Antigo
recipiente, uma espécie de saco, feito de pele de animais, geralmente de cabra,
usado para o transporte de líquidos como água, azeite, leite, vinho etc, eis um
significado encontrado para a palavra odre. Palavra usada na expressão "vinho
novo em odres velhos". Expressão extraída da seguinte recomendação
atribuída a Jesus - "Ninguém põe vinho novo em odres velhos." -, e
usada, com as palavras em ordem trocada, como título para esta postagem. Em
tempos em que tantas coisas estranhas são inventadas, não resisti à tentação e
inventei uma. Após ter usado inúmeras vezes o método mutatis mutandis, resolvi inventar um método: o "trocatis trocandis".
Embora
tenha colocado vinho no título da postagem, devo esclarecer que eu não estava
bêbado no momento em que o defini. Tampouco durante as revisões feitas na
postagem antes de publicá-la. A troca na ordem das palavras em relação à frase
evangélica original foi consciente para tornar a expressão um título adequado
às ideias espalhadas por esta postagem.
Após 3,7
décadas de atuação no teatro, digo, mundo corporativo, afastei-me das minhas
atividades profissionais. Por meio de um e-mail enviado há quase quatrocentas
pessoas com quem havia interagido e que permaneceriam na companhia, comuniquei
que estava aposentando-me, expliquei o motivo de fazê-lo, falei sobre o que
pretendia fazer, informei meus números de telefone e disse que a aposentadoria
representava o afastamento das atividades profissionais, mas não das atividades
sociais. Expliquei que, na condição de "desocupado", não caberia a
mim ficar fazendo convites para encontros, mas que atenderia aos convites recebidos.
Inicialmente,
fui convidado para vários encontros, porém com o passar do tempo eles foram escasseando,
talvez por que seja verdadeira aquela frase que diz: o que os olhos não vêem o
coração não sente. Imaginando que o que os ouvidos ouvem o coração sente, porém
não querendo tomar o tempo daquelas pessoas que, diferentemente de mim, ainda
ocupam grande parte de seu tempo com atividades profissionais, pelo menos no
dia de seu aniversário, eu tentava falar com elas por meio de uma antiga modalidade
de comunicação: o telefonema. Para alguém que entende que conversar é uma necessidade humana, telefonar propicia uma possibilidade de conversar.
O tempo
continuou passando, novas modalidades de comunicação foram sendo inventadas e
minhas tentativas de parabenização usando o telefonema foram tendo cada vez
menos êxito, pois, seguindo as modernas modalidades as pessoas passaram a
comunicar-se por meio do envio de mensagens em vez de telefonarem umas para as
outras.
Em 30 de
janeiro de 2022, enviei a um amigo a seguinte mensagem: "Boa noite,
Fulano! Contrariando a minha prática de tentar uma ligação telefônica, neste
ano segue uma mensagem de texto: Feliz Aniversário! Abraços, Guedes" Em
resposta, recebi a seguinte mensagem: "Caramba, quem diria que o Guedes
iria aderir à esta ferramenta de descomunicação. Fiquei pasmo. Mas agradeço o
carinho de sempre. Vou te ligar durante a semana para saber das novidades."
O espanto
deve-se ao fato de, até o dia 25 de outubro de 2021 (época em que deixei a casa
da minha filha após uma estada para recuperação da COVID), eu não ter um
smartphone e, consequentemente, não usar o Whats
App. Desde então, passei a usar isso que aquele amigo chamou de "ferramenta
de descomunicação", porém naquele modo recomendado (talvez hipocritamente)
pelos fabricantes de bebidas alcoólicas: com moderação.
Considerando
meu crescente uso do Whats App para
fins de envio de mensagem de parabenização, elaborei um modelo de mensagem para
tal fim. Modelo elaborado pela aplicação do método "mutatis mutandis" a uma recomendação atribuída a Jesus - 'Vigiai e Orai', e reproduzido a seguir.
