Continuação de segunda-feira
O aumento dos conhecimentos acerca da natureza, o
aperfeiçoamento de ferramentas as mais variadas, os desenvolvimentos de novas
técnicas e habilidades, tudo isso contribuiu para ampliar a capacidade dos
seres humanos de produzir bens necessários. Há mais ou menos 12 mil anos houve
uma grande virada na história da humanidade. Os homens descobriram a
agricultura e a domesticação de animais. Descobriram que era mais produtivo
plantar do que simplesmente tirar da natureza os produtos. Também descobriam
que era mais produtivo domesticar alguns animais do que simplesmente matá-los.
Isso possibilitou uma produção de bens muito maior do que até então. Também
descobriram que, produzindo mais e com isso podendo sustentar mais pessoas, era
mais produtivo escravizar os prisioneiros em vez de matá-los. Eles poderiam
produzir mais do que consumiam e, com isso, os seus donos poderiam enriquecer.
Foi o começo da propriedade privada, da escravidão, das classes sociais e da
luta de classes. Foi, também, nesse período que surgiu a desigualdade social.
Alguns – muito poucos – eram ricos e outros – a imensa maioria – eram pobres.
Mas, como vimos, a riqueza dos ricos não era um produto natural. Era o
resultado da exploração dos trabalhadores escravos.
O aumento da produção propiciado pela revolução
neolítica fez com que muitos grupos deixassem de ser nômades e se fixassem em
determinados locais, dando origem às primeiras cidades. Dentro delas,
determinados espaços foram sendo organizados para permitir as trocas de produtos.
Surgiu, então, o mercado. No entanto, nesse tempo, as coisas ainda eram
trocadas diretamente, umas pelas outras. O aumento das trocas levou, com o
tempo, à criação de um meio que as facilitasse. Durante muito tempo, esse meio
era simplesmente determinado produto – sal, chocolate, etc. Por volta do século
6 A.C., na Lídia (hoje, Turquia), segundo a teoria mais aceita, foi criado o
dinheiro, uma moeda de metal, para facilitar as trocas.
Quem conhece um pouquinho de história sabe que, no
mundo ocidental, ao escravismo se sucedeu o feudalismo e, depois, o
capitalismo, no qual vivemos até hoje.
Durante o escravismo e o feudalismo, ser rico era
ter terras e escravos ou servos. A ampla maioria das coisas era produzida para
ser usada, não para ser vendida. Certamente, existia o comércio, pois o
desenvolvimento das forças produtivas, sob a nova forma da propriedade privada,
permitia a produção de um excedente bastante grande. Mas, mesmo o objetivo da
troca, nesse período, era a compra e venda de mercadorias e não a acumulação de
dinheiro. Conforme a clássica fórmula de Marx: M-D-M
(Mercadoria-Dinheiro-Mercadoria). O dinheiro era apenas um meio para facilitar
o intercâmbio de mercadorias.
Em resumo: não era o mercado que dominava a produção.
Como já disse, a produção estava voltada para o atendimento das necessidades
humanas – numa sociedade de classes, é claro, - e não para a acumulação de
riqueza.
3. Um novo
mercado: capitalista
Ao longo do feudalismo, as coisas foram mudando.
Como se sabe, o feudalismo era um sistema de feudos, isto é, de grandes
extensões de terras, doadas pelo rei aos nobres. Deles fazia parte, além dos
nobres e sua corte, um determinado número de servos e camponeses. Cada feudo produzia
praticamente tudo o que consumia. Ao contrário dos escravos, para os quais o
aumento da produção não resultava em melhoria de vida, os servos e camponeses
tinham interesse em aumentar a produção, pois isto significava, também para
eles, alguma melhoria. Com isso, aos poucos, os feudos foram produzindo mais do
que era consumido. A partir daí, em determinadas localidades foram sendo
organizadas feiras para comercializar os excedentes. Além disso, também foi intensificado
o comércio com o Oriente. Lembremos que o feudalismo começou por volta do
século 4 D.C., com a derrocada do escravismo. No entanto, foi apenas a partir
dos séculos 11/12 em diante que estas feiras e este comércio se intensificaram.
