Continuação de sábado
Pedindo desculpas a quem já tenha visitado este blog hoje
esperando encontrar a postagem prometida para este dia e só agora (15 h 03 m) publicada,
segue a continuação da postagem publicada no sábado mais recente.
"Esgotamento, cansaço extremo. Perda das forças físicas ou mentais", dizem os dicionários sobre o significado de exaustão."Nós nos levamos implacavelmente de uma exaustão a outra. Nossas sociedades caminham no ritmo dos computadores. Conduzimos os relacionamentos mais importantes de nossas vidas – tanto profissionais quanto pessoais – de acordo com a velocidade da nossa comunicação. Medimos a nós mesmos pela nossa produtividade e, a cada dia, ficamos mais exaustos, menos descansados – corpo, espírito e mente – e, portanto, menos capazes de produzir coisas, que dirá de cuidar dos relacionamentos. Isso não é uma ironia, é uma tragédia. E embora saibamos disso, não sabemos o que fazer a respeito.", diz Joan Chittister.
Sim, "Nós nos levamos
implacavelmente de uma exaustão a outra.". E o pior é que isso acontece em
uma época para a qual, há 93 anos, um famoso economista fez uma instigante profecia
que David Graeber
(1961 – 2020), professor de Antropologia na London School of Economics, cita em
seu livro intitulado Trabalhos de Merda e que eu reproduzo no próximo
parágrafo.
"Em 1930, o economista John Maynard Keynes profetizou que no fim do século, graças aos avanços tecnológicos, estaríamos todos a trabalhar 16 horas por semana. Mas, curiosamente, não foi isso que aconteceu. Em vez de diminuir, o tempo que passamos a trabalhar aumentou."
Ou seja, não só o que Keynes
profetizou não aconteceu como, além disso, desgraçadamente, foi o contrário que
aconteceu. Economistas e profecias, eis duas coisas incombináveis. Sim, "Em vez de diminuir, o tempo que passamos a trabalhar aumentou." Até porque uma das mais
significativas consequências dos avanços tecnológicos tem sido um sinistro
desequilíbrio na relação entre trabalho, repouso e recreação. Desequilíbrio que
pode ser entendido refletindo-se sobre a longa, e incompleta, série de aumentos
e diminuições de quantidade de horas provocada pelos estonteantes avanços
tecnológicos que caracterizam esta insana sociedade. Série que é apresentada a
seguir, tentando sequenciar tais aumentos e diminuições, e dividindo-os em
grupos segundo alguma afinidade que eu enxergo entre eles.
Diminuição da quantidade de
trabalhadores necessária / Aumento da quantidade de indivíduos desempregados / Diminuição
dos salários pagos aos que estiverem empregados / Aumento da quantidade de
horas trabalhadas para tentar manter o salário
Aumento da quantidade de
coisas produzidas e transformadas em necessidades por agressivas campanhas de
marketing / Aumento da quantidade de financiamentos oferecidos aos incautos
trabalhadores para tentarem pagar os boletos referentes às referidas
necessidades (sic) / Aumento da quantidade de horas trabalhadas para tentar
comprar tudo que lhes é oferecido, inclusive os citados financiamentos / Diminuição
da quantidade de tempo para descanso e recreação / Diminuição da quantidade de
energia dos indivíduos / Aumento do cansaço
Atingimento da exaustão
Diminuição da produção de
coisas que prestem / Aumento da produção de coisas que podem ser vistas como
aquilo que gatos domésticos cobrem com areia e que gatos que vivem nas ruas
cobrem com terra
"Após redigir o parágrafo
acima, o que, imediatamente, me veio à mente foi o título do instigante texto de
Joan Chittister que provocou estas reflexões: A produtividade do descanso e da
recreação. Até porque, conforme sugere o que é dito no parágrafo acima, no
meu entender, aumento de produtividade é algo que sempre ocorrerá. A diferença é quanto
ao tipo de produtividade. Será a do descanso e da recreação ou a do cansaço e da exaustão. Sendo assim, passemos a algumas considerações sobre o
tipo de produtividade que deve nos interessar: o primeiro citado no parágrafo acima
– o de coisas que prestem. Coisas que só podem ser produzidas a partir da
existência de tempo para descanso e recreação mesclado ao tempo dedicado ao
trabalho, conforme sugere o que é dito em alguns trechos do texto de Joan
Chittister reproduzidos a seguir.
