sexta-feira, 13 de outubro de 2023

O Espírito Capitalista - A sinceridade indesculpável (final)

Continuação de segunda-feira

Após duas postagens focalizando algumas coisas que, além da citada pelo bilionário sincero, são ruins para os demais integrantes do planeta e boas para os bilionários capitalistas, a postagem que encerra esta "trilogia" focaliza a questão que a provocou: o aumento do desemprego. O próximo parágrafo apresenta a transcrição de um trecho do vídeo do bilionário sincero.
"Precisamos aumentar o desemprego. [...] Precisamos fazer a economia sofrer."
Sim, do ponto de vista dos bilionários capitalistas, é preciso aumentar o desemprego, pois quanto maior for a quantidade de desempregados; maior será o desespero para conseguir um emprego; maior será a precariedade das condições "oferecidas" pelo empregador; maior será a exploração a que serão submetidos os trabalhadores que conseguirem emprego e, consequentemente, menor será o valor das remunerações que eles precisarão pagar aos trabalhadores.
E diante da barbaridade descrita acima, vem um "bilionário sincero" e diz: "Precisamos fazer a economia sofrer." Como assim cara-pálida? Assim você compromete seu momento de sinceridade! Não, em uma economia comandada por bilionários capitalistas e abençoada por um deus denominado mercado chega a ser um sacrilégio alguém afirmar que é preciso fazer a economia sofrer, pois a única coisa que sofre é o trabalhador. Sim, é como coisa que o trabalhador é tratado nesta insana sociedade (sic) capitalista.
Qual é o nome do "bilionário sincero"? Tim Gurner. Quem é ele? É o fundador do Gurner Group, um dos maiores grupos empresariais australianos. Grupo que atua no ramo imobiliário e no qual Gurner atua como CEO. Alguém que, segundo algo dito no vídeo encontrável no endereço https://www.youtube.com/watch?v=Gl6y5qblhds (até o momento da publicação desta postagem), "nunca passou pela fila do desemprego, e cuja carreira começou com um empréstimo de seu chefe, e o chefe dele era o avô." Assim é mole, não, baby?!
Considerado um dos homens mais ricos da Austrália, Gurner também é conhecido por dar declarações com forte cunho ideológico da classe dominante. A que provocou esta "trilogia" ocorreu durante um evento da Australian Financial Review e foi noticiada em vários órgãos de comunicação social por todo o mundo. Quanto às anteriores, uma das que ganhou destaque na mídia foi aquela em que ele sugere que os jovens não podem pagar uma casa porque gastam muito em torradas com abacate (um prato popular entre jovens). Além de ter casa quer escolher o que comer! Ô raça difícil de satisfazer, hein! O próximo parágrafo apresenta mais uma transcrição de um trecho do vídeo do "bilionário sincero".
"Precisamos lembrar às pessoas que elas trabalham para o empregador, não o contrário. Existe uma mudança sistemática onde o trabalhador considera que o patrão tem sorte em ter os funcionários e deveria ser o contrário. [...] Precisamos matar esse pensamento e isso acontece quando machucamos a economia, que é o que o mundo está tentando fazer. Governos do mundo inteiro estão tentando aumentar o desemprego para conseguir um pouco de normalidade."
E com a declaração reproduzida acima, Gurner demonstra desconhecer algo que, segundo reportagem publicada na edição de 07 de fevereiro de 2017 no jornal Folha de S.Paulo, já estava ocorrendo naquela época em um país vizinho da Austrália.
Para onde estão indo os megarricos?
   Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
    Temor de ricos é que ocorra revolta popular devido à desigualdade em alta
Os três parágrafos acima reproduzem o trecho inicial da reportagem. A reportagem completa é reproduzida na postagem publicada em 05 de setembro de 2017 no blog Lendo e opinando sob o título "Para onde estão indo os megarricos?".
Ou seja, em vez de ficar querendo comprar briga com os trabalhadores, creio que a melhor coisa a ser feita pelo "bilionário sincero" talvez seja seguir o exemplo dos megarricos citados na referida reportagem. Megarricos que, por mais incrível que possa parecer, parecem concordar com a afirmação do filósofo marxista esloveno Slavoj Zizek reproduzida a seguir.
"Quando me dizem 'você é um utópico', digo: 'a única utopia de fato é acreditar que as coisas podem seguir indefinidamente seu curso atual'.
Ou seja, em termos de "Temor de ricos é que ocorra revolta popular devido à desigualdade em alta", a questão parece-me não ser se algum dia ela ocorrerá, e sim de quando será esse dia.
Devido à reação negativa provocada na Austrália e em outros países, Gurner usou o LinkedIn para pedir desculpas sobre suas declarações. O pedido de Tim Gurner ocorreu após reações adversas na web e de políticos locais e internacionais. Pedido que, no meu entender, deve ser recusado, até porque, conforme dito ao longo da postagem, o solicitante é reincidente na prática desse tipo de declarações. Pedido que leva-me a reproduzir no final da terceira postagem da "trilogia" o que foi dito no início da primeira.
"Perdemos a capacidade de indignar-nos. Do contrário o mundo não estaria como está."
(Autoria não identificada por mim)
Capacidade que precisa ser recuperada. Recuperação que passa pela prática do não atendimento do pedido de desculpas do "bilionário sincero" e de qualquer pedido indesculpável. Sim, existem coisas que são indesculpáveis. Compreendido?
"Perdemos a capacidade de não desculpar coisas indesculpáveis. Do contrário o mundo não estaria como está."
  (Paráfrase de minha autoria)
"Encerrando a postagem, segue uma recomendação que encontrei no endereço https://www.publico.pt/2023/09/15/opiniao/opiniao/ja-ouviram-falar-tim-gurner-2063386 em um artigo de Carmo Afonso, advogada, cronista e argumentista portuguesa, intitulado "Já ouviram falar de Tim Gurner? Deveriam"
"As suas palavras têm de servir para sacudir os trabalhadores que andam esquecidos de quem são. Por todo o lado vejo "colaboradores" alheados da luta coletiva dos trabalhadores."
Esquecer de quem se é e alhear-se da luta coletiva dos trabalhadores! Será que essa é mais uma coisa a ser incluída entre as indesculpáveis? Sinceramente, qual é a sua resposta a esta indagação?

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