quarta-feira, 26 de abril de 2023

Uma guerra, uma rosa, uma escolha

"Viver é ... Ficar o tempo todo se equilibrando entre escolhas e consequências."
[Autor (a) não identificado (a) por mim]
Concordando com um velho ditado que diz que - a vida é feita de escolhas -, após uma postagem que em seu penúltimo parágrafo faz referência a uma afirmação de Alvo Dumbledore, o mago barbudo dos filmes de Harry Potter, que diz que - "Tempos difíceis estão por vir e, em breve, teremos que escolher entre o que é certo e o que é fácil." -, segue uma intitulada Uma guerra, uma rosa, uma escolha. O texto nela reproduzido foi extraído de um livro de Roberto Aylmer intitulado Escolhas - Algumas delas podem determinar o destino de uma pessoa, uma família ou uma nação, no qual ele é o primeiro de vinte capítulos e tem como subtítulo Uma guerra, uma rosa, uma escolha.
Uma guerra, uma rosa, uma escolha
O relógio da praça marcava cinco para as seis. O coração dele batia rápido. Aquele era um dia esperado por quase dois anos.
Ele sobrevivera à Segunda Guerra Mundial, mas nada o havia feito tremer tanto quanto o que estava para acontecer naquele dia.
Ele ainda era um sargento quando, na biblioteca pública, encontrou um livro velho e com anotações nas bordas das páginas. Elas eram tão impressionantes, que deixou de seguir o livro para ler apenas os comentários. A letra parecia ter sido escrita por uma mulher, de modo suave e firme.
Ele tinha quase certeza de como seria esta mulher: olhos azuis e brilhantes, elegante e discreta, inteligente e sensível. Na última folha, encontrou o nome e o endereço da autora das anotações e pensou em escrever uma carta de agradecimento. Mas se sentiu inseguro e confuso.
- Tudo isso apenas por uma desconhecida? – pensava.
Quem pode ser esta mulher que tanto me faz sonhar? Será que ela ainda é viva? E se eu a convidasse para um jantar? Ela me aceitaria assim, do jeito que eu sou?
Depois de uma luta interior, decidiu escrever uma carta, no dia que estava embarcando para combater o avanço nazista na Itália.
Diante do risco da morte, deixamos vergonhas de lado e buscamos a verdade que pode dar sentido a cada segundo do tempo que nos resta.
Para sua surpresa e alegria, sessenta dias depois, em meio ao cenário cruel da guerra, ele recebeu uma carta e a letra escrita no envelope ele conhecia bem.
Em sua carta-resposta, ela agradecia a gentileza das palavras escritas na primeira carta e se apresentava como uma amiga para as horas difíceis.
O jovem sargento não conseguia acreditar. Ele lia e relia aquele pedaço de papel, para tentar se convencer de que era verdade.
Desse dia em diante, combatia com novo propósito: não queria apenas servir ao seu país ou sobreviver. Ele desejava, mais do que tudo, construir uma dignidade que merecesse o amor daquela mulher especial. Queria ser um herói para ela.
Eles se corresponderam intensamente durante a guerra.
Nas cartas que recebia, percebeu que sentimentos diferentes também estavam crescendo no coração da amiga misteriosa.
Então, num ato de ousadia, o sargento pediu uma foto. Ele queria conhecê-la além de sua imaginação, mas ela, secamente, disse NÃO! Ela, afirmava que as pessoas deviam se conhecer pelo que elas são, e não pelo que aparentam ser.
- Por que ela não quer que eu a conheça? Será que ela é uma senhora idosa ou é muito feia e tem medo que eu a rejeite? - pensava o já agora tenente, condecorado por bravura na tomada de Monte Castelo.
Seu tempo na guerra havia terminado. Eles se corresponderam pela última vez na Itália e marcaram um encontro na praça da capital, em frente ao relógio, às 18 horas, de onde sairiam para um jantar.
A combinação era que ele estaria fardado e ela estaria segurando uma rosa vermelha, exatamente às 18 horas, no banco da praça, em frente ao relógio.
Faltavam dois minutos para as seis horas.
No estreito caminho da praça, ele viu andando, em sua direção, uma mulher esbelta, elegante e com os passos firmes. Tudo levava a crer que era ela. A cada passo a respiração ficava ainda mais curta e rápida.
Os olhos da mulher eram duas bolas de luz do mais puro azul, e a boca tinha o brilho vermelho do prazer, guardado para o momento certo. Quando seus olhos se cruzaram, sentiu mais medo do que na batalha contra os alemães. Mas ela não carregava a rosa combinada.
- Será que é ela? Ela vai me aceitar? Sou bom o suficiente para ela? – hesitava o tenente.
Quase esboçou um cumprimento, mas teve medo e recuou. Ela passou sem olhar para trás.
Ele estava se preparando para sentar no banco da praça, quando ouviu uma voz rouca: - Procurando por mim, tenente?
Virando-se, deparou com uma senhora, muito além dos seus 60, com cabelos brancos e sem qualquer cuidado com a aparência. Ela segurava gentilmente uma rosa vermelha na mão direita e tinha o olhar fixo nas medalhas do jovem oficial.
Por um momento, ele ficou dividido entre seguir a mulher que parecia a realização de seus sonhos ou ficar e conhecer a pessoa que o animou e o fez pensar em voltar para casa, nos piores dias de sua vida.
[O que você faria? Seguiria seu coração em busca do amor ou manteria sua palavra e convidaria a amiga das horas difíceis para jantar? Seja sincero...]
Por fim, decidiu e falou como quem fala para alguém invisível: - Não sei o que vai ser, mas vou conhecer esta pessoa especial, afinal, temos um jantar marcado...
Procurando esquecer a visão maravilhosa que ainda estava em seus olhos, sentou-se ao lado da gentil senhora e se apresentou.
Agradeceu a pontualidade de sua amiga das horas difíceis e a convidou para o jantar combinado.
Com um sorriso maroto, a senhora disse:
- Eu adoraria. Mas não sou quem você pensa que sou...
Ele ficou surpreso.
- Como não era ela? E a rosa vermelha... Como poderia saber? – pensava ele.
E a senhora completou:
- A moça loura que passou por você disse para eu te contar isso, mas só se você me convidasse para jantar.
- Ela está esperando o senhor naquele restaurante...
- Ela me disse que era um teste, e parece que o senhor passou.
*************
O que você faria no lugar do tenente? Seria fiel aos seus princípios ou à força dos seus desejos?
As duas perguntas acima formam o primeiro parágrafo do segundo capítulo do livro. E, no meu entender, servem como um bom ponto de partida para reflexões sobre a imprescindibilidade de aprender a escolher.

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