"'É necessário para o relaxamento da mente que, de tempos em tempos, façamos uso de atividades lúdicas e brincadeiras', diz Tomás de Aquino, sem dúvida considerado o homem mais brilhante do século XIII e um bom candidato para cada um dos séculos que se seguiram, falando sobre descanso e recreação.""De vez em quando, vá embora, relaxe um pouco, pois quando retomar o trabalho, seu julgamento será mais acertado. Afaste-se um pouco porque, assim, o trabalho parecerá mais leve e você poderá produzir mais em um piscar de olhos, e a falta de harmonia e de proporção será mais prontamente vista", diz Leonardo da Vinci, um dos gênios mais prolíficos de todos os tempos, no século XVI.""Talvez o que todos nós mais precisemos seja tempo para processar o que já sabemos, para que possamos organizar de maneira diferente, de forma ainda mais eficiente do que antes.", diz Joan Chittister.Como Ashleigh Brilliant diz: "Às vezes, a coisa mais urgente e vital que você pode fazer é descansar completamente", diz Joan Chittister.Como o provérbio ensina, "Um bom descanso é metade do trabalho". Isto é, se você realmente quiser ser produtivo, diz Joan Chittister.
Como garante o autor desta
postagem, tudo o que foi dito até aqui foi por ele constatado como sendo
verdadeiro durante seu longo período de atuação no "teatro" corporativo, e ainda hoje, quase
treze após ter se aposentado, segundo companheiros que ainda nele atuam,
continua sendo verdadeiro.
"E embora saibamos disso, não sabemos o que fazer a respeito.", eis uma afirmação de Joan Chittister sobre a qual não consegui deixar de manifestar-me.
Será que a questão é "não
sabermos o que fazer a respeito" ou é "acharmos que nada pode ser
feito a respeito"? Vocês conhecem uma indagação resignada que cada vez
mais caracteriza os sombrios tempos em que vivemos? Qual é a indagação? "Fazer
o quê?". É impressionante a resignação com que aceitamos a inevitabilidade
de aderirmos a tudo o que nos é oferecido por um sinistro desenvolvimento
tecnológico que nos faz equivocarmo-nos quanto ao progresso que deve nos
interessar.
Que
a ciência e a tecnologia contribuem para o progresso é algo que ninguém, em sã
consciência, negará. O problema é que há vários tipos de progresso, e ciência e
tecnologia são responsáveis por apenas um deles. Outro problema é que o
fascínio pelo progresso oriundo de um estonteante desenvolvimento tecnológico
nos impede de perceber que há uma hierarquia entre os vários tipos de
progresso. Uma hierarquia que Alexis Carrel (1873-1944, cirurgião, fisiologista, biólogo e sociólogo francês que,
em 1912, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia) definiu
bem em uma das mais significativas afirmações que vi nesta vida: "A civilização não tem
como finalidade o progresso das máquinas; mas, sim o do homem." Ou seja, embora a tecnologia seja algo
indispensável, o progresso do homem é mais importante que o dela.
Saber escolher o tipo de
progresso que nos convêm como homens, eis algo que sempre me vem à mente quando
lembro a seguinte afirmação do jornalista, filósofo e ensaísta alemão Günther
Anders (1902 – 1992), feita em 1958: "O fascínio pelo progresso nos faz cegos para o apocalipse."
Portanto, empenharmo-nos para
saber o que fazer a respeito de coisas que afetam sinistramente a nossa vida é
algo do qual, no meu entender, jamais deveríamos nos eximir, pois como disse
James James Baldwin
[1924-1987], escritor e ativista americano, "Nem tudo que se enfrenta pode ser
modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado."
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