"Onde começa o toque, ali o amor e a
humanidade também começam".
(Ashley Montagu [1905 - 1999], antropólogo e humanista inglês)
Não, o que esta postagem focaliza não
é a viciante magia produzida por toques dados em máquinas dotadas de touch
screen, e sim a desvalorizada magia
produzida por toques dados em seres dotados de touch
skin. O texto nela
reproduzido foi extraído de um livro intitulado Por
uma vida de verdade. Publicado em 2015, o livro é uma coletânea dos
principais artigos de Susan Andrews publicados entre 2006 e 2008 na revista Época. Embora os escritos já tenham uma
década e meia, os assuntos nele abordados continuam presentes na vida de
milhões de pessoas. Quem é Susan Andrews? Segundo um trecho do que é dito sobre
ela na segunda "orelha" do referido livro, é uma
norte-americana formada pela Universidade de Harvard, doutora em Psicologia
Transpessoal pela Universidade de Greenwich, Conferencista em 40 países, e que
vive no Brasil desde 1992.
A magia do toque
Afagos carinhosos podem estimular o sistema imunológico,
melhorar o funcionamento mental e até aliviar a hiperatividade
Frederico II, imperador da
Alemanha no século XIII, era dado a se engajar em bizarros experimentos. Num
deles, quis descobrir que tipo de idioma as crianças falariam caso crescessem
sem jamais ouvir uma palavra sequer. Será que seria a língua de seus pais, ou
hebreu, ou grego, ou latim, ou árabe? Ordenou então que algumas "mães postiças"
amamentassem e banhassem um grupo de bebês, porém sem falar com eles nem
tocá-los depois. Mas, como o historiador franciscano Sambilene de Adama
relatou, "o imperador tentou em vão, porque todas as crianças morreram.
Pois elas não conseguiam viver sem os carinhosos afagos, sem os alegres
semblantes e as amorosas palavras das mães postiças".
"Não
conseguiam viver sem os carinhosos afagos..." Algo tão simples. Toque.
Quem poderia imaginar que um dos mais básicos dos atos humanos poderia
estimular o sistema imunológico, melhorar o funcionamento mental e até aliviar
a hiperatividade ou o déficit de atenção em crianças agitadas? Sambilene foi um
dos primeiros a registrar os deletérios efeitos da falta do toque no organismo
humano.
Mais
recentemente, durante o último século, estudos foram feitos pelos pediatras
Henry Chapin e Rene Spitz, dos Estados Unidos, mostraram que crianças que
viviam em instituições com alimentação e higiene adequadas morreram pela
carência de toque. Todas essas crianças receberam o que se acreditava ser essencial
para sua sobrevivência: nutrição e um ambiente higiênico. Mesmo com as
necessidades físicas atendidas, os médicos concluíram que o fator essencial
ausente era o toque amoroso.
No
Instituto de Pesquisa do Toque, na Universidade de Miami, Estados Unidos, a
psicóloga Tiffany Field e seus colegas têm estudado os efeitos do toque. Suas pesquisas mostram que um
aumento de toques – especialmente em crianças – pode amenizar resfriados, diarreia,
asma, dermatite, doença cardiovascular, dor crônica, insônia e estresse. O
toque também melhora o funcionamento mental. Um estudo feito pela pesquisadora
Sybill Hart, do mesmo instituto, revelou que crianças da pré-escola –
especialmente aquelas mais "temperamentais", que recebiam
uma massagem de 15 minutos por dia – tinham melhores resultados em testes de
desempenho cognitivo e mostraram um aumento da atenção. Isso pode ocorrer
porque o toque reduz os níveis do hormônio do estresse, o cortisol. Uma vez que
o excesso de cortisol inibe o funcionamento do hipocampo, o centro de memória e
aprendizado no cérebro, a redução da secreção desse hormônio pode levar a uma
melhora na capacidade mental.
Grudados
em nossas telas de computador ou de TV, dependemos tanto do visual que perdemos
contato com nossa sensação tátil. O antropólogo britânico Ashley Montagu, em
seu clássico livro Tocar, lamenta a "dolorosa
privação de experiência sensorial que sofremos em nosso mundo tecnológico. A
impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos
produzindo uma raça de 'intocáveis'".
Com
tamanha agitação e distúrbios mentais à nossa volta, será que não é chegada a
hora de resgatar uma das mais básicas expressões da afeição humana – o toque?
Como Montagu diz, "onde começa o toque, ali o amor e a humanidade também
começam".
Assegure
de que você está a cada dia dando a seus filhos o conforto do carinho tátil.
Aprenda a massagem para bebês. Esfregue as costas de seu filho e faça cafuné em
seu cabelo, Ensine a suas crianças a automassagem. E incentive a introdução do
toque na educação infantil.
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A vida é feita de escolhas, de
uma infindável sucessão de escolhas. Escolhas que nos são propostas durante
todo o tempo. Escolhas complexas, que não exemplificarei aqui, e escolhas simples
como escolher entre ler ou não esta postagem até o final. Portanto, para quem
chegou até aqui, entendo que, na infindável sucessão já citada, a próxima escolha
seja entre refletir ou não sobre o que é dito no excelente artigo de Susan
Andrews. Até porque acredito que é desenvolvendo o hábito de refletir sobre o
que lemos, ouvimos ou observamos que, nessa infindável sucessão de escolhas das
quais a vida é feita, nos tornaremos capazes de fazer escolhas cada vez mais
acertadas.
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