Continuação de 17 de fevereiro
"Em primeiro lugar, só havia um emprego, um único emprego, de supertrabalhador, o que simplesmente neutralizava sua capacidade reivindicatória.", diz Moacyr Scliar em seu instigante texto ficcional.
"Será que é imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?"
"Alguns jornalistas têm tentado ouvir o supertrabalhador a respeito dessa situação. Alegando falta de tempo, ele recusa-se a dar declarações. Aliás, de modo geral, recusa-se a falar, ainda que às vezes monologue coisas que, ao supervisor, parecem sem sentido. "Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos" é o que ele diz, mas para quem está falando? E o que está dizendo?"
"Em fins do século passado, Delmiro Gouveia (1863 – 1917), rico comerciante e exportador do Recife, capital do Estado de Pernambuco, Brasil, sofre perseguições políticas. Falido e perseguido pela polícia do Governador, Delmiro refugia-se no sertão, sob a proteção do Coronel Ulisses, levando consigo uma enteada do Governador. No sertão, ele recomeça sua atividade de exportador de couros e monta uma fábrica de linhas de costura, aproveitando a energia elétrica de uma usina que constrói na cachoeira de Paulo Afonso e o algodão erbáceo nativo da região.A Grande Guerra de 1914, impedindo a chegada dos produtos ingleses à América do Sul, garante a Delmiro a conquista desse mercado, sobretudo do brasileiro. Os ingleses da Machine Cottons, ex-senhores absolutos do mercado, enviam emissários para negociar a situação assim criada. Delmiro nega-se a vender ou a associar-se. É assassinado em 10 de outubro de 1917. Alguns anos mais tarde, 1929, a fábrica é adquirida pelos ingleses, destruída e lançada nas águas da Cachoeira de Paulo Afonso."
Sequência 46 – Operários frente à cachoeira de Paulo Afonso, após lançarem as máquinas do penhasco.Zé Pó (off) - "Foi isso que aconteceu. Seu Delmiro mandou a gente fazer a fábrica, a gente fez. Os inglês veio e mandou a gente quebrá as máquinas e derrubá no rio. A gente quebrou e derrubou. Eram os donos, os patrão. Os patrão manda e os trabalhador obedece. Ninguém perguntou pra nós o nosso pensamento, se a gente queria ou não quebrar as máquinas. Agora, o povo daqui nunca esqueceu o Coronel Delmiro. A fraqueza do Coronel é que ele era só, sozinho mesmo, e aí atiraram nele e mataram a fábrica. Tenho pra mim que ele foi como um exemplo pra nós tudo. Mas penso também que o dia em que o povo fizer as fábrica pra ele mesmo aí num tem força no mundo qui pode quebrá nem derrubá, porque num tem força maior que a do povo trabalhador, que trabalha, como as máquinas, e pensa, que nem gente."
"Vinícolas do RS que usavam mão de obra análoga à escravidão podem ser responsabilizadas, diz MTE"
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