quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Reflexões provocadas por "A magia do toque"

A pretensão de ser a espécie inteligente do universo e a afirmação de Albert Einstein - "Existem apenas duas coisas infinitas - o universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao universo." -, eis duas coisas contraditórias que me vêem à mente ao ler o instigante artigo de Susan Andrews espalhado pela postagem anterior.
"Sambilene foi um dos primeiros a registrar os deletérios efeitos da falta do toque no organismo humano.", diz Susan Andrews. Sambilene de Adama foi um historiador franciscano e o registro por ele feito embasa-se no resultado de um bizarro experimento feito por Frederico II, imperador da Alemanha no século XIII. Experimento cuja finalidade e modus operandi são reproduzidos a seguir, usando um trecho do artigo de Susan.
"Descobrir que tipo de idioma as crianças falariam caso crescessem sem jamais ouvir uma palavra sequer. Será que seria a língua de seus pais, ou hebreu, ou grego, ou latim, ou árabe? Ordenou então que algumas 'mães postiças' amamentassem e banhassem um grupo de bebês, porém sem falar com eles nem tocá-los depois."
Experimento cujo trágico final, citado no artigo de Susan, é reproduzido a seguir.
"Mas, como o historiador franciscano Sambilene de Adama relatou, 'o imperador tentou em vão, porque todas as crianças morreram. Pois elas não conseguiam viver sem os carinhosos afagos, sem os alegres semblantes e as amorosas palavras das mães postiças'".
O tempo passou mais estudos e experimentos foram feitos e, mais demonstrações que o toque amoroso é um fator essencial para a sobrevivência das crianças foram obtidas, conforme citado por Susan Andrews.
"Mais recentemente, durante o último século, estudos foram feitos pelos pediatras Henry Chapin e Rene Spitz, dos Estados Unidos, mostraram que crianças que viviam em instituições com alimentação e higiene adequadas morreram pela carência de toque. Todas essas crianças receberam o que se acreditava ser essencial para sua sobrevivência: nutrição e um ambiente higiênico. Mesmo com as necessidades físicas atendidas, os médicos concluíram que o fator essencial ausente era o toque amoroso."
Em uma clara demonstração da importância do toque, em algum momento que desconheço, foi criado na Universidade de Miami, Estados Unidos, um Instituto de Pesquisa do Toque com a finalidade de estudar os efeitos do toque. O próximo parágrafo reproduz um trecho do artigo de Susan que se refere a tal instituto.
"No Instituto de Pesquisa do Toque, na Universidade de Miami, Estados Unidos, a psicóloga Tiffany Field e seus colegas têm estudado os efeitos do toque. Suas pesquisas mostram que um aumento de toques – especialmente em crianças – pode amenizar resfriados, diarreia, asma, dermatite, doença cardiovascular, dor crônica, insônia e estresse. O toque também melhora o funcionamento mental. Um estudo feito pela pesquisadora Sybill Hart, do mesmo instituto, revelou que crianças da pré-escola – especialmente aquelas mais 'temperamentais', que recebiam uma massagem de 15 minutos por dia – tinham melhores resultados em testes de desempenho cognitivo e mostraram um aumento da atenção. Isso pode ocorrer porque o toque reduz os níveis do hormônio do estresse, o cortisol. Uma vez que o excesso de cortisol inibe o funcionamento do hipocampo, o centro de memória e aprendizado no cérebro, a redução da secreção desse hormônio pode levar a uma melhora na capacidade mental."
Ou seja, cumprindo sua finalidade, o Instituto de Pesquisa do Toque realizou seus estudos e chegou a conclusões interessantes que, infelizmente não tiveram a devida aceitação como demonstra o que é dito no antepenúltimo parágrafo do artigo de Susan, reproduzido a seguir.
Grudados em nossas telas de computador ou de TV, dependemos tanto do visual que perdemos contato com nossa sensação tátil. O antropólogo britânico Ashley Montagu, em seu clássico livro Tocar, lamenta a "dolorosa privação de experiência sensorial que sofremos em nosso mundo tecnológico. A impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos produzindo uma raça de 'intocáveis'".
"A impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos produzindo uma raça de 'intocáveis'", eis uma afirmação feita por Susan há pelo menos 15 anos, em um artigo onde nem é citada a invenção que mais contribui para tal intocabilidade: o smartphone. De lá para cá o "tal ponto" citado por Susan já foi há muito ultrapassado e a situação está cada vez pior. Dito isto, segue o penúltimo parágrafo do artigo de Susan.
"Com tamanha agitação e distúrbios mentais à nossa volta, será que não é chegada a hora de resgatar uma das mais básicas expressões da afeição humana – o toque? Como Montagu diz, 'onde começa o toque, ali o amor e a humanidade também começam'".
"Onde começa o toque, ali o amor e a humanidade também começam", eis uma afirmação do antropólogo e humanista inglês Ashley Montagu que Susan usa para responder sua própria indagação. E que eu uso para fazer a seguinte paráfrase: "Onde termina o toque, ali o amor e a humanidade também terminam"? E a seguinte indagação: Será que tal paráfrase faz sentido? Tanto na afirmação quanto na paráfrase, entenda-se toque como o toque dado em seres dotados de touch skin, e não o toque dado em máquinas dotadas de touch screen.
Paráfrases, eis algo do qual gosto muito, portanto, segue mais uma. Vocês conhecem o ditado popular que diz: "O que os olhos não vêem o coração não sente."? Será que diante da afirmação de Susan - "A impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos produzindo uma raça de 'intocáveis'" -, faz sentido elaborar a seguinte paráfrase: "Quem as mãos não tocam o coração não sente."?
O artigo de Susan Andrews que provocou estas reflexões teve continuidade em sua próxima coluna na revista Época e é dele que extraí os dois próximos parágrafos.
"Como o psiquiatra americano John Ratey alertou, 'a medicina moderna perdeu contato com os benefícios do contato'".
"A psicoterapeuta Virginia Satir costumava dizer: 'Você precisa de quatro abraços por dia para sobreviver, oito para manutenção e 12 para crescimento'. Se você ainda não viu o vídeo Free hugs, ou 'abraços grátis' no You Tube, vale a pena dar uma olhada."
E após tanto falar em toque, encerro esta postagem dizendo o seguinte. Se a intenção deste blog é "espalhar ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor", entendo que outra forma de descrever sua intenção poderia ser a seguinte: "espalhar ideias capazes de dar um toque nas pessoas sobre coisas que possam levá-las a agir para tornar a vida cada vez melhor". Quanto ao significado da expressão "dar um toque", descrevo-o como: "avisar ou sugerir algo discretamente". Compreendido?

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