"Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado, para podermos caminhar juntos."
(Provérbio Ute)
Existem
muitos mundo no mundo, porém, o imprescindível ainda precisa ser criado. As duas postagens mais recentes falam sobre alguns dos existentes: o real, em versões para
dois outros tipos de mundo – o esportivo e o corporativo -, e também sobre o
imprescindível que ainda precisa ser criado: o ideal. Mundo ideal cuja dificuldade
de criação aumentou tremendamente após o surgimento de um mundo que Thiago de Aragão, mestre em relações internacionais pela Universidade
Johns Hopkins/SAIS, pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais
e Estratégicas, classificou como uma cilada na qual caiu a autodenominada
espécie inteligente do universo. Que mundo é esse? O mundo
virtual.
O texto de Thiago de Aragão reproduzido a seguir foi
encontrado no endereço
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/05/07/interna-brasil,754374/artigo-a-cilada-do-mundo-virtual.shtml, e no meu entender, deveria nos dar
muito que pensar.
A cilada do mundo virtual
Hoje
o mundo real é um mero apoiador do mundo virtual. Surgiram heróis, vilões,
vândalos no mundo virtual que na realidade não passam de pessoas inseguras,
desinteressantes e muitas vezes bobas
O mundo virtual
surgiu para apoiar e melhorar a nossa capacidade de viver no mundo real. Tornou
conhecimento acessível, distribuiu experiências e nos fez enxergar um mundo que
não conhecíamos. Com o passar dos anos, os papéis se inverteram. Hoje o mundo
real é um mero apoiador do mundo virtual. Surgiram heróis, vilões, vândalos no
mundo virtual que na realidade não passam de pessoas inseguras,
desinteressantes e muitas vezes bobas.
Primeiro foi a influência na vida social. Inúmeras
pessoas buscavam simular nas redes sociais uma vida que apenas sonhavam ter na
realidade. O Facebook se mostrou notório em exibir pessoas em constantes
estados de felicidade, riqueza, confiança e tranquilidade. A realidade, mesmo
sendo diariamente bombardeada pelos problemas comuns que a vida oferece,
permanecia independente do que era exibido virtualmente.
A busca pela validação instantânea, que na vida real é
mais rara e complexa, ocorre na forma de singelos likes, compartilhamentos e
comentários. Essa validação é agradável até para a mais confiante das pessoas.
No entanto, ela se tornou indispensável para aqueles que possuem inúmeros
complexos sobre si mesmos e se digladiam diariamente com a falta de autoestima.
Essa validação instantânea levou muitas pessoas a consumir produtos unicamente
para serem exibidos virtualmente e não necessariamente desfrutados na vida
real. Demonstrar que toma bebidas caras, usa tênis da moda, viaja para lugares
exóticos e apenas surfa na vida passou a motivar o dia a dia de muita gente.
Rapidamente, essa
realidade alternativa de aparências e simulações da realidade entrou no mundo
da política. Certamente, como instrumento de comunicação, as redes sociais
representam um enorme avanço. O problema se torna grande quando a realidade
enxergada e preferida do eleitor passa a ser a virtual e não a real. Assim,
mesmo com a realidade exibindo problemas graves, o mundo virtual isola certos
problemas históricos e limpa temas antes notoriamente ruins, de uma forma que
agora parecem corretos ou bons.
A escolha sobre o
que ver, o que acompanhar e o que curtir no mundo virtual torna qualquer coisa
medíocre em excelente, qualquer coisa ruim em inexistente e qualquer coisa boa
em épica. Mais que isso, o mundo virtual possibilita a propagação de inimigos
também virtuais.
Assim, um herói pode alegar que existe um problema a ser
combatido, exemplificá-lo de forma manipulada no mundo virtual e iniciar o
processo de combate a esse problema também no mundo virtual. Enquanto isso, por
exemplo, a realidade pode apresentar algo completamente diferente e
infinitamente menos grave.
Em redes sociais um caso filmado pode facilmente ser
etiquetado como a generalidade que você não percebia. Uma foto pode ser
etiquetada como a norma do mal que você ingenuamente não compreendia. O
contrário também ocorre. Uma pequena decisão corriqueira pode ser etiquetada
como inédita e de valor inestimável. A valorização do ser comum no mundo real
passa a ser desproporcional no mundo virtual, transformando medíocres em
gênios, bobos, em anticristos, e reais problemas, sem valor virtual.
Enquanto acreditarmos mais no que se passa virtualmente
do que na realidade, estaremos nos distanciando da sensatez e cultivando
fantasias. Esse mundo virtual já propagou loucuras sobre vacinas, idiotices
sobre mudanças climáticas, terraplanismo, conspirações, entre outras coisas.
Devemos voltar às origens e nos darmos mais valor, buscando conhecimento,
aprendendo e vivendo na realidade, cientes de que ser uma pessoa melhor não é
apenas seguir e ser seguido.
*************
"Devemos voltar às origens e nos darmos mais valor,
buscando conhecimento, aprendendo e vivendo na realidade, cientes de que ser
uma pessoa melhor não é apenas seguir e ser seguido.", diz a frase final
do excelente texto de Thiago de Aragão. Frase que faz-me voltar às origens e começar
a encerrar esta postagem repetindo o provérbio Ute usado em seu início.
"Não ande atrás de mim, talvez eu não saiba liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado, para podermos caminhar juntos."
Estar
cientes de que ser uma pessoa melhor não é apenas seguir e ser seguido, diz
Thiago de Aragão. Estar cientes de que, em conformidade com o que é dito no
provérbio Ute, criar um mundo melhor, ou seja, criar o mundo ideal, não será
conseguido andando atrás ou na frente de alguém, e sim andando ao lado dos
demais, para podermos caminhar juntos na direção e no sentido de um mundo de
harmonia e de paz, digo eu, encerrando esta postagem. Uma postagem que alerta-nos
sobre uma cilada na qual caímos e que para dela sairmos exigirá imprescindíveis
esforços da parte de todos nós. Compreendido?
Nenhum comentário:
Postar um comentário