coisas já ditas em outras, de lembrança em lembrança, vem-me à mente uma afirmação de D. H. Lawrence que já usei em várias das vinte mensagens alusivas ao Dia Internacional da Mulher, por considerar que ela expressa algo que deve estar em nossa mente durante todo o tempo. Qual é a afirmação? "O futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres".
Relações que até hoje foram tremendamente prejudicadas pela desigualdade de direitos existente entre eles e elas. Relações que, portanto, necessitam muitas modificações. Modificações que levem homens e mulheres a enxergarem-se como gêneros complementares e não como sexos opostos e que, enxergando-se assim, finalmente, eles e elas consigam viver em harmonia. Afinal, harmonia é algo imprescindível não só para o sucesso em desfiles de escolas de samba como também para o êxito na passagem por este percurso que a gente chama de vida. E para encerrar esta já longa postagem seguem mais duas recordações de afirmações que considero extremamente significativas. Uma de um homem e uma de uma mulher.
"Concedei-me, Senhor, a serenidade necessidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para modificar as que posso, e sabedoria para distinguir umas das outras.", eis uma solicitação atribuída ao teólogo norte-americano Reinhold Niebuhr (1892 – 1971), que ficou conhecida como Prece da Serenidade.
"Eu não estou aceitando as coisas que eu não posso mudar, estou mudando as coisas que eu não posso aceitar", eis uma afirmação de Angela Davis (1944), professora e filósofa norte-americana.
Enquanto Reinhold Niebuhr solicita ao Senhor serenidade para aceitar a coisas que não pode mudar; Angela Davis afirma que está mudando as coisas que não pode aceitar.
Dito isto, encerro esta postagem alusiva ao Dia Internacional da Mulher dizendo que fico com Angela Davis, pois, no meu entender, a única maneira de se construir uma sociedade sem preconceito de gênero, na qual os direitos das mulheres sejam equiparados aos dos homens, é cada um de nós passar a fazer o mesmo que está fazendo a extraordinária Angela Davis: mudar as coisas que não se pode aceitar. Até porque, como disse Bertolt Brecht, "Nada deve parecer natural; nada deve parecer impossível de mudar."

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