"Amiga (o) Fulana (o)! Após algumas tentativas de parabenizá-la (o) usando uma antiga modalidade de comunicação denominada telefonema, restou-me recorrer a uma opção religiosa que criei e à qual (inspirado em uma recomendação de Jesus) denominei 'Enviai e Orai'. A gente digita uma mensagem, envia e ora para que a (o) destinatária (o) a leia. Parabéns, Fulana (o). Beijos (Abraços), Guedes"
Feita essa
introdução, passemos à explicação do que levou-me a elaborar esta postagem e a dar-lhe
um estranho título.
Vivemos tempos em que, com a pretensão de serem vistas
como pessoas atualizadas e, consequentemente, capazes de usarem toda e qualquer
novidade que lhe seja oferecida, a imensa maioria delas sai por aí considerando
como novidade até mesmo coisas que não o são em sua totalidade. Coisas entre as
quais incluo a nova modalidade de comunicação via Whats App. Como assim? Comunicação é algo que, entre outras coisas,
envolve as três seguintes: a forma em que é expressa a mensagem, o meio pelo
qual ela é transportada do remetente ao destinatário e o tempo entre o envio da
mensagem e o momento em que ela recebe atenção. Como exemplos de forma, cito a falada,
a escrita e a por imagens, gravuras ou símbolos. Como exemplos de meios de
transporte, cito as próprias pessoas e os meios desenvolvidos pela tecnologia.
Em tempos remotos, segundo informação encontrável na Wikipédia até o momento da publicação desta postagem, e reproduzida
a seguir, havia outro, a utilização de animais.
"Por volta de 3000 a.C., pombos-correio eram utilizados para troca de mensagens no Antigo Egito, se utilizando de seu senso único de orientação. Mensagens eram amarradas nas patas dos animais e então estes eram soltos para voarem de volta ao seu ninho original. Por volta do século XIX, pombos-correio já eram extensivamente utilizados para comunicações militares."
"(...)
pombos-correio eram utilizados para troca de mensagens no Antigo Egito, se
utilizando de seu senso único de orientação." Desprovidos de tal senso, para
se deslocarem no Recente Mundo, seres humanos se utilizam do senso de
orientação de uma invenção tecnológica denominada GPS. Invenção que, por várias
vezes, já colocou desorientados seres humanos em situações perigosas, inclusive
algumas fatais.
Diante do que é dito nos três parágrafos acima e
lembrando que odre era algo usado para transportar determinadas coisas, será
que, quando usado para enviar mensagens escritas ou contendo imagens, gravuras
ou símbolos, no sentido figurado, faz sentido considerar o Whats App um odre novo usado para transportar uma coisa velha? Qual
é a coisa velha? A forma de comunicação. Afinal, desde a invenção do telefone já
existe uma forma de comunicação mais
moderna que possibilita trocar mensagens faladas em tempo real.
A autodenominada espécie inteligente do universo é
realmente muito estranha. Nos tempos em que um aparelho telefônico chegava a
ser algo que deveria ser declarado como um bem na declaração para o imposto de
renda, todos queriam ter um para poder comunicar-se por voz em tempo real. Agora,
que, uma imensa maioria tem acesso a um dispositivo que lhe possibilita tal
coisa, o que faz ela? Envia mensagens escritas ou com estranhas figuras
denominadas "emoji" que o destinatário responderá quando bem ou mal
entender, no tempo que quiser, isto é, se quiser.
Em mais um exemplo de coisas consideradas como novidade
sem realmente o serem em sua totalidade, segue uma curiosidade sobre o twitter.
Segundo uma informação que li, mas não lembro onde, o tamanho inicial das
mensagens no twitter foi estabelecido em 140 caracteres por ser esse o tamanho
das mensagens "transportadas" em um antigo meio denominado telégrafo.
Ou seja, o twitter é mais uma novidade com algo de velho. E ao falar em twitter
é inevitável lembrar-me de uma afirmação feita em julho de 2009 pelo escritor
português José Saramago (1922 – 2010), ganhador do Nobel de Literatura de 1998,
e reproduzida no próximo parágrafo.
"Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido.".
Pronunciadas
há 14 anos, será que é possível saber quantos degraus já descemos de lá para
cá? Saber a quantos degraus estamos do grunhido?
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