A pretensão de ser a espécie inteligente do universo e a afirmação de
Albert Einstein - "Existem apenas duas coisas
infinitas - o universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto
ao universo." -, eis duas coisas contraditórias que me vêem à mente ao ler
o instigante artigo de Susan Andrews espalhado pela postagem anterior.
"Sambilene foi um dos primeiros
a registrar os deletérios efeitos da falta do toque no organismo humano.", diz Susan Andrews. Sambilene de
Adama foi um historiador franciscano e o registro por ele feito embasa-se no resultado
de um bizarro experimento feito por Frederico II, imperador da Alemanha no século XIII. Experimento
cuja finalidade e modus operandi são
reproduzidos a seguir, usando um trecho do artigo de Susan.
"Descobrir que tipo de idioma as crianças falariam caso crescessem sem jamais ouvir uma palavra sequer. Será que seria a língua de seus pais, ou hebreu, ou grego, ou latim, ou árabe? Ordenou então que algumas 'mães postiças' amamentassem e banhassem um grupo de bebês, porém sem falar com eles nem tocá-los depois."
Experimento
cujo trágico final, citado no artigo de Susan, é reproduzido a seguir.
"Mas, como o historiador franciscano Sambilene de Adama relatou, 'o imperador tentou em vão, porque todas as crianças morreram. Pois elas não conseguiam viver sem os carinhosos afagos, sem os alegres semblantes e as amorosas palavras das mães postiças'".
O tempo passou mais estudos e experimentos foram
feitos e, mais demonstrações que o toque amoroso é um fator essencial para a
sobrevivência das crianças foram obtidas, conforme citado por Susan Andrews.
"Mais recentemente, durante o último século, estudos foram feitos pelos pediatras Henry Chapin e Rene Spitz, dos Estados Unidos, mostraram que crianças que viviam em instituições com alimentação e higiene adequadas morreram pela carência de toque. Todas essas crianças receberam o que se acreditava ser essencial para sua sobrevivência: nutrição e um ambiente higiênico. Mesmo com as necessidades físicas atendidas, os médicos concluíram que o fator essencial ausente era o toque amoroso."
Em uma clara demonstração da importância do toque,
em algum momento que desconheço, foi criado na Universidade de Miami, Estados
Unidos, um Instituto de Pesquisa do Toque com a finalidade de estudar os
efeitos do toque. O próximo parágrafo reproduz um trecho do artigo de Susan que
se refere a tal instituto.
"No Instituto de Pesquisa do Toque, na Universidade de Miami, Estados Unidos, a psicóloga Tiffany Field e seus colegas têm estudado os efeitos do toque. Suas pesquisas mostram que um aumento de toques – especialmente em crianças – pode amenizar resfriados, diarreia, asma, dermatite, doença cardiovascular, dor crônica, insônia e estresse. O toque também melhora o funcionamento mental. Um estudo feito pela pesquisadora Sybill Hart, do mesmo instituto, revelou que crianças da pré-escola – especialmente aquelas mais 'temperamentais', que recebiam uma massagem de 15 minutos por dia – tinham melhores resultados em testes de desempenho cognitivo e mostraram um aumento da atenção. Isso pode ocorrer porque o toque reduz os níveis do hormônio do estresse, o cortisol. Uma vez que o excesso de cortisol inibe o funcionamento do hipocampo, o centro de memória e aprendizado no cérebro, a redução da secreção desse hormônio pode levar a uma melhora na capacidade mental."
Ou seja, cumprindo sua finalidade,
o Instituto de Pesquisa do Toque realizou seus estudos e chegou a conclusões
interessantes que, infelizmente não tiveram a devida aceitação como demonstra o
que é dito no antepenúltimo parágrafo do artigo de Susan, reproduzido a seguir.
Grudados em nossas telas de computador ou de TV, dependemos tanto do visual que perdemos contato com nossa sensação tátil. O antropólogo britânico Ashley Montagu, em seu clássico livro Tocar, lamenta a "dolorosa privação de experiência sensorial que sofremos em nosso mundo tecnológico. A impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos produzindo uma raça de 'intocáveis'".
"A
impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos
produzindo uma raça de 'intocáveis'", eis uma afirmação feita por Susan há pelo menos 15
anos, em um artigo onde nem é citada a invenção que mais contribui para tal
intocabilidade: o smartphone. De lá
para cá o "tal ponto" citado por Susan já foi há muito
ultrapassado e a situação está cada vez pior. Dito isto, segue o penúltimo
parágrafo do artigo de Susan.
"Com tamanha agitação e distúrbios mentais à nossa volta, será que não é chegada a hora de resgatar uma das mais básicas expressões da afeição humana – o toque? Como Montagu diz, 'onde começa o toque, ali o amor e a humanidade também começam'".
"Onde
começa o toque, ali o amor e a humanidade também começam", eis uma
afirmação do antropólogo e humanista inglês Ashley Montagu que Susan usa para
responder sua própria indagação. E que eu uso para fazer a seguinte paráfrase: "Onde
termina o toque, ali o amor e a humanidade também terminam"? E a seguinte
indagação: Será que tal paráfrase faz sentido? Tanto na afirmação quanto na
paráfrase, entenda-se toque como o toque dado em seres
dotados de touch
skin, e não o toque dado em máquinas dotadas de touch
screen.
Paráfrases, eis algo do qual
gosto muito, portanto, segue mais uma. Vocês conhecem o ditado popular que diz:
"O que os olhos não vêem o coração
não sente."? Será que diante da afirmação de Susan - "A
impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos
produzindo uma raça de 'intocáveis'" -, faz sentido elaborar a seguinte
paráfrase: "Quem as mãos não tocam o coração não
sente."?
O artigo de Susan Andrews que
provocou estas reflexões teve continuidade em sua próxima coluna na revista Época e é dele que extraí os dois
próximos parágrafos.
"Como o psiquiatra americano John Ratey alertou, 'a medicina moderna perdeu contato com os benefícios do contato'"."A psicoterapeuta Virginia Satir costumava dizer: 'Você precisa de quatro abraços por dia para sobreviver, oito para manutenção e 12 para crescimento'. Se você ainda não viu o vídeo Free hugs, ou 'abraços grátis' no You Tube, vale a pena dar uma olhada."
E após tanto falar em toque,
encerro esta postagem dizendo o seguinte. Se a intenção deste blog é "espalhar ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para
torná-la cada vez melhor", entendo que outra forma de
descrever sua intenção poderia ser a seguinte: "espalhar ideias capazes de dar um toque nas pessoas sobre coisas que
possam levá-las a agir para tornar a vida cada vez melhor".
Quanto ao significado da expressão "dar um toque", descrevo-o como:
"avisar ou sugerir algo discretamente". Compreendido?
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