"Viver é ... Ficar o tempo todo se equilibrando entre escolhas e consequências."
[Autor (a) não identificado (a) por mim]
Concordando
com um velho ditado que diz que - a vida
é feita de escolhas -, após uma postagem que em seu penúltimo parágrafo faz referência a uma afirmação de Alvo Dumbledore, o mago barbudo dos filmes de
Harry Potter, que diz que - "Tempos
difíceis estão por vir e, em breve, teremos que escolher entre o que é certo e
o que é fácil." -, segue uma intitulada Uma guerra, uma rosa, uma
escolha. O texto nela reproduzido foi extraído de um livro de Roberto
Aylmer intitulado Escolhas - Algumas delas podem determinar o
destino de uma pessoa, uma família ou uma nação, no qual ele é o primeiro
de vinte capítulos e tem como subtítulo Uma guerra, uma rosa, uma escolha.
Uma guerra, uma rosa, uma escolha
O
relógio da praça marcava cinco para as seis. O coração dele batia rápido.
Aquele era um dia esperado por quase dois anos.
Ele
sobrevivera à Segunda Guerra Mundial, mas nada o havia feito tremer tanto
quanto o que estava para acontecer naquele dia.
Ele
ainda era um sargento quando, na biblioteca pública, encontrou um livro velho e
com anotações nas bordas das páginas. Elas eram tão impressionantes, que deixou
de seguir o livro para ler apenas os comentários. A letra parecia ter sido
escrita por uma mulher, de modo suave e firme.
Ele
tinha quase certeza de como seria esta mulher: olhos azuis e brilhantes,
elegante e discreta, inteligente e sensível. Na última folha, encontrou o nome
e o endereço da autora das anotações e pensou em escrever uma carta de
agradecimento. Mas se sentiu inseguro e confuso.
- Tudo isso apenas por uma desconhecida? –
pensava.
Quem pode ser esta mulher que tanto me faz
sonhar? Será que ela ainda é viva? E se eu a convidasse para um jantar? Ela me
aceitaria assim, do jeito que eu sou?
Depois
de uma luta interior, decidiu escrever uma carta, no dia que estava embarcando
para combater o avanço nazista na Itália.
Diante
do risco da morte, deixamos vergonhas de lado e buscamos a verdade que pode dar
sentido a cada segundo do tempo que nos resta.
Para
sua surpresa e alegria, sessenta dias depois, em meio ao cenário cruel da
guerra, ele recebeu uma carta e a letra escrita no envelope ele conhecia bem.
Em sua
carta-resposta, ela agradecia a gentileza das palavras escritas na primeira
carta e se apresentava como uma amiga
para as horas difíceis.
O jovem
sargento não conseguia acreditar. Ele lia e relia aquele pedaço de papel, para
tentar se convencer de que era verdade.
Desse
dia em diante, combatia com novo propósito: não queria apenas servir ao seu país ou
sobreviver. Ele desejava, mais do que tudo, construir uma dignidade que
merecesse o amor daquela mulher especial. Queria ser um herói para ela.
Eles se
corresponderam intensamente durante a guerra.
Nas
cartas que recebia, percebeu que sentimentos diferentes também estavam
crescendo no coração da amiga misteriosa.
Então,
num ato de ousadia, o sargento pediu uma foto. Ele queria conhecê-la além de
sua imaginação, mas ela, secamente, disse NÃO! Ela,
afirmava que as pessoas deviam se conhecer pelo que elas são, e não pelo que
aparentam ser.
- Por que ela não quer que eu a conheça?
Será que ela é uma senhora idosa ou é muito feia e tem medo que eu a rejeite? -
pensava o já agora tenente, condecorado por bravura na tomada de Monte Castelo.
Seu
tempo na guerra havia terminado. Eles se corresponderam pela última vez na
Itália e marcaram um encontro na praça da capital, em frente ao relógio, às 18
horas, de onde sairiam para um jantar.
A
combinação era que ele estaria fardado e ela estaria segurando uma rosa
vermelha, exatamente às 18 horas, no banco da praça, em frente ao relógio.
Faltavam
dois minutos para as seis horas.
No estreito
caminho da praça, ele viu andando, em sua direção, uma mulher esbelta, elegante
e com os passos firmes. Tudo levava a crer que era ela. A cada passo a
respiração ficava ainda mais curta e rápida.
Os
olhos da mulher eram duas bolas de luz do mais puro azul, e a boca tinha o
brilho vermelho do prazer, guardado para o momento certo. Quando seus olhos se
cruzaram, sentiu mais medo do que na batalha contra os alemães. Mas ela não
carregava a rosa combinada.
- Será que é ela? Ela vai me aceitar? Sou bom
o suficiente para ela? – hesitava o tenente.
Quase
esboçou um cumprimento, mas teve medo e recuou. Ela passou sem olhar para trás.
Ele
estava se preparando para sentar no banco da praça, quando ouviu uma voz rouca:
- Procurando por mim, tenente?
Virando-se,
deparou com uma senhora, muito além dos seus 60, com cabelos brancos e sem
qualquer cuidado com a aparência. Ela segurava gentilmente uma rosa vermelha na
mão direita e tinha o olhar fixo nas medalhas do jovem oficial.
Por um
momento, ele ficou dividido entre seguir a mulher que parecia a realização de
seus sonhos ou ficar e conhecer a pessoa que o animou e o fez pensar em voltar
para casa, nos piores dias de sua vida.
[O que
você faria? Seguiria seu coração em busca do amor ou manteria sua palavra e
convidaria a amiga das horas difíceis
para jantar? Seja sincero...]
Por
fim, decidiu e falou como quem fala para alguém invisível: - Não sei o que vai ser, mas vou conhecer esta pessoa especial, afinal,
temos um jantar marcado...
Procurando
esquecer a visão maravilhosa que ainda estava em seus olhos, sentou-se ao lado
da gentil senhora e se apresentou.
Agradeceu
a pontualidade de sua amiga das horas
difíceis e a convidou para o jantar combinado.
Com um sorriso maroto, a senhora disse:
- Eu adoraria. Mas não sou quem você pensa
que sou...
Ele
ficou surpreso.
- Como não era ela? E a rosa vermelha...
Como poderia saber? – pensava ele.
E a
senhora completou:
- A moça loura que passou por você disse
para eu te contar isso, mas só se você me convidasse para jantar.
- Ela está esperando o senhor naquele
restaurante...
- Ela me disse que era um teste, e parece
que o senhor passou.
*************
O que
você faria no lugar do tenente? Seria fiel aos seus princípios ou à força dos
seus desejos?
As duas
perguntas acima formam o primeiro parágrafo do segundo capítulo do livro. E, no
meu entender, servem como um bom ponto de partida para reflexões sobre a imprescindibilidade
de aprender a escolher.
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