Deste modo, foi sendo gerada, no interior do
sistema feudal, uma grande quantidade de dinheiro, que resultava da compra e
venda de mercadorias. Era o chamado capital mercantil. Comerciantes
(burgueses), interessados em atender a crescente demanda por novos produtos, começaram
a investir esse capital na produção e não apenas na compra e venda de mercadorias.
Mas, o investimento na produção necessitava de uma mercadoria que ainda não
existia – a força de trabalho livre. Foi, então que, tendo à frente a
Inglaterra, começou a expulsão dos servos e camponeses das terras, nas quais
trabalhavam, para darem lugar a grandes pastagens para a criação de gado,
especialmente ovelhas, produtoras de lã. A maioria deles se transformou em
força de trabalho livre, isto é, em uma mercadoria – força de trabalho – para
ser vendida a quem interessasse e pudesse comprar.
O encontro do capital mercantil com a força de
trabalho livre foi o lançamento da pedra fundamental do capitalismo, do mercado
como regulador da produção econômica e, por consequência, de toda a vida
social.
Para compreender o que é o mercado – capitalista –
é preciso entender o que é e como se produz o capital.
Como dissemos, com a articulação entre força de
trabalho livre e capital mercantil nasce uma forma inteiramente nova de
produzir a riqueza. Trabalhador e capitalista fazem um contrato (não necessariamente
escrito e/ou legalizado). Mediante esse contrato, o trabalhador se compromete a
trabalhar determinada quantidade de horas para o capitalista. Este, por sua
vez, se compromete a pagar ao trabalhador um determinado salário. Todas as
mercadorias produzidas, inclusive aquela que ele comprou do trabalhador – a
força de trabalho – pertencem ao capitalista. Por sorte do capitalista e
infelicidade do trabalhador, ao longo dessa jornada de trabalho, o trabalhador
produz muito mais do que seria necessário para pagar o seu salário. Essa parte
que sobra é a chamada mais-valia e também pertence ao capitalista. Esta é a
forma capitalista de produzir riqueza. Tudo se transforma em mercadoria,
inclusive o próprio trabalhador.
Mas, agora, o objetivo do capitalista não é
produzir coisas para serem usadas, mas para gerar lucro. Conforme a nova
fórmula de Marx: D-M-D' (Dinheiro – Mercadoria – Dinheiro') O símbolo, junto ao
último D, expressa o fato de que o objetivo não é apenas resgatar o dinheiro investido
na compra da mercadoria, mas aumentar a sua quantidade. Capitalismo implica, necessariamente,
o aumento do valor investido. Neste processo, o valor de uso, isto é, a
produção para atender as necessidades das pessoas, fica subordinado ao valor de
troca, aquele que tem por fim ter lucro. Certamente, o que é produzido tem que
ter alguma utilidade para alguém. Porém, o mais importante é que ele gere
lucro. Se não gerar lucro, não será produzido, mesmo que haja pessoas que
necessitem de determinada coisa.
Milhares de coisas são produzidas por milhares de
empresas. Como a produção não é planejada antecipadamente para atender as
necessidades humanas, mas para gerar lucro, o produtor terá que levá-las ao
mercado para saber se há interesse por elas. Mas, as mercadorias são muito diferentes.
Como fixar o preço delas? Como comparar coisas tão diferentes? Quantos sacos de
trigo seriam necessários para comprar uma geladeira? Deveria haver algo de
comum entre todas as mercadorias para que a troca pudesse se realizar.
Aprofundando conhecimentos elaborados por outros autores, Marx descobriu que o
que possibilita essa comparação é o tempo de trabalho socialmente – não
individualmente – necessário para a produção de cada coisa. O tempo de trabalho
socialmente necessário para produzir uma mercadoria é a medida do valor dela e
é ele que permite fixar o seu preço. Essa é a lei mais importante do sistema
capitalista, a lei do valor. Cada mercadoria tem um determinado custo para ser
produzida, isto é, o dispêndio de determinada quantidade de energia física e
mental. O preço dela será fixado em relação a esse custo, podendo oscilar para
baixo ou para cima, dependendo de outras circunstâncias, como a concorrência
entre capitalistas, a lei da oferta e da procura, etc.
Termina na próxima quinta-feira
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